Chapter XXXI

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Episode: you are my religion

Gulf respirou suavemente e encarou o perfil de Mew.
Mordendo os lábios ao observar a curva da sua mandíbula, os cílios delicados, o nariz perfeitamente desenhado e até aquela pequena mecha de cabelo rebelde caindo em sua testa.

Ele se viu quase hipnotizado pela forma fascinante em que a luz alaranjada do fim de tarde dava um contraste quase angelical contra a pureza da sua pele.
Gulf não era alguém que perdia tempo discorrendo sobre beleza, nem se interessava por comparações poéticas ou baboseiras do tipo, mas seria estupidez fingir que não havia uma graciosidade quase etérea em observar-lo daquela perspectiva.
E, embora sua roupa fosse malditamente sem graça e seu cabelo necessitasse de um corte moderno, Mew conseguia transparecer elegância e serenidade.

Serenidade. Essa, sem dúvidas, era uma palavra apropriada para descrever qual a sensação de observar-lo. Sua gentileza e educação talvez pudesse ser uma máscara ou capa de proteção, mas aquela bondade em sua forma de olhar parecia genuína. Era calmo e quieto, como assistir um pôr do sol em uma praia deserta e fria, aquecidos por cobertores e músicas suaves.

Gulf piscou lentamente, desviando o rosto do músico. Ele apoiou a cabeça contra o assento do banco e olhou para além do horizonte, vendo a maré um pouco agitada e o vento frio invadir o veículo. Fechou os olhos brevemente e inspirou o aroma do ambiente, aquele cheiro característico da maresia, deixando que o vento acariciasse seu rosto por alguns segundos antes de subir um pouco o vidro da janela por sentir a pele arrepiar com a súbita frieza.

Contudo, apesar da aparente calmaria, Kanawut sentia-se agitado. Sua cabeça parecia rodar em um caótico universo de pensamentos. Seu receios, lembranças, medos e egoísmos juntos em uma desordem que ele perdera a capacidade de controlar.

Ele suspirou pesadamente, reabrindo os olhos e voltando a encarar o músico.
Dessa vez, limitando-se a observar-lo conduzir o volante. A manga da camisa arregaçada até seus antebraços, os músculos se movendo a cada mínimo movimento.
Mew dirigia usando apenas uma das mãos, deixando a outra apoiada na janela e as vezes usando-a para apoiar a cabeça.

Gulf franziu a testa, piscando rapidamente e se obrigando a desviar o olhar mais uma vez.

Perigoso.
Ele estava seguindo um caminho perigoso e sinuoso, repleto de cacos de vidros e monstros nas esquinas. Cheio de escuridão e sussurros saídos de poços profundos.

Gulf estava assinando uma sentença. E, mesmo tendo tal consciência, ele rabiscou seu nome com o próprio sangue no fim dessa folha e se condenou - e condenou ao músico - por puro egoísmo.

Ele gostaria de ser melhor, gostaria de fazer a coisa certa.
Mas ele queria ainda mais a oportunidade de ter Mew por um breve período.

E talvez esse fosse o grande ponto em questão.
Sua incapacidade de não o querer.
De resistir.

Por um instante, ele teve a ousadia de pensar na possibilidade de que talvez Mew pudesse entender. Que talvez Mew não o achasse alguém desprezível caso soubesse de seus pecados.

Porém, o pensamento não durou um ligeiro milésimo de segundo.

Se nem ele próprio era capaz de se olhar no espelho sem sentir nojo, porque outra pessoa o faria? Porque Mew Suppasit o faria?

Respirando profundamente, e lançando um último olhar para o músico, Gulf virou-se para apreciar o centro de Bluebird aparecer a alguns metros.
Ele nunca admitira em voz alta, mas achava o lugar realmente bonito, ainda que fosse muito pitoresco e melancólico de se observar. Contudo, as ruas bem planejadas e as casas com suas gramas verdes, conseguia dar a ilha certo grau de beleza.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum