c a p í t u l o ✿ 8 1

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eu amo o jeito que você é

é quem eu sou, não tenho que forçar

(wish you were here)




Daniel respirou fundo antes de passar pela porta do bistrô e pensou uma última vez em dar meia volta e simplesmente sair correndo para o mais longe possível. Divertiu-se tanto com a família de Bianca na noite passada e, menos de vinte e quatro horas depois, encontrava-se prestes a caminhar para a própria morte.

Ele nem lembrou, nos últimos quatro dias, que havia mentido para conseguir ir ao evento. Que seus pais achavam que estava gripado e que um vídeo do seu pedido de namoro viralizando meio que desmentia tudo.

Seu coração quase parou quando Mario Beaumont mandou uma mensagem questionando aquilo — "Achei que você estivesse no internato" — e, antes que conseguisse encontrar uma explicação, o pai avisou que queria encontrá-lo para o almoço naquela tarde. Pelo menos, estava disposto a fazer uma viagem de uma hora para matar Daniel e não apenas contratou alguém para fazer aquilo. Nunca estiveram tão próximos, pensou, com sarcasmo.

Daniel entrou no restaurante chique, indiferente ao fato de estar vestindo um moletom qualquer e o vans surrado que usava para andar de skate. Pelo menos, depois daquele inferno (se saísse vivo, claro), encontraria com os amigos e a namorada na pista. Seguiu a hostess até uma mesa afastada, onde Mario Beaumont estava sentado, com os pratos de carne e acompanhamentos já servidos. Seu pai vestia uma camiseta polo, como sempre, mas parecia particularmente mais arrumado com o cabelo recém cortado e a barba aparada.

— Oi, Daniel. — Baixou o garfo espetado num pedaço de filé quando viu o filho, sua voz grossa fazendo o coração de Daniel acelerar. — Desculpe, eu tive que fazer o pedido porque daqui a pouco tenho que voltar para uma reunião.

— Ah, tranquilo. — Ele deu de ombros, tentando não aparentar nervosismo. Agradeceu a hostess com um aceno de cabeça, engolindo a vontade de pedir socorro para ela, então sentou na cadeira de frente para o seu pai. — E aí?

— Você melhorou ou nunca esteve doente? — Mario ignorou a pergunta e foi direto ao ponto.

Daniel engoliu em seco, sua mão congelando a alguns centímetros de pegar seus talheres.

— Desculpa, pai. — Suspirou, sabendo que nada poderia melhorar sua situação. — Eu não queria enganar o senhor, mas era um evento importante e a Thunder convidou eu e a Bianca para representarmos a marca e-

Thunder... o energético? — Mario perguntou.

Daniel estava com os olhos arregalados como um veado em frente aos faróis do carro, esperando que a qualquer minuto que o homem começasse a gritar.

— Isso... eles fizeram o convite há uns meses e eu aceitei sem pensar, mas olha, eu não menti sobre as faltas nem sobre as notas! Esses dois dias não vão me prejudicar em nada e a minha média...

Mario soltou um suspiro pesado e Daniel se calou na mesma hora. Ele não iria lhe dar um tapa em público, ou iria? Não faria isso se ainda estivesse junto com a sua mãe, porque Angela ficaria maluca se sua família fizesse uma cena dessas em público, mas agora que tinham se divorciado, talvez Mario não se importasse mais.

— Escuta, Daniel. — O homem falou, então ficou vários segundos em silêncio, pensando nas palavras. — Eu não aprovo essa sua mentira e acho que você de maneira imatura com a situação. Dito isso, compreendo que talvez você não tenha tido muita abertura para ser sincero.

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