Chapter XXXII

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Episode: deadly kiss

Mew sentiu seus pés descalços afundarem na grama gelada, estremecendo quando algo pontiagudo machucou sua pele e as folhas mostraram-se não tão macias quanto os livros descreviam, a frieza molhada sendo apenas um incomodo vazio e tênue, o qual ele não se importou.

Havia esquecido de pegar seus sapatos no alvoroço de tentar sair da casa, mas ignorou o fato quando finalmente avistou o jardim vazio e o céu repleto de nuvens escuras e densas, que gradativamente liberavam gotas de chuvas e as faziam escorrer pela pele sensível do pobre garoto.

Suppasit sabia que aquilo era apenas um sonho. Sentia-se como um telespectador assistindo a cena final de uma dramaturgia. Incapaz de impedir o que estava por vir. Incapaz de mudar o que o levara até ali.
E, mesmo em seu estado de sono profundo, mesmo sabendo em seu inconsciente que nada daquilo era real, que tudo estava preso no passado e não voltaria a acontecer, o músico ainda foi capaz de reconhecer e temer cada mínimo detalhe daquela casa puída e daquele quintal mal cuidado.
A familiar lata de lixo transbordando em um dos cantos - que no sonho era turva e quase imperceptível - o barulho estridente de fundo, o ruído quase inaudível de choro que vinha da sua irmã encolhida em seus braços.

Suppasit foi capaz de sentir novamente o coração palpitar e suas costas suarem, a aflição que o invadia, como tempestade em noites escuras, sua respiração desregular. Tudo. Ele sentia tudo. Foi capaz até de vivenciar novamente o medo.

Era verde e molhado, frio e cinzento.

Era como a ultima lágrima de um amante que perdia seu amor; como o apito constante em um hospital, avisando quando mais uma alma se desprende de um corpo.

Mas não houve fim para aquele sonho - embora ele soubesse com riqueza de detalhes tudo o que viria a seguir - a lembrança apenas se dissipou como uma névoa suave e irregular, sumindo dos seus olhos lentamente ao passo em que despertava com um sobressalto, sentindo a respiração ligeiramente irregular e o coração vagamente acelerado.

Suppasit elevou uma das mãos até o rosto para tirar o cabelo da testa, suspirando com dificuldade ao sentir a testa molhada de suor. Ele piscou pesadamente, encarando o quarto escuro e mordendo os lábios com força para se impedir de cair naquele redemoinho de inconsistências.

Ele sequer recordava-se qual fora a última vez que havia sido vítima dessas lembranças. Considerando que, mesmo sendo acostumado a noites sem tranquilidades, ele não era afetado por pesadelos como esse. Seus sonhos eram, na grande maioria, apenas abstratos, confusos e sem nexo. E, embora sempre descrevesse-os como estar se afogando, Mew realmente não saberia explicar o conteúdo deles. Era como assistir filmes de terror sem contexto, apenas a adrenalina e o pânico constante.

Apenas era difícil dormir.

Tragando o ar lentamente, Mew tentou não pensar nisso; deixou-se apenas despertar aos poucos, eventualmente tomando ciência do peso em cima do seu braço esquerdo e o calor atípico exalando do seu corpo. Ele virou o rosto suavemente para observar Gulf Kanawut dormindo profundamente ao seu lado, com a cabeça confortavelmente apoiada na curva do seu antebraço.

Ele tentou mover a mão, abrindo e fechando o punho, mas somente a sentiu formigar em dormência, então limitou-se a somente observa-lo quietamente. Não fazendo nenhum movimento para se afastar, mesmo em seu desconforto.

O jovem professor dormia de forma serena, como seus lábios inchados e entreabertos adoravelmente, seu cabelo bagunçado e a respiração suave. Mew fitou a pele da sua clavícula exposta e o lençol cobrindo seu torso, assistiu seu peito subir e descer com cadência, usando-o para manter o foco e regular a própria respiração.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now