c a p í t u l o ✿ 6 0

2.1K 294 721
                                    

tudo o que eu quero é perder o controle

(smile)




Aquele estava sendo um dia bom para Henrique Bellini.

Ficou satisfeito com o que viu no espelho — a nova dieta para ganhar massa finalmente estava dando resultado; conseguiu um 9 na última prova de história, graças à ajuda de Daniel nos estudos; seus pais viajariam dali a dois finais de semana e ele teria a casa liberada para dar uma festa; e tinha tido uma boa ideia naquela tarde.

Leve como uma pluma, saiu com a toalha amarrada na cintura do banheiro comunitário — o idiota do Twister merecia um prêmio por queimar a resistência do chuveiro pela segunda vez naquele semestre —, mas passou reto pelo seu quarto, indiferente à trilha de pegadas molhadas que deixava no piso de madeira. Já eram passadas das 22:00 e o toque de recolher não permitia nenhuma menina no dormitório masculino naquele horário, então naturalmente ele já estava virado num zoológico. Desviou de uma bola de futebol americano arremessada por algum aluno e seguiu até a porta do quarto 108. Abriu sem bater.

Sem surpresas, encontrou o quarto que Daniel e Victor Hugo dividiam impecável, já que os dois eram igualmente insuportáveis com limpeza. Que bom que seus amigos malucos se davam tão bem, porque tinha sido um pesadelo dividir o quarto com o Nevou no primeiro ano (que ainda não tinha platinado o cabelo para encher o saco dos pais). Twister fedia um pouco à maconha, mas pelo menos não enchia seu saco quando ele esquecia de colocar as roupas para lavar e deixava uma pilha (perfeitamente controlada!) de camisetas pós-treino e cuecas usadas no canto do quarto — até porque, Twister normalmente também esquecia de colocar as próprias roupas para lavar.

— E aí, Nevou? — cumprimentou, apoiando o cotovelo no batente da porta.

Daniel estava deitado na sua cama (arrumada — quem diabos arrumava a cama sem que os preceptores mandassem?), jogando alguma coisa no Switch. Estava tão concentrado que demorou alguns segundos até virar em sua direção e murmurar um comprimento, voltando quase imediatamente a atenção para o jogo. Então parou e, como em uma cena de desenho animado, virou a cabeça de novo:

— Cara, cadê a sua roupa?

Bellini deu uma risada bem humorada.

— O idiota do Twister queimou a resistência do chuveiro — explicou, indiferente à cara ainda mais confusa que Daniel fez, já que aquilo não respondia à pergunta.

O dono do quarto deu de ombros e voltou a prestar atenção no jogo.

Bellini analisou o amigo por alguns segundos, percebendo como suas olheiras aparentavam estar mais escuras do que o normal. Ele tinha problemas para dormir desde que dividiam o quarto, e não parecia ter melhorado nos últimos tempos. Vivia convidando todos aqueles perdedores para malharem com ele, mas nenhum nunca mostrou muito interesse. Daniel bem que podia fazer bom proveito de algo que ajudasse a regular seu sono — e que não fosse ilegal, pra variar.

— Escuta, queria falar contigo — chamou, e esperou até que o platinado pausasse o jogo e mirasse os olhos azuis nele. — Você e a Bianca estão juntos?

Era inegável que Daniel pelo menos disfarçava bem os sentimentos: Bellini nem reparou na quase arritmia que a simples menção daquele nome causou.

— Ahn, não. — Ele engoliu a seco. — A gente é só amigo. Por que?

— É que eu tava querendo chamar ela para sair — explicou, sem saber que quase causou uma queda de pressão. — Entrou um filme de terror em cartaz lá no shopping e ela tinha falado que gostava. Você se importa?

CamelliaWhere stories live. Discover now