Capítulo 35

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— Não quero falar sobre isso, mãe. — Ela falou num tom frio, um grande mistério que deixou todos ainda mais curiosos, mas no momento, iriam respeitar aquilo. — Pelo menos não agora, me dêem um tempo e eu conto.

— O que está fazendo aqui? — Por mais que não tivesse olhado na direção de Micael, ele sabia que a pergunta era pra ele.

— Vim trazer o Felipe pra ver seus pais. — Contou com um dar de ombros, em seguida olhou pra trás e chamou o filho com a mão. O menino andou até o pai desconfiado. — Por que não dá um abraço na sua mãe?

— Minha mãe está morando com papai do céu. — Ele falou e se escondeu atrás de Micael. — Você e a titia sempre disseram isso.

— Filho, ela é a sua mãe! — Luiza ficou os encarava com dor nos olhos.

— Vocês sempre dizem que mentir é feio, então vocês mentiram, por quê? — Questionou e fez Micael soltar uma risadinha, ele era bem esperto.

— Nós não mentimos, pelo visto nós nos enganamos. — Sophia tentou ajudar e então o menino começou a abrir o sorriso.

— Eu sempre quis que papai do céu devolvesse minha mãe. — Ele disse pra Luiza, que tinha lágrimas no rosto. — Que bom que você não foi morar com ele de verdade, mamãe. — O menino então deu alguns passos e se jogou num abraço com a mãe, que já estava sentada esperando por ele.

Micael ficou olhando os dois como um bobo, aquilo era a realização do que sempre desejou, que Luiza pudesse conviver com Felipe, que estivesse presente pro filho em todos os momentos. Estava encantado com o reencontro e com certeza tinha lágrimas nos olhos.

— Eu te amo, meu menino. — Abraçou ainda mais forte. — Você e seu pai. — Ele olhou pra Micael por cima da cabeça do filho e reparou em sua reação. Ele não sabia o que fazer ou o que falar, parecia que todo mundo na sala esperava a reação dele. Agradeceu mentalmente quando Luiza voltou pro momento mãe e filho e não precisou responder aquilo.

Luiza estava muito melhor e mais falante, passou a tarde toda matando a saudade de Felipe e dos pais, que conversavam a colocando a par de tudo o que aconteceu naquele tempo, menos a coisa mais importante, a relação de Micael e Sophia. Os dois estavam quietos, trocaram alguns olhares durante a tarde e se sentiam desconfortáveis. Já era noite e ele estava querendo ir embora, mas não sabia o que dizer, já que tinham decido não contar a Luiza sobre sua atual relação.

— Será que vocês deixam a gente conversar em particular? — Luiza interrompeu a conversa que estava tendo com os pais e pediu licença, olhando pra Micael. Todo mundo entendeu e saíram pra cozinha, Sophia um tanto receosa com o resultado daquela conversa privada.

— O que foi? — Micael perguntou ainda sentado no outro sofá, um tanto distante.

— Eu que pergunto, você não pareceu nem um pouco feliz em me ver, confesso que não esperava por essa reação. — Micael desviou o olhar e soltou um suspiro pesado, escolhendo bem as palavras que usaria a seguir.

— O que aconteceu esse tempo todo? Pra onde você foi? Com quem estava? — Perguntou o que queria saber desde que a viu, aquilo o estava matando por dentro. — É lógico que fiquei feliz em te ver, mas Luiza, foram quase quatro anos.

— Eu já disse que não quero falar sobre isso. — Balançou a cabeça em negativa, ainda sem olhar nos olhos de Micael. — É um assunto doloroso e ainda não estou preparada pra falar.

— Mas eu preciso saber disso! — Ela o olhou e viu o sofrimento que Micael transparecia ao lembrar do passado. — Luiza, eu passei meses sofrendo a sua morte, me culpando por ela. Eu tive que cuidar do nosso filho sozinho e machucado. Eu precisei aprender a viver sem você, foi horrível. Eu mereço saber o que aconteceu com você.

— Não sumi por vontade própria. — Os dois tinham lágrimas nos olhos, mas por motivos diferentes.

