eu amo o jeito que você é
é quem eu sou, não tenho que forçar
(wish you were here)
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Daniel respirou fundo antes de passar pela porta do bistrô e pensou uma última vez em dar meia volta e simplesmente sair correndo para o mais longe possível. Divertiu-se tanto com a família de Bianca na noite passada e, menos de vinte e quatro horas depois, encontrava-se prestes a caminhar para a própria morte.
Ele nem lembrou, nos últimos quatro dias, que havia mentido para conseguir ir ao evento. Que seus pais achavam que estava gripado e que um vídeo do seu pedido de namoro viralizando meio que desmentia tudo.
Seu coração quase parou quando Mario Beaumont mandou uma mensagem questionando aquilo — "Achei que você estivesse no internato" — e, antes que conseguisse encontrar uma explicação, o pai avisou que queria encontrá-lo para o almoço naquela tarde. Pelo menos, estava disposto a fazer uma viagem de uma hora para matar Daniel e não apenas contratou alguém para fazer aquilo. Nunca estiveram tão próximos, pensou, com sarcasmo.
Daniel entrou no restaurante chique, indiferente ao fato de estar vestindo um moletom qualquer e o vans surrado que usava para andar de skate. Pelo menos, depois daquele inferno (se saísse vivo, claro), encontraria com os amigos e a namorada na pista. Seguiu a hostess até uma mesa afastada, onde Mario Beaumont estava sentado, com os pratos de carne e acompanhamentos já servidos. Seu pai vestia uma camiseta polo, como sempre, mas parecia particularmente mais arrumado com o cabelo recém cortado e a barba aparada.
— Oi, Daniel. — Baixou o garfo espetado num pedaço de filé quando viu o filho, sua voz grossa fazendo o coração de Daniel acelerar. — Desculpe, eu tive que fazer o pedido porque daqui a pouco tenho que voltar para uma reunião.
— Ah, tranquilo. — Ele deu de ombros, tentando não aparentar nervosismo. Agradeceu a hostess com um aceno de cabeça, engolindo a vontade de pedir socorro para ela, então sentou na cadeira de frente para o seu pai. — E aí?
— Você melhorou ou nunca esteve doente? — Mario ignorou a pergunta e foi direto ao ponto.
Daniel engoliu em seco, sua mão congelando a alguns centímetros de pegar seus talheres.
— Desculpa, pai. — Suspirou, sabendo que nada poderia melhorar sua situação. — Eu não queria enganar o senhor, mas era um evento importante e a Thunder convidou eu e a Bianca para representarmos a marca e-
— Thunder... o energético? — Mario perguntou.
Daniel estava com os olhos arregalados como um veado em frente aos faróis do carro, esperando que a qualquer minuto que o homem começasse a gritar.
— Isso... eles fizeram o convite há uns meses e eu aceitei sem pensar, mas olha, eu não menti sobre as faltas nem sobre as notas! Esses dois dias não vão me prejudicar em nada e a minha média...
Mario soltou um suspiro pesado e Daniel se calou na mesma hora. Ele não iria lhe dar um tapa em público, ou iria? Não faria isso se ainda estivesse junto com a sua mãe, porque Angela ficaria maluca se sua família fizesse uma cena dessas em público, mas agora que tinham se divorciado, talvez Mario não se importasse mais.
— Escuta, Daniel. — O homem falou, então ficou vários segundos em silêncio, pensando nas palavras. — Eu não aprovo essa sua mentira e acho que você de maneira imatura com a situação. Dito isso, compreendo que talvez você não tenha tido muita abertura para ser sincero.
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Camellia
Romance🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2023! 🏆 O Madre Cordélia era o internato dos sonhos, mas havia se transformado em um pesadelo para Bianca. Um cyber café no centro da cidade se torna seu refúgio em meio ao caos. Ela só não esperava conhecer um aluno de outro...