Chapter V

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Episode: Dispnéia.

A sensação de se afogar era desesperadora.

O momento inicial em que você começa a perceber que seus pulmões estão carecendo de ar. Essa necessidade aumentando gradativamente a ponto de chegar em um estado que lhe causa um desespero angustiante e cheio de agonia.

E então, imerso nessa onda de aflição, você inicia um movimento alvoroçado com seus braços e pernas, instintivamente em busca da superfície onde irá poder encontrar o oxigênio que seu organismo tanto te implora. O tormento desesperador e a inquietude incontrolável é tanta que dispara adrenalina em suas veias e te impende de pensar racionalmente, porque você não consegue lembrar que o movimento excessivo pode piorar sua situação.

Até que finalmente a necessidade de ar chega a insanidade e, infelizmente, você perde controle de si mesmo. Das suas decisões. Seu corpo lhe obrigando a aspirar mesmo dentro d'água.

E então, num último lapso de consciência, você sabe que é seu fim. Você sabe que não há salvação. Que é melhor apenas se entregar.

Era assim que Mew se sentia em seus pesadelos. Como se estivesse afogando. Ele sentia o desespero, a insanidade e a necessidade de ar. E apenas quando ele finalmente cedia e tragava o ar, dentro da água, conseguia por fim acordar.

O problema é que, quando despertava, ele se sentia preso naquela breve sensação antes da perda de consciência. Quando você inspira todo o líquido, em busca de ar, e desiste de lutar. Quando você ainda tem um pouco de noção de realidade, mas percebe que não tem mais força e apenas esta ali, submerso em água e sem ninguém para lhe puxar.

E quando acordou, pela milésima vez, de mais um desses pesadelos, sentindo sua respiração ofegante, sua mente distante e apática, mal teve forças para abrir os olhos. Tendo que lentamente se habituar ao fato de que estava em sua cama, deitado sob seu travesseiro, e não se afogando em suas lembranças.

Ele respirou fundo, na tentativa inútil de apagar as memórias recentes em sua mente, e então abriu os olhos para checar a hora. Notando que já era manhã da segunda feira e ele precisaria sair de casa para trabalhar.

Não que fosse um problema, Mew já havia perdido as contas de quantas vezes teve que ir para escola, ou qualquer outro lugar, naquele estado. E o dia sempre corria perfeitamente bem, ninguém nunca notava sua apatia.

Ainda um pouco fora de si, ele esticou a mão para pegar seu telefone e procurou o número da única pessoa que ele costumava conversar sobre esse assunto, a única que sabia de cada detalhe e o fazia se sentir acolhido.

Ele fez a ligação e teve que esperar a voz feminina e robótica da operadora avisar que a ligação estava sendo direcionada a caixa postal.

– Ei, Jom – disse, sua voz rouca por ter acabado de acordar, mas meio dispersa por causa do pesadelo – Fui visitar mamãe e papai ontem e lembrei de nossas brincadeiras… – ele fez uma pausa, sabendo que não era para isso que havia ligado. Nem sequer entendia porque estava falando aquilo. Mas após uma respiração cansada ele disse em um sussurro: – Eu tive outro pesadelo – ele abaixou o tom de voz – Ele estava lá. – confidenciou – Foi como todas as outras vezes. Contudo, dessa vez foi silencioso, como se eu estivesse imerso em água e não pudesse escutar-lo. Tudo era silencioso e escuro. – Mew apoiou sua cabeça no travesseiro e olhou para o teto de gesso e tragou o ar com força – Eu só... – Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados – Desculpe… eu não deveria… – balançou a cabeça e concluiu rapidamente: – Sinto sua falta, ok? Te amo.

Ele encerrou a ligação e jogou o celular em cima da cama, preparando-se para se levantar e começar outra semana.

Outro dia, se corrigiu mentalmente, lembrando do conselho de seu psiquiatra sobre ele tentar viver apenas um dia de cada vez.

E naquele dia ele apenas precisava se concentrar em seu primeiro dia dando aula daquele ano letivo.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now