c a p í t u l o ✿ 3 6

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de alguma forma

vamos sair dessa

(rock and roll)




Quando finalmente ouviu a porta do banheiro abrindo e fechando, indicando que Zoe foi embora como havia mandado, Bianca não sentiu o alívio que esperava. Mesmo finalmente podendo chorar alto e bater repetidas vezes com o punho no chão para extravasar, aquela sensação sufocante não ia embora.

Pior ainda era finalmente realizar que nada daquilo adiantava. Precisaria sair dali, da forma que fosse, para pelo menos avisar que não participaria da apresentação. Seu coração doeu imaginando o sorrisinho vitorioso que Nicole daria. Ela havia conseguido. Finalmente reduziu Bianca a...

— Bianca?! — A garota deu um pulo quando ouviu a voz estridente da irmã, seguida do estrondo da porta sendo aberta tão rápido que bateu contra a parede. — Bi, tá tudo bem?!

— Ela tá ali... — Ouviu também a voz de Zoe, num murmúrio inseguro. Então veio a compreensão: ela havia chamado sua irmã. Como Zoe sabia quem era Natalie?

— Bi? Mana? Tá tudo bem? — Natalie se aproximou e bateu delicadamente na porta. — Podemos conversar? Abre, por favor!

A irmã mais nova abriu a boca para falar, mas não encontrou uma resposta. Pedir que Natalie fosse embora não serviria de nada, porque ela não arredaria o pé até ter certeza de que Bianca estava bem. Respirou fundo várias vezes, tentando pelo menos controlar o choro e recuperar alguma dignidade antes de se levantar e abrir a porta.

Sequer conseguiu começar a se explicar e foi puxada para um abraço que lhe tirou ar dos pulmões. Natalie a apertou com força contra o peito, enquanto recitava uma bronca misturada com alívio sobre o quão preocupada estava. Bianca percebeu que Zoe e Esther também estavam no banheiro.

— Em nome de Deus, Bianca, o que aconteceu? — Natalie começou, afastando-a com um pouco de relutância. Seu tom estava anormalmente baixo, como se estivesse falando com um animalzinho e não quisesse assustá-lo.

— Eu não vou mais me apresentar, Natalie — murmurou, esperando do fundo do coração que aquilo servisse como resposta, mas com a certeza de que não seria o suficiente.

— Como assim, Bianca? — Esther deu um passo à frente, estendendo a mão para envolver a da cunhada. — Aconteceu alguma coisa? Sua professora falou algo?

Limpou as trilhas de lágrimas com as costas do braço, fungando várias vezes. Então seus olhos encontraram os de Zoe e se sentiu pior ainda pelo que estava prestes a dizer. Seu rosto esquentou de vergonha e murmurou tão baixo quanto possível:

— A minha roupa da apresentação não cabe em mim. — Abriu a boca várias vezes e suas mãos começaram a tremer enquanto buscava forças para colocar para fora a próxima frase: — Eu fui vestir e... O shorts rasgou.

Como se uma barragem tivesse rompido, as lágrimas voltavam como uma torrente. Falar aquelas palavras em voz alta era mil vezes pior e, ainda assim, não expressava nem metade do quão desajeitada e inadequada Bianca se sentia.

— Poxa Bi, você fala como se não tivesse uma irmã que é uma maga com uma agulha. — Esther tentou, abrindo um sorriso sincero.

— Isso, pode ficar calma. Eu arrumo! — Natalie insistiu, passando as mãos carinhosamente pelos cabelos presos em trancinhas de boxeadora que fizera mais cedo na irmã. — Antes, você precisa se acalmar para me ajudar a resolver. Consegue fazer isso? Me acompanha: respira... E inspira. Respira... E inspira.

CamelliaWhere stories live. Discover now