— Então explica o que aconteceu! — Pediu mais uma vez e a mulher fungou antes de realmente começar a contar.

— Quando eu acordei depois do acidente, não fazia ideia do que tinha acontecido ou de onde estava. Foi um susto pra mim, estava com a perna quebrada, engessada. Tive algumas contusões e tal, mas o mais grave doi a minha perna. — Pareceu viajar pra um mundo distante e Micael se manteve olhando com atenção. — Eu estava numa casa, com um homem estranho que disse se chamar Tom, mas eu desconfio que seja mentira, ele não falaria a verdade. — Faz uma pausa e engoliu em seco e logo começou a chorar. — Ele era a única pessoa que tinha lá, no início não me maltratou nem nada, pareceu bem simpático. Disse que você e Felipe tinham morrido e ele havia me salvado. — Micael abriu a boca em surpresa, aquilo era muito surpreendente. — Ele cuidou de mim até que eu estivesse totalmente recuperada, dizia que não tinha sinal de telefone e nem internet para que fizéssemos contato com meus pais ou Sophia.

"Quando eu finalmente quis sair, disse que agradecia, mas que estava bem e queria ver minha família, ele não permitiu. Tudo que eu acreditava até então caiu por terra, ele se transformou num monstro. Eu vivi esses anos todos presa, sendo obrigada a dar tudo o que ele queria, senão eu ficava sem comer ou apanhava. Foi muito difícil."

Micael saiu do sofá que estava e se sentou ao lado de Luiza, que aquela altura chorava de soluçar ao lembrar de tudo que havia passado nas mãos de seu sequestrador. Ele lhe deu um abraço forte e reconfortante, culpado por sua esposa estar passando por tudo aquilo enquanto ele seguia a vida sem nenhum remorso.

— Luiza, me desculpe. — Foi só o que conseguiu dizer, não sabia como consola-la por ter vivido aquele inferno.

— Você não teve culpa disso. — Fungou mais uma fez e então se afastou do abraço. — Não tinha como saber que eu estava viva. Eu estava lá e só pensava em você e no Felipe.

— Luiza... — Ele a abraçou novamente, queria falar de Sophia, mas não sabia nem como começar a dizer que tinha outra pessoa.

— Quando ele me tocava, imaginar que era você tornava tudo mais fácil. — A mulher levantou a cabeça e iniciou um beijo saudoso do qual Micael demorou muito a sair. Era complicado demais, não queria trair Sophia, mas era Luiza que estava ali na sua frente.

— Como você saiu de lá? — Mudou o assunto e se afastou um pouco, precisava manter uma distância boa pra que ela não iniciasse outro beijo e mesmo assim que não percebesse nada ainda.

— Ele deixou eu ir embora. — Contou com um dar de ombros. — Acho que pensou que eu morreria no caminho, estava fraca demais. Pra te falar a verdade, eu nem sei como consegui chegar aqui, Micael. Com certeza foi um milagre. — Ela sorriu pra Micael e recebeu um sorriso de volta.

— Você precisa ir até uma delegacia e fazer uma denúncia, eles vão procurar esse cara e jogar numa cela pro resto da vida. — A mulher assentiu, faria aquilo. — É necessário pra que você consiga seus documentos, caso contrário, quem vai ser presa é você por forjar sua morte.

— Pode desligar o modo advogado um instante? Farei tudo isso, mas não agora. No momento, a única coisa que eu quero é curtir a minha família. — Ele assentiu e sorriu de novo. Viu Luiza se aproximar dele de novo para outro beijo, mas dessa vez, desviou. Não tinha como deixar aquilo acontecer só pra não contar a ela sobre sua atual relação, Sophia ficaria revoltada e com razão.

— O que aconteceu com você? — Ela perguntou confusa ao ser rejeitada, com certeza não estava esperando por aquilo.

— Luiza, se passaram quatro anos. — Começou a falar e ela entendeu na hora. — Eu meio que...

— Você tem alguém!. — As lágrimas no rosto dela então caíram mais fortes do que antes e partiram ainda mais o coração de Micael. Luiza se afastou na hora. 

InevitávelWhere stories live. Discover now