Chapter LXXVIII

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Episode: you're my home

A crença numa felicidade absoluta e fantasiosa nunca foi ensinada ou incentivada a Gulf Kanawut. Seus pais, embora muito positivistas, seguiam o principio de que apresentar a vida da forma mais crua e real possível fazia-se necessário para um futuro equilibrado e satisfatório. Então, finais felizes de contos de fadas, era tratado como ponto a ser discutido, usados frequentemente para elucidar que, naquele contexto, a felicidade retratada referia-se apenas ao problema solucionado e não um prêmio de estado eterno. Um momento de regozijo jamais perpetuaria até o fim da vida.

Problemas vem e vão, batalhas sempre existirão, porque a vida era uma guerra entre o ser, o querer e o pensar. Vitórias deveriam ser celebradas, deveriam ser lembradas e revividas em nostalgia, mas tê-las não lhe resguardaria de novas pelejas.

Em virtude disto, ao pensar se havia, ou não, um proposito para existir, o jovem professor chegara a conclusão de que sobreviver ao infortúnio dos próprios medos, questionamentos e dores – sejam elas pessoais e individuas ou provindas do resultados de ações as quais não tem controle – era um estorvo que todos estavam fadados a carregar.

Entretanto, não obstante, houve um período em que afundou-se no devaneio de que alcançaria essa felicidade utópica quando realizasse seus maiores sonhos. Quando seus objetivos fossem alcançados.

Lembrava-se, por exemplo, do exato momento no qual desenhou mentalmente o cenário que retrataria essa idealização. Um quadro perfeitamente pintado para os sonhos de um menino que pouco conhecia da vida e não passava de um autor de falsas convicções.

Naquela época, havia assinado o contrato com James e estava exultante com a perspectiva de se tornar um jogador profissional em um futuro próximo. Tinha saído para comemorar com a família em um restaurante caro, com uma vista privilegiada para Empire State, a Brooklyn Bridge e a Manhattan Bridge, e chegara em casa ainda eufórico e cheio de energia.

Contudo, quando encontrou-se deitado na cama, depois de um banho quente para acalmar os ânimos, ele encarou um pôster torto, colado em sua parede, apenas um panfleto que roubara dias antes ao passar pela frente do teatro.

Mew Suppasit, O músico.

Ali, exatamente ali, nasceu um sonho que não perdurou por muito tempo.

Era engraçado, anos depois, vislumbrar aquele Gulf ingênuo sonhando com vitórias em campo e um namorado – um músico atraente que conheceu semanas antes do seu primeiro contrato assinado – que lhe assistiria da arquibancada, veria todas suas vitorias e o levaria a milhares de jantares românticos.

Naquela noite, tanto tempo atrás, ele tinha se permitido divagar sobre aquilo até pegar no sono.

Por um tempo, acreditou que os treinos exaustivos, os gritos abusivos, as abdicações que fizera em nome de ser o melhor, era o preço a se pagar para obter o alvo do seu desejo. Que, se fosse esforçado suficiente, iria torna-se merecedor daquela felicidade.

E, ainda que pudesse parecer uma obsessão preocupante, Gulf sempre soubera que não era daquela forma. Ele não era obcecado pelo músico. Não. Na maior parte do tempo sequer lembrava-se da existência dele, mas havia criado o hábito de sempre olhar as programações dos teatros que estivessem ao seu alcance. As vezes perto da sua casa, outras vezes em cidades vizinhas que calhava de coincidir com alguma viagem do mais novo.

Então, se o músico estivesse apresentando-se por perto e Gulf estivesse com agenda livre, iria assisti-lo.

E, com o passar dos anos, aquele hábito que inicialmente era apenas uma paixão platônica juvenil, transformou-se em um lembrete doloroso da realidade.
Era como se, enquanto o via tocar, o véu se seus olhos caísse e revelasse a ele a verdade que tanto tentava fugir.

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⏰ Last updated: Jun 18 ⏰

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The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now