Chapter XVII

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Episode: 9 de abril.

A primeira vez que Mew Suppasit teve um vislumbre da cor azul, na música, fora em uma noite quente de verão. Não era nenhum dia especial, tampouco uma ocasião relevante. Seus pais dormiam e sua irmã ressonava baixinho na cama ao lado da sua. E tudo era silencioso, exceto a forma que ele respirava pesadamente por ter acordado de mais um pesadelo.

O músico recordava de como sua vida havia mudado consideravelmente naquela época. Fora quando começara suas sessões de terapia e aprendera a ser aberto sobre tudo o que havia acontecido. Lembrava claramente do alívio no rosto dos pais quando ele finalmente aceitou ir ao psicólogo para falar sobre o assunto.

No entanto, demorou anos até que ele pudesse falar sobre o que lhe assombrava nas noites escuras. Seus pais o encontrara diversas vezes em prantos ao acordar e sabiam que o garoto era aflingido por sonhos ruins, mas foram pacientes em esperar que ele estivesse pronto para falar.

Mew, mesmo em tenra idade, era alguém que se preocupava mais com aqueles que amava do que com seu próprio conforto.

Na vida adulta, olhando para trás, ele podia perceber o quão triste, e problemático, era a sua tendência de se responsabilizar pela felicidade da sua família. Mas a recordação do que sentia e o fazia agir daquela maneira, mesmo sendo apenas uma criança, era clara em sua mente; o medo absurdo de preocupar seus pais e se tornar um peso em suas vidas, de ser o responsável por desfazer o clima alegre da casa.
Ou tirar o sorriso da sua irmã.

Jom estava tão feliz, sorridente e alegre. Mew temia que se dissesse que ainda não conseguia dormir ou contasse de suas crises no meio da noite, faria com que toda a atenção voltasse para si e para sua saúde mental. E ele não queria que isso acontecesse, desejava apenas que sua pequena irmã continuasse feliz e satisfeita. Que seus pais não o vissem como um fardo pesado demais para carregar.

Mesmo depois de anos, quando pensava em suas decisões sendo apenas um criança, Mew não se arrependia de nada. Jom merecia ter a infância pura, alegre e inocente que ele nunca teve, merecia largos sorrisos e festas espalhafatosas com muitas crianças para fazer amizade. Mew nunca se importou em se colocar de lado para que ela sorrisse.

E não era como se seus pais não o dessem atenção, pois eles davam.
Sempre fora ele que mantinha uma linha firme entre eles. Mew queria proteger a irmã, mesmo que mais tarde isso não fosse o suficiente, pois seu passado eventualmente voltara para os assombrar.

Ademais, fora naquela noite de verão, quando ele havia acabado de acordar após ser atormentando por um desses pesadelos, e se levantou ofegante no meio da madrugada, tentando usar a técnica de respiração que seu terapeuta lhe havia ensinado para quando tivesse suas crises de pânico, que ele saiu do quarto cautelosamente e foi até a sala da grande casa.

Mew sabia que deveria chamar seus pais nessas horas, o terapeuta dissera isso. Mas o garoto sempre se esforçava para esconder tudo, o que nem sempre funcionava, visto que seus pais sempre pareciam notar.

Mew amava seus pais, eles o haviam salvado, mas o pequeno não conseguia confiar neles a ponto de permitir que carregassem suas dores. De falar sobre o que realmente importava. Mew podia falar sobre tudo que passou, com detalhes, mas não podia falar sobre o que sentiu.

E, quando seus pais não tinham sucesso em fazê-lo falar, pediam que ao menos falasse com o doutor.

- Confie em mim, Mew - o homem dizia durante suas sessões - quero apenas te ajudar.

Mas, quando ele dizia tais coisas, Mew só conseguia pensar que o bigode do doutor era igual ao dele. Que a melodia ambiente era de um verde musgo repulsivo e o lembrava da cor daquele quarto. Mew odiava como a voz do terapeuta soava, odiava ficar em sua presença, então apenas se mantinha calado, falando ocasionalmente sobre alguns acontecimentos. Mas sempre sem expressar seus sentimentos reais e seus medos.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfМесто, где живут истории. Откройте их для себя