Chapter XLVIII

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Epidose: point of view

– Eu queria saber dirigir – Gulf falou por cima da ventania. Seus olhos fechados e os cabelos dançando ao vento.

Ele parecia relaxado, confortável. Sem a tensão habitual em seu rosto, nem o desdém em sua voz. Mew sorriu fracamente ao fita-lo, desejando poder assisti-lo calmamente e sem pressa, mas sabendo que precisava retornar sua atenção para a estrada.

Porque, embora não estivesse, nem de longe, em uma velocidade realmente alta, sentia a necessidade de redobrar sua atenção ao volante por estar com o jovem professor como passageiro.

Suppasit virou o rosto mais um vez para o fitar, por um breve segundo, e sorriu largamente ao voltar seu olhar para frente.

– E o que faz você pensar que eu deixaria você dirigir esse carro? – provocou em resposta, também em voz alta para ser ouvido mesmo com o ruído forte do vento.

Ele viu, pela visão periférica, quando o mais novo virou o rosto em sua direção. Suppasit quase conseguia visualizar sua expressão surpresa e desdenhosa, o sorriso de lado e a sobrancelha arqueada para evidenciar sua admiração ao ver Mew provoca-lo tão naturalmente.

E, para provar seu ponto, Suppasit novamente tirou o olho da estrada rapidamente para observa-lo. Comprovando que, de fato, estava certo em sua imaginação. Gulf o olhava com um sorriso ladino, queixo erguido e uma expressão inabalável, desafiando-o silenciosamente.

– É claro que você deixaria – o rapaz ronronou docemente ao seu lado.

Mew apenas mordeu os lábios para evitar continuar sorrindo e afundou o pé no acelerador, maravilhando-se quando ouviu um assovio animado do jovem professor, seguido de uma risada contida, ao que sentiu a velocidade aumentar e o vento intensificar.

O músico provavelmente o ensinaria dirigir até mesmo em um dos seus conversíveis, se ele pedisse sorrindo daquela forma.

Eles não falaram muito durante o percurso, não se olharam ou fizeram das suas companhias algo gritante, mantendo-se em silêncio por todo o tempo. Todavia, dessa vez, era uma quietude confortável, em que Mew concentrava-se em dirigir, sentindo o motor do carro fluir em sua mão, e Gulf aproveitava a viagem com a animação de alguém que nunca havia andado em um carro daquele.

Apesar de poder passar todo o dia apenas dirigindo pela ilha, Mew achou que seria agradável fazer uma parada.

Havia um mirante que há tempos o músico não visitava. Era um lugar calmo e, por ser praticamente no meio do nada, pouquíssimo visitado, com uma vista para todo o litoral que estampava vários cartões postais de Bluebird. Era o ambiente perfeito para que pudessem passar um tempo juntos e talvez conversarem. Embora essa última parte deixasse um gosto amargo na boca do músico, pois tinha a sensação de que conversas poderiam trazer respostas que ele não sabia se estava preparado para ouvir.

Isso fez um embrulho espalhar por seus estômago. Porque Suppasit não costumava temer conversas, não costumava sentir-se receoso com a possibilidade de colocar as cartas na mesa.

Mas, se fosse sincero com seus pensamentos e sentimentos, teria que admitir que também jamais se envolveu com alguém como havia se envolvido com Gulf Kanawut.

Em certo momento, quando chegou a um trajeto da via em que não havia curvas ou outros carros em seu campo de visão, Suppasit diminuiu a velocidade e virou o rosto para encarar o jovem rapaz um pouco mais demoradamente.

Gulf havia voltado a fechar o olhos, deixando a cabeça inclinada para trás, com seus cabelos revoltos e a respiração cadenciada. Parecia tão sereno que, por um instante, achou que ele dormia. Porém, parecendo sentir o olhar do músico, ele abriu os olhos lentamente e o encarou por um segundo. Um segundo que pareceu durar horas.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now