c a p í t u l o ✿ 6 5

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querida, nós dois sabemos

que as noites foram feitas principalmente

para dizer coisas que não se pode dizer no dia seguinte

(do i wanna know?)




Depois que bateu a porta, Bianca pisou duro até o meio do quarto e parou em frente à Daniel de braços cruzados:

— Que porra é essa?

Encarou aqueles olhos azuis familiares que pareciam enevoados. Ele estava parado bem a sua frente, obrigando-a a olhar para cima, mas seu corpo não parecia exatamente estável. Os cabelos estavam desgrenhados, da mesma maneira que suas roupas e a colcha da cama de Bellini, então Bianca soube que ele esteve deitado ali. Bebendo, provavelmente, pela garrafa de vodka pela metade que repousava na mesa de cabeceira.

— Que porra é essa digo eu — respondeu, e Bianca percebeu que também segurava aquela porcaria de vape na mão. Estava tão chapado que toda a sua fala parecia um pouco letárgica. — Pra que essa cena toda? Agora que já viram que eu tô vivo, podem me deixar sozinho?!

Bianca revirou os olhos, e ficou ainda mais nervosa com a petulância quando o viu dar as costas para ela e ir em direção à janela fumar. Quando a luz do exterior clareou seu rosto, ela notou os olhos inchados e vermelhos, mas nem isso a impediu de erguer o tom:

— Os seus amigos estão preocupados com você, Daniel!

— Valeu, mas eu não preciso de babá.

— Para de ser babaca! Você passou a festa inteira enchendo a cara, não falou direito com ninguém, aí se tranca aqui e não quer nem abrir a porta para verem como você está?! — Bianca desabafou, sentindo uma mistura conflitante de sentimentos. Durante toda a festa não conseguiu tirá-lo da cabeça e, agora que estavam juntos, só queria dar um jeito de descontar nele a frustração que sentia por tudo: — Talvez você precise sim de uma babá, já que está agindo que nem uma criança!

Os olhos de Daniel faiscaram para ela:

— E o que isso tem a ver com você?!

— Aparentemente bastante, se você tá fazendo esse fiasco porque eu fiquei com o Bellini! — Bianca soltou, sem pensar, apenas querendo tirar o peso da dúvida do peito.

Aquilo parecia tê-lo pego de surpresa, porque Daniel parou no caminho de levar o vape aos lábios. Logo a expressão se dissolveu para algo mais inflamado e ele caminhou na direção dela:

— Sério, Bianca?! — Deixou uma risada anasalada escapar. — Você acha que todos os meus problemas têm a ver com você?!

Ela vacilou um pouco, odiando a forma como aquilo soava.

— Foi o que o Victor Hugo me contou — argumentou, não querendo perder a postura. Independente do motivo, continuava brava por Daniel agir daquela forma. — Que você ficou mal desde aquele dia e...

— Eu fiquei mal, mas — ele admitiu, revirando os olhos. Então vacilou, os olhos arregalados como quem percebe que falou demais. Daniel bufou, e emendou: — mas não-

— Como se você tivesse o direito de ficar mal! — Bianca explodiu. Não sabia se era o pouco álcool que bebeu ou toda a raiva que não processara direito, mas as palavras saíram sem que tivesse controle: — Foi você que quis se afastar! Queria que eu fizesse o que, ficasse te esperando?!

CamelliaWhere stories live. Discover now