The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulf

Chapter XLIX

Episode: my demon

Havia uma criatura frente a Gulf Kanawut. Coberta por um véu negro, feita de sombras, com bocas oscilantes costuradas e olhos que pareciam cavidades profundas em seu rosto. Se é que o jovem professor podia chamar aquilo de rosto, visto que pareciam apenas sombras dispersas em forma humana.

A criatura se movia com o rapaz. Se ele levantasse os braços, então a criatura também o faria. Se cruzasse as pernas, a criatura o faria. Se respirasse profundamente, as sombras iriam oscilar numa tentativa de inspirar e expirar o ar.

Exceto a cabeça. Essa nunca movia-se de acordo com o jovem rapaz. Não importava o quanto tentasse desviar o rosto, a criatura continuava o encarando em silêncio. Sem tirar seus olhos – que não pareciam olhos – dele.

Frente a frente, sentados a menos de um metro de distância. A criatura e Gulf se encaravam.

O jovem professor tinha lágrimas nos olhos, soluçando em desespero. Seu peito parecia se fechar em um aperto dolorosos.

"Por que você continua voltando?" O rapaz indagou a criatura com a voz cortada, sentindo a forma que suas palavras soavam embargadas e imersas em tormento "Porque você não me deixa em paz?" Ele murmurou em súplica  "Foi só um erro. Eu não estava pensando direito. Eu não achava que fosse acabar daquele jeito! Eu só estava frustado."

A criatura não respondeu, apenas manteve seus olhos assustadores no rapaz.

Gulf chorou mais forte, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. "Não é justo" ele chorou "Não é justo ter que conviver com você." E então encarou a criatura de volta e gritou "Por que você não me deixa em paz?"

Silêncio.

Não houve resposta. A criatura não se moveu, não se compadeceu. A criatura não foi embora. Apenas ficou lá, frente a ele, como se fosse seu reflexo, assistindo-o chorar e se derramar no próprio sangue.

"Me desculpe" Kanawut gritou em desespero, quase implorando "Por favor me desculpe"

E, então, ele subitamente acordou ofegante na própria cama, tendo a consciência de que aquilo não passava de mais um de seus pesadelos. Apenas mais um dos sonhos abstratos e confusos que, no fundo, ele sabia exatamente o que significavam. Gulf sabia quem (o quê) a criatura representava.

Ele inspirou fundo, passando a mão pela testa suada e colocando o cabelo para trás.

Virou o rosto para o lado, encarando o músico que dormia profundamente em sua cama, e soltou o ar com cadência. O jovem professor estava ciente de que não deveria ter deixado-o ficar em sua casa depois daquele redemoinho de emoções no mirante, mas sentiu-se incapaz de passar a noite sozinho.

Sentiu-se impelido a ceder a própria vulnerabilidade, aceitando mais um vez agir de forma inconsequente. Porque precisava do conforto que encontrava naquilo que também o assombrava.

Por isso, permitiu que Mew entrasse em sua casa, quando ele estacionou na calçada e pareceu não querer ir embora. Permitiu que ficasse durante a noite. Permitiu que ele o beijasse até seu corpo esquentar. Permitiu que ele despisse suas roupas como se tirasse camadas da sua armadura. Permitiu que ele o adorasse com a gentileza que sempre lhe oferecia.

Gulf fechou os olhos brevemente, lembrando-se da sensação de ser beijado pelo outro. Da sensação das suas mãos acariciando o seu corpo com delicadeza e cuidado.

Não era só sexo, ele percebeu, cada vez que se deixavam levar pelo desejo que sentiam um pelo outro, não era apenas sexo.

Ele suspirou mais uma vez, finalmente sentindo sua respiração regular e seus batimentos acalmarem. Observou o peito do músico subir e descer lentamente em seu sono. O rosto tranquilo e os lábios rosados e finos, quase entreabertos, enquanto ele ressonava baixo.

Gulf respirou fundo e arrastou-se até ele, encolhendo-se em seus braços. E, mesmo em seu sono, Suppasit pareceu notar sua aproximação e o puxou para seu peito, abraçando-o com firmeza.

– Não era para ser assim – Gulf sussurrou de forma inaudível, sabendo que o músico não o escutaria – Me desculpe. Me desculpe por ser tão covarde e egoísta. Eu vou falar tudo, ok? Prometo que vou. Você merece saber.