c a p í t u l o ✿ 5 6

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emoções não são tão difíceis de pedir emprestado

quando "amor" é uma palavra que você nunca aprendeu

(give you what you like)





Daniel estava estressado.

Mas não era de hoje. A última semana de férias provavelmente tinha sido a pior da sua vida e agora, finalmente de volta no internato para o último semestre de aulas, ele preferia estar em qualquer outro lugar do mundo ao invés da sua própria pele. Talvez até em lugar nenhum.

Poder ir embora daquele circo dos horrores que ele chamava de casa era um alívio, mas infelizmente não era eterno — e a lembrança de que, após aquele semestre, não havia mais para onde correr além de enfrentar (e decepcionar) todas as expectativas  que caíram sobre ele era completamente desestabilizante.

A verdade que ele simplesmente evitou encarar durante a maior parte do Ensino Médio, mas chegou como um soco na cara com as perguntas incessantes de Leonora e Bryan durante um jantar, era que ele não estava pensando em fazer faculdade. Não imediatamente, pelo menos. Não com uma urgência como se um ano "parado" fosse destruir qualquer possibilidade de ter um futuro.

Droga, ele mal conseguia pensar no assunto sem precisar inventar um monte de desculpas. Coisas para convencer a si mesmo, aos seus pais... Porque com toda a pressão de Mario Beaumont, ele também começava a se achar um vagabundo por ter planos diferentes do que os que esperavam dele. Não ajudava nada que na última semana o assunto de todas as refeições tivesse sido o seu futuro.

Ele só evitava pensar no assunto. Como fazia com a maioria das coisas que lhe afligiam: os problemas com a família, a confusão que era sua vida amorosa, suas inseguranças e o medo constante de que eventualmente até  os amigos não aguentassem mais suas recaídas e ele terminasse sozinho. Sempre afogava todos aqueles problemas na primeira forma que encontrasse de ficar chapado ou se afastava de todos em um episódio depressivo para só voltar a responder quando se sentisse minimamente melhor. Mas, com o final do último ano de Ensino Médio se aproximando, seu pai estava cada vez mais incisivo na cobrança, e Leonora e aquele imbecil do Bryan colocavam ainda mais pressão com perguntas e opiniões não requisitadas. Até que o fizeram inevitavelmente encarar a realidade de que ele não queria seguir nenhum dos caminhos que sua família achava ideal.

Ele não tinha nada contra fazer faculdade. Na verdade, até pensava em cursar Psicologia ou História algum dia (o que criava outra leva de problemas, visto que Angela sequer considerava História uma opção válida e "pra que fazer Psicologia se você pode fazer Medicina"?), mas seu sonho era outro.

As pessoas tinham preconceitos infundados com a ideia de jogar videogame profissionalmente, mas ele conhecia o suficiente para saber que era uma profissão válida como a de qualquer outro atleta. O mundo era diferente da época dos seus pais, ou da sua irmã mais velha, e havia milhares de caminhos novos para seguir. Ele tinha talento, disposição para treinar e um contato que facilitaria sua entrada naquele ambiente... era mesmo loucura lutar por aquele sonho? É claro que se chegasse lá e descobrisse que não teria futuro como jogador, não teria problema em fazer uma faculdade como o seu pai queria, mas precisava pelo menos tentar!

Daniel era acostumado a ficar calado durante as discussões familiares e ouvir quieto sobre como "não ligava para nada" ou "não tinha qualquer ambição", mas toda aquela pressão, em conjunto com a repercussão do seu último vídeo e o stress que estava sentindo nos últimos dias culminaram para que não aguentasse mais apenas ouvir as coisas em silêncio. Quando se deu conta, já tinha vomitado que não tinha interesse em começar a faculdade no ano seguinte.

CamelliaWhere stories live. Discover now