Chapter LXI

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Episode: not colors anymore

Kanawut piscou, encarando a imagem de desalinho que o fitava de volta. Havia se levantando para usar o banheiro e jogar um pouco de água no rosto, mas quando inevitavelmente seus olhos pousaram no espelho acima da pia, obrigando-o a enxergar o quanto seus traços pareciam esqueléticos e patéticos, sentiu o nó da sua garganta torcer mais uma vez. Ele não achava que havia emagrecido em tão pouco tempo, afinal passaram-se apenas alguns poucos dias, então talvez sua imagem nem fosse tão miserável quanto via no reflexo, talvez fosse somente sua alma expondo o quanto ele era feio por dentro.

Os olhos inchados e com olheiras profundas, as linhas de expressão, a pele pálida e opaca. Sua aparência era um retrato das suas cicatrizes deformadas. Uma silhueta que não passava de um amontoado de pedaços mal encaixados.

O jovem professor desviou o olhar de si mesmo, abaixando a cabeça e tomando uma respiração profunda ao passo que sentia novamente aquela nuvem densa planar em cima da sua mente. Não secou o rosto, nem as mãos, apenas saiu do banheiro com água pingando em sua pele, fazendo um arrepio correr por todo seu corpo quando o vento frio do ar-condicionado o atingiu.

Kanawut não tentou se aquecer, somente permaneceu parado no meio do quarto, encarando o cômodo vazio e escuro. Sua mente traiçoeira insistiu em fazê-lo relembrar das vezes em que o músico o esperava na cama, com o óculos de leitura e um sorriso suave e convidativo.

As lembranças eram como golpes contínuos que machucavam suas feridas expostas, fazendo-o recuar com passos para trás, incapaz de continuar naquele lugar.

Apesar da falta de iluminação, ele sabia que certamente já era dia. As cortinas apenas lhe davam a falsa impressão de que a noite estendia-se por horas a fio. Lhe dava o conforto de pensar que os dias não estavam passando, que a ausência de Mew não se tornava concreta a cada tic-tac ensurdecedor do relógio.

Ele caminhou, meio cambaleante, em direção a porta, franzindo os olhos com o incômodo da luz que alcançou seus olhos sensíveis. Gulf escutou o barulho da televisão ao fundo e, no automático, seguiu o som a procura da sua irmã.

Grace estava no sofá, com as pernas cruzadas, de moletom, parecendo distraída com o que parecia ser um reality show passando na tela da TV.

Gulf se aproximou devagar, com passos silenciosos.

– Ei – Ela exclamou ao notar sua chegada, rapidamente esticando a mão para pegar o controle e abaixar o volume do programa – Você desceu. Está com fome? Posso pedir algo pra gente comer.

Gulf negou com um aceno, sentando-se ao lado dela.

Houve um silêncio desconfortável e então, um segundo depois, as lágrimas do jovem professor começaram a cair novamente.

Elas pareciam nunca parar, nunca deixar de surgir de seus olhos a cada minuto que seus pensamentos o lembravam da realidade.

– Tá doendo, Grace – ele fungou, sentindo sua respiração falhar – E eu não sei como fazer parar.

Ele olhou para baixo, fitando as próprias mãos entrelaçadas e apoiadas em suas pernas. As unhas sem cores, mas com vestígios da última esmaltação. Gulf se sentia pequeno, com suas pernas encolhidas, seu peito doendo e a sensação de que não deveria estar ali. Não deveria existir.

Ouviu quando Grace lentamente se arrastou até o seu lado, passando cuidadosamente os braços por seus ombros e o puxando para um abraço confortador. As lágrimas caíram com mais força, mas ele permaneceu em silêncio.

– Gulfie... – ela sussurrou, com a cabeça encaixada em seus ombros.

O jovem professor se virou, aceitando o abraço e desfazendo o enlace de suas mãos para alcançar o moletom da irmã. Ele apertou o tecido com força, tentando se agarrar a ela e a segurança que a irmã sempre lhe trazia.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now