c a p í t u l o ✿ 6 4

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tenho uma nova cura para a solidão

(give you what you like)




Naquela manhã, Daniel pensou em não ir à festa.

Agora, estirado entre seus amigos no sofá que arrastaram para o quintal, embriagado demais para fazer qualquer coisa além de encarar a lua e tentar não morrer, começava a achar que estava certo.

Dizer que sua semana fora ruim seria um eufemismo.

Para começar, desde o final de semana passado, ver Bellini ou Bianca era o suficiente para deixar seu coração a ponto de explodir. Então, inevitavelmente acabava lembrando da conversa com Zoe e da crise de ansiedade que havia lhe desencadeado, quando passou a madrugada lutando contra as lágrimas, tentando entender o que diabos ele tinha feito para merecer aquela vida.

Mas esses ainda eram problemas regulares. Do tipo que ele estava acostumado, coisa que chamaria de "apenas uma semana normal".

Riu sozinho, soltando ar pelo nariz, enquanto aceitava o bong de Twister para fumar mais um pouco. A festa havia começado há pouco mais de uma hora e ele já estava completamente acabado, mas quem sabe assim conseguisse esquecer que seus pais estavam prestes a se divorciar.

Recebeu a notícia por uma ligação da mãe naquela manhã, que aparentemente havia "descoberto" que seu pai tinha uma amante. Coisa que ela sempre soube (Daniel a ouviu berrar e desabafar com Leonora anos antes, quando ainda moravam na mesma casa), mas deliberadamente ignorava para "preservar a família". Pelo menos era isso que fazia quando seu grupo de amigas era composto por casais influentes que valorizavam esse tipo de estrutura familiar, mas desde que começou a andar com garotas com metade da sua idade, como aquela Chiara, todo o seu comportamento parecia ter mudado para se adequar.

Gostaria de dizer que estava pouco se fodendo para os seus pais, que os odiava tanto que nem ligava para o divórcio... mas estaria mentindo. Mario e Angela podiam ser ruins às vezes, e definitivamente não se gostavam de verdade há muito tempo, mas ele lembrava de dias mais fáceis. Quando ele, Emily e Leonora ainda eram crianças e seus pais os levavam para viagens em família onde todos passavam dias juntos, se divertindo...

Podia ser o maior idiota do mundo, mas no fundo ainda nutria esperança de que aqueles dias voltariam. Por isso, cada briga, cada vez que se afastavam... sempre doía tanto. Desde os onze anos ele sabia que era inevitável e que eventualmente todas as chances de reviver aquela alegria de infância evaporariam, mas não tornava menos desconcertante ver seu maior temor se concretizando.

A pior parte era que Emily ainda não sabia e ele não fazia de quando a mãe falaria para ela. Pensar que aquilo poderia arruinar a recuperação da irmã, que parecia genuinamente feliz pela primeira vez em muito tempo, lhe deixava fisicamente mal. Daniel não sabia o que seria capaz de fazer se tivesse de assistir seu relacionamento com ela se desfazendo de novo.

O outro problema que lhe assolava, significativamente menos grave, mas que nem por isso falhava em deixá-lo ansioso, era que havia recebido um e-mail (também naquela mesma manhã) convidando-o para um teste para a seleção de um time profissional de LOL. Aconteceria em duas semanas, porém ele estava completamente enferrujado graças à diminuição das idas na lan house para evitar encontrar com Bianca. Agora se sentia duplamente idiota por isso, porque poderia afetar suas chances de finalmente...

— Ô Daniboy, na moral, acho que você devia dar um tempo. — Ouviu a voz de VH e demorou alguns segundos até virar o rosto na direção dele. O amigo um pouco mais baixo estava sentado no apoio do sofá, os tênis caros sobre o estofado. Alguma música de três anos atrás estourava no sistema de som e eles precisavam gritar para se entender: — Tá chapando desde que chegamos, cara. Você vai cair morto antes da meia noite.

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