Chapter XLVI

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Episode: some place to call home

- Tem certeza? - Mew perguntou, com um leve tom hesitante vazando em sua voz.

Estavam dentro do carro desligado, em frente a casa do jovem professor, após terem acordados juntos pela manhã e Gulf ter decidido que não poderia ficar na casa do mais velho aquele final de semana. Suppasit parecia relutante, com as mãos apoiadas no volante e uma expressão questionadora, encarando o mais novo com um vinco suave entre seus olhos.

Gulf, por outro lado, tentou arduamente não dar atenção ao nó que se formou em sua garganta ao ver a expressão desanimada do músico. Somente fechou brevemente os olhos, antes de criar coragem para virar a cabeça e o encarar.

Kanawut tinha o sentimento de culpa como hábito. Aprendera a lidar com ela da pior forma, tinha plena consciência disso, preferindo ceder a raiva e irritação. A tratar todos da pior forma possível, porque isso lhe dava uma ideia distorcida da realidade que merecia.

Se ele não se achava merecedor de perdão, então porque agir como alguém arrependido?

Afinal, se essa vida fosse um conto de fadas, Kanawut seria o vilão.

Então ele vestiu esse papel, cobriu seu corpo com a capa pesada da consequência, e aceitou que seu destino era ser odiado. Ele deixou a raiva ser seu ponto de escape, deixou a falta de paciência e arrogância o salvar do quão pior seria aceitar que se arrependia, não se permitiu almejar redenção.

Contudo, aquela sensação de angústia, de melancolia que não podia ser mudada, era algo que fazia seu peito apertar de forma muito mais intensa.

Talvez fosse consequência do desejo.

Do desejo de ficar, quando sabia que deveria ir embora. Do desejo de calar, quando havia tanto a ser dito.

Do desejo de mudar, quando o passado não era mutável.

Kanawut desejou não precisar ir, não precisar deixar o músico sozinho depois da noite anterior, mas a vida arrancava cada um dos seus anseios com palavras cruéis que sussurrava no fundo da sua mente, lembrando-o dos motivos que o proibia ficar.

Ele sabia que precisava colocar limites, precisava lembrar a si mesmo - e a Mew - que não podiam se permitir levar-se pelo momento.

No entanto, encarando o mais velho atentamente, não sentia-se capaz de trata-lo com rispidez ou indiferença. Não depois de tê-lo dormindo – e confidenciando seus demônios – em seus braços.

Por isso, ao invés de revirar os olhos e mandar-lo a merda, o jovem rapaz somente engoliu seco e balançou a cabeça, assentindo.

- Tenho certeza. Eu realmente preciso cortar a grama - respondeu por fim, lançando um olhar para seu quintal completamente desarrumado. Com a grama alta e seca, alguns galhos jogados e a lata de lixo cheia de tralhas - E fazer uma faxina, provavelmente.

Mew seguiu seu olhar.

- Eu poss... - o músico tentou falar, mas foi interrompido imediatamente pelo jovem professor, que levantou a mão com uma careta impaciente.

Gulf sabia que ele ofereceria ajuda, conseguia reconhecer a forma que Mew parecia disposto a arranjar qualquer desculpa para permanecer do seu lado.

E aquilo era fodido pra caralho.

- Eu quero fazer sozinho - o jovem rapaz acrescentou com firmeza.

Suppasit piscou, decepcionado, mas não tentou insistir.

- Tudo bem. - ele respondeu com suavidade. Porque Mew sempre seria suave, não importava o quanto estivesse desapontado.

E, por novamente sentir-se mal ao ver que estava machucando o outro com seu óbvio distanciamento, Gulf desviou o olhar e ignorou o aperto em seu coração.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now