c a p í t u l o ✿ 5 4

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a nossa história sempre começa da mesma forma

com um garoto, uma garota, um uh e um jogo.

(lovegame)




— Ah não, a Emily não veio?! — Bianca lamentou no segundo em que viu Daniel se aproximando das poltronas onde ela e os meninos estavam. Esperava soar despretensiosa e disfarçar o coração que quase deu um mortal quando o viu.

Apesar de já se encontrarem normalmente fora do colégio, era costume que os alunos dos internatos sempre usassem alguma parte do uniforme. As garotas do Madre Cordélia sempre estavam com suas saias (mas a versão curtinha, enrolada na cintura) e blazers, enquanto os alunos do Cruz e Souza nunca tiravam a jaqueta característica de colegial. Como um código secreto de que pertenciam a esse mundinho exclusivo.

Então parecia estranhamente íntimo se encontrar em um lugar diferente, usando roupas completamente normais, como se pertencessem a um universo à parte. Daniel sabia se vestir bem e Bianca meio que adorava isso. Normalmente disfarçava o quão mauricinho era, mas hoje estava com uma blusa preta que deixava a gola branca da camisa à mostra, junto com uma correntinha fina de prata, igual à da lateral da calça. O cabelo devia estar ajeitadinho quando saiu de casa, mas com o costume de sempre passar a mão nele, já estava bagunçado como sempre. Vestia as pulseiras de couro nos pulsos e a novidade é que estava com as unhas pintadas de preto, como Bianca sempre insistiu que ficaria legal.

Em suma, estava insuportavelmente lindo.

Quer dizer, Bianca também tinha dedicado uma boa hora apenas se ajeitando para encontrar os amigos (mas principalmente Daniel). Estava usando o vestido justinho xadrez que a irmã fez sob medida pra ela sobre uma blusa preta de mangas compridas, com dezenas de correntes, gargantilha e demais acessórios que comprou na última ida ao shopping com a irmã. Pela primeira vez, também explorava mais possibilidades de maquiagem. Depois de muita prática, aprendeu a fazer um delineador mais elaborado e desenhou um coraçãozinho na bochecha.

Afinal, descobriu que até gostava dessas coisas que antes considerava de "garotas fúteis". Como ela foi idiota.

A parte mais estranha era pensar que estava comprando todas aquelas coisas com o dinheiro que tirava das lives (que, enquanto não tinha sua própria conta no banco, a irmã fazia o favor de guardar). O que não usava para pagar as horas na lan house, ficava com ela — e gerou uma situação cômica em que ela e Daniel insistiram em finalmente pagar VH por todo o trabalho, que negou até o fim, até os dois resolverem simplesmente presenteá-lo com um skate novo.

— Ela teve que ir ao outro shopping com a mãe e a Leonora, mandou um pedido de desculpas pra você — Daniel murmurou, sem tirar as mãos dos bolsos. Quando entrou no meio-círculo que os amigos formavam, atirados nas poltronas do cinema, simplesmente os cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Ahh... Tudo bem, você vai ter que servir então — Bianca brincou.

— E pra mim, cunhado? Ela não mandou nada? — Bellini provocou.

Mas Daniel só revirou os olhos e não respondeu nada. Logo os meninos retomaram a conversa, mas Bianca não desviou os olhos de Daniel. Agora que o via de perto, suas olheiras estavam ainda piores contra a pele incrivelmente pálida. Na verdade, Daniel até parecia ter perdido um pouco de peso.

— Resolveu pintar a unha? — VH comentou, provavelmente também percebendo como o amigo estava anormalmente quieto.

O platinado ergueu uma mão e a encarou, como se nem lembrasse daquilo. Então deixou uma risadinha sincera escapar e abriu o primeiro sorriso do dia:

CamelliaWhere stories live. Discover now