The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulf

Chapter LX

Episode: the fall

Mew queria gritar.

Não literalmente. Ele não tinha nenhuma ânsia de verbalizar o desespero que corria por sua garganta, nem achava que seria capaz de pronunciar qualquer som quando sequer conseguia respirar com facilidade.

Era apenas o sentimento.

O sentimento de agonia que rastejava em sua pele como inseto peçonhento e que perfurava seus lábios com uma agulha velha e gasta, costurando sua boca e o impedindo de proferir qualquer pedido de socorro. O sentimento desesperador de tentar buscar uma forma de aliviar a dor que parecia consumir cada parte do seu corpo. Uma agonia que tomava conta de qualquer pensamento coerente que poderia ter.

Mew também não conseguia respirar. Em algum momento, entre a saída do hospital e a percepção de que estava longe o suficiente dele, seu pulmão inflou com dificuldade e se recusou a receber oxigênio, não importava o quanto o músico tentasse tragar o ar.

– Mew, por favor... – Mild havia exclamado em um fio de voz, parecendo desesperado em meio a sua preocupação com o amigo. – Onde devo te levar? – ele continuava falando, mas Mew sequer era capaz de dar atenção as palavras que ouvia do menor – Por favor, tente respirar... – Mild implorava – Eu deveria voltar para o hospital? Você não parece bem.

Hospital.

Não. Mew não queria voltar para lá. Não quando ainda sentia-se tão frágil e instável. Ele precisava de tempo, precisava se acalmar até conseguir reorganizar a mente e pensar com mais clareza. Mew não estava pronto para encarar Gulf naquele momento.

– Não. – o músico ordenou com a voz ofegante, embora também tenha soado com uma firmeza que não deixava espaço para contradições.

Mild deve ter falado algo, mas Suppasit apenas chiou com irritação e o calou. Não queria ouvir ninguém, desejava apenas tentar controlar todo aquele caos que estava bagunçando sua mente. Mew não se lembrava a última vez que sentiu-se tão fora de controle.

Era como um fervor subindo por sua espinha, esquentando todo seu interior com um sentimento assustador e abrasivo. Ele sequer sabia distinguir as vozes na sua cabeça das coisas que falava em voz alta.

Ele não chorou, porém. Não gritou ou deixou que o desespero se tornasse palavras. Mas não durou muito. Em certo momento, a linha que costurava seus lábios rasgou sua carne e libertou palavras diluídas em sangue. Fazendo-as respingar em cima de Mild.

As informações confusas e exasperadas, que não seguiram uma linha de raciocínio como Grace havia feito, apenas palavras encharcadas de pesar e medos.

Pronunciar toda confusão, com sua voz cortada e falhada, parecia ser a única coisa que conseguia o manter preso a realidade. A única coisa que o impedia de ceder ao caos que o puxava para baixo.

Ele sentiu como se o seu tempo boiando na superfície finalmente tivesse chegado ao fim.  Mew Suppasit estava perdendo o controle. Estava sendo sobrecarregado pelas cordas que subiam pelo seu corpo e o arrastava para o mais fundo daquela escuridão densa.

E havia uma voz.

Uma voz no fundo da sua mente.

Uma voz que soava exatamente como a dele. Como uma versão mais calma e lógica. Uma voz que o alertava sobre a crise de pânico e que ele precisava se concentrar em respirar ou acabaria perdendo a consciência. Uma voz que gritava a plenos pulmões que ele não podia deixar aquilo o fragilizar. Uma voz que tentava o trazer para a realidade e se recusava a deixá-lo cair num mar de sentimentos ruins. Uma voz que não admitiria vê-lo perder o controle e desistir. Uma voz gritando sobre como aquilo não era o fim. Que ele sobreviveria como todas as outras vezes.