c a p í t u l o ✿ 4 3

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nós estamos felizes, livres, confusos e solitários ao mesmo tempo

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A ansiedade para chegar logo a hora de ir à casa dos Beaumont fez com que cada segundo do dia de Bianca parecesse se estender por horas. Porém, perto do final da tarde, sentada nas mesas externas do café com Zoe, Lisa e seus milkshakes (o combinado foi que cada uma pagasse um sabor e revezassem para todas poderem provar), quase quis inventar uma desculpa para se atrasar quando Emily avisou por mensagem que estava indo pro centro.

Daniel sempre chegava o mais tarde possível quando precisava voltar para casa e, para não levantar suspeitas, Emily (e Bianca) voltaria no horário habitual, após o encerramento de suas atividades extracurriculares, enquanto o irmão chegaria sozinho mais tarde.

Perto das 17h, uma BMW marinho parou em frente à cafeteria e Bianca se despediu das amigas com relutância antes de correr em direção ao carro. Ainda de bom humor depois do dia de compras e as agradáveis horas de conversa, tentou até puxar assunto com Emily, que a respondeu no tom apático de sempre. Perguntou sobre seu dia e as aulas que teve durante a tarde e descobriu que foram aulas de francês e clube de debate (Bianca nem sabia que isso existia fora dos filmes). Apesar de responder a tudo com educação, a postura reclusa de Emily não abria qualquer espaço para estender o assunto e Bianca logo decidiu passar o resto da viagem em silêncio.

A casa dos Beaumont ficava na cidade vizinha, a uma hora e meia de distância. A visitante se esforçou para conter a expressão boquiaberta quando passaram pela portaria do condomínio e pôde ver as mansões ostentosas. Sempre soube que a família de Daniel tinha dinheiro (não era bem uma exceção entre os alunos dos internatos da região), mas não deixava de ser surpreendente deparar-se com casas como as que só via no Instagram de celebridades.

Andaram por quase cinco minutos em ruas amplas e espaços arborizados entre casarões até pararem em frente a uma mansão moderna de três andares. Bianca aproveitou que estava com o celular na mão e discretamente bateu uma foto para mandar para Natalie, com a legenda "Por que rico gosta de portas enormes?". A namorada da irmã também vinha de uma família de renome e muito dinheiro, e as Conceições se divertiam debochando de costumes excêntricos.

— Obrigada, Antônio. Tenha uma boa noite e um bom final de semana. — Emily desejou enquanto saía do carro, depois de quase uma hora em completo silêncio.

Bianca também agradeceu a carona, colocou a alça da mochila em um ombro, a da bolsa no outro, e saltou do carro. Emily estava parada em frente ao caminho de pedra que levava à varanda esperando por ela. Não ofereceu ajuda nem falou nada, mas esperou até Bianca chegar do seu lado para continuar até a porta de entrada gigantesca.

— Que casa bonita! — Bianca deixou escapar, mas quis morder a língua. Por que ainda estava tentando puxar assunto com ela, que não fazia questão de lhe dirigir nem meia palavra? Só de birra, ficaria tão quieta quanto. Estava ali para ver Daniel mesmo!

Emily deu um sorriso educado:

— Obrigada — murmurou e se virou para digitar uma senha no cadeado eletrônico. Uma fresta da porta se abriu e ela empurrou o resto, segurando-a para Bianca passar. Enquanto descalçava seus mocassins e Bianca fazia o mesmo com os coturnos (que definitivamente não faziam parte do regularmente do colégio), falou, particularmente mais baixo do que seu tom habitual: — Minha mãe está em casa, ok?

CamelliaWhere stories live. Discover now