Capítulo 1

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Era mais uma manhã tranquila quando Micael acordou com o choro de seu filho. Demorou tanto para abrir os olhos que, ao fazê-lo, viu sua esposa já aconchegando o pequeno em seus braços, ninando-o. Ele amava observar aquele momento entre os dois; era uma cena encantadora.

Ela estava sentada na cadeira de amamentação ao lado da cama do casal, buscando conforto. O menino, faminto, agarrava-se ao seio e sugava com toda a força que tinha.

Luiza era esguia, de olhos verdes e pele alva, com cabelos longos e negros atualmente presos em um coque despojado, pois ainda não tivera tempo de arrumá-los naquela manhã. Ao perceber o marido acordado, ela sorriu.

— Bom dia, dorminhoco — disse Luiza, ampliando seu sorriso enquanto acariciava a cabeça do bebê. — Felipe quase perdeu a voz de tanto chorar, e você nem para acordar.

— Bom dia, amor da minha vida! — Micael sentou-se e esticou os braços, espreguiçando-se. — Desculpe, eu estava mesmo num sono profundo.

— Vai ficar o dia inteiro nessa cama? — perguntou ela, rindo, ao que Micael respondeu com um bocejo.

— Ah, Luiza, ainda é muito cedo. — Ele procurou o celular para checar as horas e constatou que era realmente cedo para um domingo. — Me dê só mais meia hora de sono e prometo que serei o melhor marido e pai do mundo! — Deitou-se novamente e escutou a risada da esposa.

— Micael, já são nove horas da manhã, e seu filho está superacordado. — Ela olhou para o bebê, que tocava seu rosto, buscando o olhar da mãe.

— Claro, ele não tem que acordar para trabalhar todos os dias, então não entende o valor de um domingo. — Micael argumentou, de olhos ainda fechados.

— Eu te amo, sabia? — A voz doce de Luiza ecoou, e ele sorriu; se havia algo que ele adorava ouvir, era isso.

— Eu também me amo; sou extremamente adorável. — Ele tentou ser engraçado, mas a esposa não riu. Voltou a olhar para o bebê, que já havia soltado o seio da mãe.

— Ah, só por causa dessa, segura o seu filho. — Ela o colocou na cama e ele engatinhou em direção ao pai, que o levantou e girou, numa brincadeira que sabia ser adorada pelo pequeno.

— Não faça isso, ele acabou de mamar... — advertiu ela, tentando evitar um desastre. Mas já era tarde; o bebê havia regurgitado sobre Micael, que imediatamente o pôs na cama e se levantou.

— Felipe, que coisa mais feia! — repreendeu ele, embora soubesse que a culpa não era do filho.

Olhou para o lado e viu Luiza rindo sem disfarce da cena. O som de sua gargalhada preencheu o ambiente, e ele não pôde deixar de rir também, apesar do desconforto causado pelo leite azedo em seu peito.

— Vá tomar um banho e leve o Felipe com você — sugeriu ela, já se levantando. — Ele adora tomar banho contigo, aproveite esse momento.

— Para onde você vai? — perguntou ele, ao vê-la arrumando o coque que se desfez.

— Vou preparar nosso café da manhã — respondeu ela, virando-se na porta e sorrindo. — Espero vocês dois na cozinha.

— Te amo! — exclamou ele, enviando um beijo no ar e observando-a desaparecer pela porta. Pegou uma toalha e foi para o chuveiro com o filho, que se divertia com a água. — Está vendo, filho, a bagunça que você fez? — brincou com o menino, que sorria travesso, um verdadeiro encanto de criança.

Após o banho, voltaram ao quarto. Micael deitou o pequeno na cama e foi ao armário buscar as coisinhas dele, como pomada, fralda e roupas. Já finalizando, penteava os cabelos do filho quando Luiza apareceu na porta.

— Meus dois amores estão lindos e cheirosos? — perguntou ela, parada na porta com os braços cruzados. Felipe bateu palmas e chamou a mãe para pegá-lo. Ela sorriu e se aproximou.

— Vamos tomar café, querido? — convidou Luiza o marido enquanto retirava a toalha do bebê para pendurar.

— Sim, porque estou com uma fome de leão — respondeu ele, indo ao banheiro guardar o restante das coisas e depois voltando para junto da esposa, que sorria. O sorriso dela era uma das coisas que ele mais amava; era tão genuíno e transmitia tanta alegria. Deram-se as mãos e desceram as escadas juntos.

— Amor, vamos à casa da minha mãe hoje? — Luiza perguntou, esperando uma resposta negativa, pois sabia que sempre que o marido e a irmã caçula se encontravam, era discussão na certa.

— Lu, eu não quero discutir com a sua irmã hoje, queria um domingo tranquilo. — Ele tentou resistir, mas sabia que acabaria cedendo; ele fazia tudo para agradar a mulher, essa era sua meta de vida.

— Amor, ela é minha irmã caçula, eu a amo, e também estou com saudades da minha mãe. — Ela fez um biquinho, o que arrancou uma risada do marido.

— O que você me pede sorrindo, que eu não faço chorando? — Disse ele, por fim, com um longo suspiro. — Mas também não prometo ficar calado se sua irmã começar a falar demais.

— Eu te amo, de verdade. Estamos juntos há anos; vocês precisam começar a se entender. Sonho com esse dia. — Ela se esticou e deu-lhe um selinho.

— É só isso que eu mereço? — Ele fez uma careta de decepção.

— A recompensa vem à noite. — Ela disse com um tom sugestivo, fazendo com que ele mordesse o lábio em antecipação. — É só esperar e se comportar bem, que a recompensa será ainda melhor, do jeitinho que você gosta.

— Não fale assim, senão fica difícil esperar até a noite. — Ela riu novamente.

— Você aguenta, tenho certeza! Já deu banho no Felipe, agora é a minha vez. — Ela avisou, levantando-se da cadeira enquanto mastigava um pedaço de pão.

— Mas vamos agora? — Ele ergueu uma sobrancelha, pensando que teria mais tempo.

— Leva uma hora e meia de carro até a casa da minha mãe, e quero chegar lá na hora do almoço, então sim, vamos sair agora. — Ela deu de ombros e sorriu, sabendo que conseguiria o que queria dele. — Mas pense no que vai acontecer à noite, imagine o que você quer.

— Tudo bem, então. Vá se arrumar, você venceu.

Luiza subiu as escadas correndo. Micael era apaixonado por aquela mulher; ele faria qualquer coisa por ela, até mesmo enfrentar a difícil tarefa de ir à casa da mãe dela. A irmã caçula de Luiza não o suportava, e a antipatia era mútua.



InevitávelWhere stories live. Discover now