Capítulo 9

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— Oi, Micael, como você está? — Branca perguntou assim que ele se sentou no sofá, e soltou um arquejo de alívio. — Me parece que isso aí é terrível.

— É um horrível, mas acho que vou acabar acostumando. — Suspirou e olhou pra perna novamente. — Onde está meu filho?

— Está dormindo há um tempinho, já já ele acorda. — Sophia contou e apontou pra babá eletrônica que tinha em cima da mesinha de centro. — Eu peguei algumas coisas pro Felipe na sua casa, não sei se falei. — Ficou envergonhada e viu Micael balançar a cabeça.

— Não falou, mas tudo bem. — Deu de ombros e na hora surgiu uma careta de dor. — Meu pai que te emprestou a chave?

— Sim, ele foi bem simpático, me levou até lá e me ajudou a trazer pra cá as coisas. Eu não avisei a você porque ainda estava dopado. — Novamente pareceu sem graça.

— Não precisa se preocupar com isso, você e meu pai fizeram certo! — A cor sumiu do rosto da mulher que voltou a sorrir. — Onde eu vou dormir? — Perguntou a ela, precisava descansar e o clima naquela sala estava estranho, ninguém se sentia confortável, ninguém sabia ao certo o que dizer.

— No quarto de hóspedes. É aqui no primeiro andar mesmo, segue o corredor, segunda à esquerda. — Sophia indicou com as mãos, a casa não era tão grande a ponto de que se perdesse. — Se quiser eu posso te levar até lá.

— Não precisa, eu sei onde fica. — Disse com um sorriso, em sua adolescência já tinha se agarrado com Luiza por todos os cômodos daquela casa. — Quando o Felipe acordar, me chamem, eu estou com saudade dele.

— Pode deixa, Mica. — A loira mais uma vez usou o apelido e tirou um sorriso dele, que não cansava de estranhar aquela convivência agradável.

Micael caminhou até o quarto com certa dificuldade e antes de ir se deitar, procurou o banheiro. Se olhou no espelho refletindo sobre o que o aguardaria naquela casa nos próximos dias. Tudo parecia extremamente errado, estar ali era errado, ele via Luiza em cada canto da casa, mas no final, quando fosse pra sua, seria igual. Havia comprado aquela casa pra morar com Luiza, não seria fácil ficar lá sozinho.

O moreno saiu do banheiro e se deitou na cama, encarando o teto até que pegasse no sono, afinal era só isso que fazia, dormia e se lamentava o tempo todo. Acordou com batidas de Sophia na porta.

— Micael? — Ouviu a voz da loira que parecia envergonhada. — Micael? — Chamou mais uma vez. O moreno coçou os olhos e limpou a garganta antes de responder.

— Oi, Sophia! — Limpou a garganta mais uma vez. — Pode entrar. — Ouviu a maçaneta ser virada e então a loira surgiu ali com o bebê no colo. — Ei, meu amor! — Se sentou e esticou os braços pro pequeno, que sorriu assim que viu o pai. A loira foi até ele e lhe entregou o bebê com cuidado. — Como você tá, campeão? — O menino colocou a mão no rosto do pai e balbuciou algumas coisas como se realmente o tivesse respondendo.

— Ele tem ficado bem com a gente. — Sophia estava escorada na parede, olhando o chamego dos dois e achando fofo. — Eu sei que não é a mesma coisa e percebo ele sentindo falta dela, mas no geral está bem.

— Não tem como não sentir. — Ele respondeu com sinceridade olhando a mulher deslocada ali em pé. — Ele vai ser a pessoa que mais vai sentir a falta dela e no caso ainda vai ser pior, afinal ele não fala.

— Eu sei, é muito difícil, mas a gente supera. — A loira sorriu. — Me sinto assombrada nessa casa sabia? Eu vejo a Luiza o tempo todo. — Brincou e tirou outra risada de Micael. — Você também?

— Sim, talvez não tenha sido uma boa ideia ficar aqui. Sério, é impossível não vê-la aqui. — Ele apontou pra cama para que a mulher se sentasse e assim Sophia fez.

— Eu imagino que sim, vocês viviam se agarrando pela casa inteira, deve ter muitas memórias. — Brincou e daquela fez Micael soltou uma risada alta. — Uma adolescência animada, não é?

— Como é que você sabe disso, garota? — Disse ainda entre risadas e jogou nela um travesseiro que tinha ali em seu lado. — Quando a gente fazia isso, era porque não tinha ninguém em casa.

— Tá esquecendo que ela era minha melhor amiga? Eu ficava horas ouvindo ela falar sobre você. — Ele sorriu com a informação. — Te amava muito, sempre amou.

— Eu sei. — Os dois se encaravam com olhares saudosos. — Eu tive muita sorte de encontrar um amor assim logo de cara, sempre serei grato por isso. Ela era incrível.

— Sim, ela era. — Sophia aproveitou a ocasião para implicar um pouquinho. — O que me faz pensar até hoje: O que foi que ela viu em você, hein? Isso nunca entrou na minha cabeça. — Ele deu risada, aquela sim era sua cunhada.

— Ah, cai fora, garota. — Sophia deu risada também. — Estava bem estranho você me tratando bem esse tempo todo, tinha que vim uma gracinha!

— Foi só pra não perder a prática. — Se levantou da cama. — Vou deixar vocês sozinhos, daqui a pouco o almoço ficará pronto, venho te chamar, tá bom? — Ele assentiu e observou a loira sair do quarto.

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Duas semanas após o acidente, Micael pediu a Sophia que o levasse até o túmulo de Luiza, sabia que era por ali, afinal Branca com certeza manteria a filha perto.

Os dois saíram com o carro de Renato, cedo no dia em que decidiram fazer aquela visita. Micael ainda estava com seu gesso na perna, mas já estava acostumado com as muletas e andava bem agora.

Branca havia ficado com o bebê, mesmo que os dois não tenham contado pra ela onde estavam indo. Quando a loira estacionou em frente ao cemitério, Micael viu a loja de flores do outro lado da rua e foi até lá comprar um buquê.

Sophia o guiou até onde a irmã estava enterrada, carregando gentilmente o buquê que Micael havia comprado.

— Essa aqui é a dela. — Sophia disse parando em frente á uma lápide com a foto e o nome de Luiza. Micael encarou aquele mármore com tristeza, ainda mais quando viu a frase genérica "Amada mãe, filha e esposa". — Eu também acho que ela merecia algo mais original. — Sophia disse como se lesse a mente de Micael.

— Às vezes parece que você sabe exatamente o que eu estou pensando. — Sorriu pra cunhada com admiração. — Eu não sabia que era possível ter esse tipo de ligação com você.

— Você é bem transparente, Micael. — Respondeu com um sorriso de volta. — Nunca tinha reparado como é fácil ler você.

— Sua irmã sempre me disse isso. — Olhou pra lápide com um suspiro.

— Vou deixar vocês a sós, tá bem? — Micael assentiu e pegou o buquê dela. — Estarei esperando no carro. —Observou enquanto sua cunhada saía de perto e em seguida se voltou para a lápide, deixando o buquê ali perto de sua foto.

InevitávelWhere stories live. Discover now