The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulf

Chapter XXVIII

Episode: no control.

Gulf Kanawut sempre achou que a escuridão era um lugar onde ele pertencia, onde parecia apropriado ele estar. Mas, honestamente, esse achismo não fora algo que sempre esteve em sua mente, afinal, quando ainda era apenas uma criança, sempre corria para os braços da mãe quando acordava no meio da noite e seu quarto não passava de um breu. Isso não mudara muito ao decorrer dos anos, mesmo que na adolescência ele aprendera a lidar com o próprio medo. Fora apenas após tudo acontecer que, por algum motivo, começou a gostar de estar em lugares em que poderia dispor da completa ausência da luz. Sua terapeuta costumava dizer que isso era apenas um reflexo da sua necessidade de se auto punir. Gulf não pensava muito nisso, nem se importava se essa necessidade era algum tipo de mutilação bizarra.

Ele gostava da sensação. Gostava do vazio e da solidão, de como se sentia deprimente, arruinado e decadente. Apenas um resto apodrecido do que já fora no passado. Ele costumava se sentir menos desprezível nesses momentos; poderia ser até contraditório afirmar tal coisa, mas esses instantes eram uns dos únicos em que ele conseguia ter uma gota de empatia por si mesmo. Ele sentia pena do que havia se tornado, sentia pena do Gulf que fora antes.

Sentia tristeza pelo Gulf de antes, que nunca reconheceria quem ele havia se transformado.

Todavia, se recolher no seu quarto, apagando as luzes e fechando todas as cortinas, não o ajudou a dormir nas duas ultimas noites. Nem o ajudou a se ver como algo merecedor de pena. Ele não conseguiu desligar a mente, muito menos se desprender daquele pulsar no seu inconsciente que o lembrava a cada minuto de tudo o que ele gostaria de esquecer. E, pela milésima vez, desde que chegou naquela ilha, ele se perguntou o que estava fazendo ali. Se perguntou o que diabos tinha na cabeça quando permitiu se aproximar de Mew naquele nível.

Fora algo inocente de início. Gulf não planejara isso - mesmo que soasse como uma mentira deslavada - mas ele realmente não havia planejado, e nem esperado, que chegasse aquele ponto. Não era o que ele queria. Entretanto, era um fato inegável que, desde a primeira vez que viu o músico, Kanawut sentiu como se um imã o levasse em sua direção todo o tempo. E aquela atração, aquele magnetismo, apenas aumentava a cada minuto que se passava.

Mas Gulf tentou.

Realmente tentou.

Qualquer divindade existente poderia atestar o quanto ele tentou fazer Mew o odiar. Gulf foi rude, fez piadas mordazes e mostrou-se uma pessoa impossível de lidar. Mas, por algum motivo que ele nunca entenderia, Suppasit não se afastou ou pareceu se afetar com a péssima personalidade do garoto.

Não importava o quanto Gulf tentava, Mew simplesmente não se importava. Não se ofendia ou tentava manter distancia.

Kanawut sabia que deveria ter se afastado assim que notou que sua maneira de agir estava tendo o efeito oposto do esperado. Que, ao invés de causar irritação, acabou causando algum grau de fascinação.

O grande problema, no entanto, é que isso foi uma mão de via dupla.

Porque, a medida que Mew se fascinava pela personalidade explosiva, arrogante e difícil de Gulf, o jovem professor também se fascinava pela gentiliza, bondade e paciência do músico. E, talvez - apenas talvez - fosse exatamente aí que ele começara a ser egoista. Quando aceitou as caronas, quando aceitou as aulas de natação ou se permitia escutar as historias de Mew. Ele aceitou porque gostou de ter a oportunidade ouvir, gostou de ter a companhia de Mew e gostou da gentileza que ele lhe ofertava. Estar com Mew era a brincadeira mais maldosa que o universo fizera a ele, porque esses eram os únicos momentos que ele sentia-se vivo.

E, de alguma forma distorcida e problemática, estar com Mew o fazia permitir-se aceitar um vislumbre de felicidade.
Gulf sempre fora bom em fingir estar feliz e bem, mas era só quando estava perto de Mew que ele conseguia acreditar na própria mentira. Ele fechava os olhos e vivia naquela irrealidade fantasiosa que seus desejos mais profundos criavam.