The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulf

Chapter LVI

Episode: cannot be long hidden

Mew franziu a testa, confuso com a saída repentina e agitada do jovem professor.

Ele encarou a porta entreaberta que o outro deixou para trás, soltando um suspiro cansado para o alvoroço imprevisível do rapaz. Kanawut parecia apreensivo e quase assustado. Havia saído do quarto sem sequer lançar um olhar ao mais velho, abrindo a porta com suas mãos ansiosas e dedos trêmulos. O músico, por outro lado, apenas ficou quieto em seu lugar, confortavelmente sentado na cama macia e tentando não se abalar com mais um momento de confusão consequente das atitudes inesperadas do jovem professor.

Aquilo era normal, ele pensou consigo mesmo. Embora, em um milésimo de segundo após esse pensamento, tenha se censurado por normalizar o que não deveria ser normalizado.

Contudo, sem poder fazer muita coisa em relação a complexidade de Gulf Kanawut - pois sabia que forçar uma conversa naquele momento certamente os levaria a um ponto de confronto desnecessário - o músico apenas inspirou profundamente, com o desejo de poder sentar-se em frente a um piano e despejar todo o caos, que dançava por sua mente, em cima das teclas. Transformar todo seu receio e insegurança em melodias intensas e firmes.

Infelizmente, a menor ideia de perseguir o azul - que antes o trazia paz e o ajudava a equilibrar seu estado mental- agora o deixava ansioso e frustrado. Porque, quando pensava naquilo, Suppasit percebia que não queria ouvir aquela cor nos sons de seu piano. Não queria ouvi-las vindo de qualquer outro instrumento que não fosse a voz daquele que ocupava todos seus pensamentos.

Ele queria ouvir o azul suave de Gulf.
Queria ouvi-lo na delicadeza de sua timidez. No chiado da sua respiração vacilante. No tom da sua cantoria hesitante. Na curva do canto de sua boca, que sempre arqueava quando ele formava algumas palavras. Suppasit queria somente fechar os olhos e deleitar-se com o fluir ondulatório do azul que acompanhava o sussurro cantado em seu ouvido.

Ele queria tanto que, as vezes, começava a sentir necessidade.

Necessidade em ouvir mais um vez. Talvez duas. Talvez três.

Talvez por um tempo que não podia ser contado.

- Eu vou ficar maluco - o músico murmurou em voz baixa para si mesmo, passando a mão pelos cabelos desgrenhados, enquanto encarava a bagunça de lençóis ao seu redor.

Ouviu sussurros vindo do andar de baixo, os quais o tirou dos próprios pensamentos tempestuosos, e franziu a testa ao reparar distantemente que elas pareciam vagamente alteradas. Murmúrios que oscilavam entre mal serem ouvidos e um cochicho que poderia ser confundido com uma briga entre sussurros. Mew concentrou-se no burburinho, mas, apesar de captar perfeitamente os tons de vozes, não conseguiu distinguir gênero, reconhecer quem eram os seus donos ou compreender alguma palavra que era falada - menos ainda o contexto que poderia estar se desenrolando.

Ele não pensou muito profundamente quando levantou-se da cama e vasculhou o armário do mais novo em busca de algo rápido e confortável para vestir-se. Não planejava intrometer-se nos assuntos pessoais do jovem professor, mas julgou ser uma boa ideia conferir se tudo estava bem e retornar para o quarto sem ser visto.

E, tendo em mente que não iria intrometer-se nos assuntos particulares do mais novo, sequer conjecturou colocar uma roupa apresentável, então apenas vestiu-se com um short - o qual definitivamente era minúsculo demais para ele, mas não o suficiente para que se importasse - e saiu do quarto preguiçosamente.

Seus pés descalços quase não faziam barulho na cerâmica fria do piso, mas ele garantiu que seu andar seria de uma lentidão calculada, para que não houvesse risco de ter sua presença revelada. E, a cada degrau que descia, mais conseguia ouvir as vozes, tendo a certeza de que não estava errado em relação ao tom alterado da conversa.