c a p í t u l o ✿ 4 5

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daquela vez eu sabia que não o faria parar

as noites eram frias, mas nós as deixávamos quente

(17)




Em contraste com o quarto de Emily, o de Daniel era exatamente como Bianca imaginava que seria, traduzindo perfeitamente o nerd playboy que ele era: um setup de jogos completo com três telas enormes e periféricos de última geração; nas prateleiras da escrivaninha, uma coleção de consoles desde os mais atuais até o Mega Drive e Super Nintendo (Bianca duvidava que ele realmente tivesse jogado qualquer coisa tão antiga); leds em roxo, azul e magenta coloriam todo o quarto, desde a mesa do computador até a cabeceira da cama. Mesmo com a luz principal ligada, Bianca se sentia numa distopia Cyberpunk.

Dentre as surpresas, estava a arrumação do quarto, maculada apenas pela camiseta e calça jeans que ele estava usando, jogadas sobre a cadeira do computador; a estante de livros lotada (aproximando-se para examinar, Bianca encontrou desde literatura infanto-juvenil até clássicos e livros de filosofia, e desejou muito saber quais ele já tinha lido); e as peças colecionáveis de aparência caríssima, como réplicas de armas de videogame ou action figures do tamanho do cachorro da sua irmã. Diferentemente do quarto de Emily, haviam poucas fotos à vista e a maioria era de Daniel com seu grupo de amigos, mas Bianca percebeu o retrato na mesa de cabeceira, onde os dois irmãos se abraçavam na frente do mar, com cerca de 10 ou 11 anos.

A parede oposta à cama era quase completamente ocupada por janelas amplas. Com as cortinas escancaradas, o quarto de Daniel tinha vista privilegiada para os fundos do condomínio, onde caminhos de pedra adentravam em um bosque de aparência eterna. Naquela noite, as nuvens cinzentas cobriam as estrelas, mas os pingos da chuva na janela refletiam as luzes e criavam um cintilar igualmente belo.

O quarto estava vazio, mas Bianca percebeu o vapor que escapava por baixo da porta fechada do banheiro e presumiu que Daniel ainda não havia saído. Imagine só, ter menos de 18 e um quarto com suíte!

Sinceramente? Respirou aliviada quando não encontrou velas acesas ou pétalas de flores espalhadas por aí. Quer dizer, definitivamente não era a cara de Daniel fazer isso e eles ainda eram só amigos, mas nos infinitos cenários que se passaram na sua cabeça nas últimas semanas, alguns lhe deixaram arrepiada de nervoso. Ficaria ainda mais pilhada se ele estivesse colocando muita expectativa naquilo e fosse algo completamente forçado.

Ainda assim, na sua cabeça, pretendia esperá-lo deitada na cama, numa pose que parecesse despretensiosa e ao mesmo tempo sensual, talvez com a alça do pijama propositalmente caída. Fingiria estar muito distraída com seu celular por alguns segundos, até finalmente dirigir seu olhar provocante para ele e perguntar: "por que demorou tanto?" com um sorrisinho que o quebrava.

Mas bastou entrar naquele cômodo enorme para o nervosismo voltar com tudo. Não se sentia mais sensual ou confiante, apenas uma adolescente inexperiente que não sabia muito bem o que fazer. Será que pareceria que estava tentando demais se o esperasse deitada na cama? Mas em pé como estava, no meio do quarto, ficaria completamente desajeitada. Engoliu em seco, sentindo as mãos suarem. Será que ele sairia do banheiro e já agarraria ela? Porque ela definitivamente não estava pronta para começar assim. Minha nossa, ele não sairia de lá pelado, né?!

Bianca teve tempo apenas de dar uma rápida fuçada no quarto enquanto enfrentava 38 crises diferentes, antes de ouvir a tranca do banheiro abrindo. Completamente nervosa, correu para pelo menos sentar na cama, mas provavelmente a sua postura exageradamente ereta não ajudava em nada a disfarçar o quão sem graça estava.

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