Capítulo 46

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— Que modos são esses, Sophia?

— Ninguém nessa sala merece a minha educação. — Foi apenas o que disse e enfim continuou seu caminho até a cozinha, se fingindo de durona. O menino se sentou na cadeira e observou a tia preparar um sanduiche.

— Eu quero também, tia! — Disse com um sorriso sapeca.

— O senhor ainda não comeu? — Passou o dedo pelo nariz dele que deu mais risada.

— Eu quero danone. — Arrancou uma risada sincera da tia que abriu a geladeira pra dar ao menino o que ele queria. Em seguida, pegou o prato com o sanduíche e seu copo de suco, sentou-se ao lado do menino e então perguntou o que sabia que não devia perguntar.

— O que seu pai veio fazer aqui? — Tinha medo da resposta, muitas coisas passavam por sua cabeça, mas no fim o menino negou com a cabeça.

— Eu não sei, titia. — Enfiou o dedo no potinho e lambeu. — Eu nem sabia que a gente ia vir aqui, mas fiquei muito feliz.

— A titia também ficou muito feliz de te ver aqui, meu amor.

— Tia, não está na hora de voltar pra casa? — Ele perguntou e Sophia não soube responder, então mordeu o sanduíche numa tentativa de arranjar mais tempo pra pensar no que diria. Mas sentiu um soco no estômago e a vontade de vomitar tinha voltado com tudo, largou tudo na mesa e passou correndo por todos na sala, precisava chegar no banheiro a tempo.

Sophia terminou e escovou os dentes, estava enrolando pra sair do banheiro para não encarar nenhum dos três que com certeza iriam fazer perguntas. Todas aquelas tonturas e enjôos que vinha tendo no decorrer dos dias a estavam deixando preocupada, mas não tinha coragem de fazer um teste, não podia estar grávida, não agora.

Saiu do banheiro devagar e como esperava, todos a encaravam querendo saber o motivo da correria, mas ela não diria, nenhum deles tinha nada a ver com sua vida. Resolveu ignorar a todos, mas viu Felipe chorando no colo de Micael e foi até lá, ficou perto do amado pela primeira vez em muito tempo e se sentiu ainda mais triste.

— Por que está chorando, meu amor? — O chamou com as mãos e ele desceu, indo com ela até o outro sofá, onde se sentaram.

— Você saiu correndo de mim, titia. O que eu fiz? — Sophia o abraçou com carinho e lhe deu um beijo na testa.

— Nada meu amor, a titia que tá dodói. — Ele a olhou assustado por um instante. — Já já a tia vai ficar boa, tá bem? O que acha de irmos lá terminar o lanche? — O menino assentiu e Sophia se levantou, mas ficou tonta outra vez e se apoiou no braço do sofá.

— Sophia, você está bem? — A voz grossa de Micael quebrou o silêncio quando ele ficou de pé pronto para segurar a mulher caso ameaçasse cair.

Ela estava apoiada no sofá com braços cruzados esperando que aquela tontura chata passasse para fugir dali o mais rápido que conseguisse.

— Já está melhor? — Luiza a puxou pro sofá e a fez sentar. — Você quer um copo de água? — Sua voz parecia preocupada, assim como a de Micael e ela viraria os olhos se pudesse.

— Não, estou tonta. — Manteve os olhos fechados, tudo estava rodando.

— Vamos te levar ao hospital, isso não é normal. — A voz preocupada de Luiza estava mais forte e Sophia abriu os olhos na hora.

— Não, nada de hospital. Estou bem! — Reconheceu um pouco da irmã de sempre e ficou um tanto feliz que ela ainda existisse dentro daquela Luiza que agora vivia.

— Você está pálida, Sophia! — Foi a vez de Micael voltar a falar, com o mesmo tom. — Não está nada bem, não seja teimosa, precisa ir ao hospital fazer um checkup.

— Parem de fingir que se importam comigo. Já disse que estou bem! — Alternou olhares entre os dois. — Eu vou subir e deitar, tudo vai ficar bem.

— Ninguém está fingindo nada, é lógico que a gente se importa com você! — Luiza disse, mas recebeu um olhar debochado da irmã.

— Aham, deve ser mesmo. — Se levantou quando sentiu firmeza. — Vou pro meu quarto, divirtam-se.

— Pelo menos liga pro seu namorado pra ele ficar com você. Não é bom ficar sozinha desse jeito, vai que acontece alguma coisa. — Micael sugeriu mesmo que aquilo o deixasse arrasado.

— Que namorado? — Ela o encarou um instante com a testa franzida sem nem entender o motivo dele ter dito aquilo.

— O Marco. — Falou como se fosse obvio. — Você tem outro?

— Marco? Se eu me lembro bem fiz a péssima escolha de terminar com ele pra ficar com você. — Respondeu com um tom amargo e não esperou mais resposta, apenas saiu de perto e foi em direção as escadas. Sentiu Felipe indo atrás e lhe deu a mão.
Ficaram os dois deitadinhos, conversando sobre as coisas que Felipe gostava e isso a fez se distrair um pouco de tudo o que havia acontecido.

**

— Ela não namora o Marco? — Micael perguntou a Luiza assim que Sophia sumiu de sua visão com o filho. Branca ficou pálida ao ver a mentira que construiu com a filha começando a ruir.

— Como é que eu vou saber? — Luiza se manteve calma, sentou novamente como se nada demais estivesse acontecendo. — Não tomo conta da vida dela.

— Luiza, você me disse que ela estava namorando com o Marco! — Ele gritou, mas a mulher nem se abalou. Micael se virou para a sogra e a viu nervosa, completamente diferente da filha. — Vocês mentiram pra mim?

— Eu não menti sobre nada, te falei que os dias que ela sumiu estava com ele, você que deduziu sobre o namoro, eu não falei nada. — Se defendeu. — Não perguntei a ela nada sobre a relação com ele, não é da minha conta!

— Luiza, vou perguntar uma última vez. — Falou a olhando nos olhos, esperando pegar uma hesitação que fosse. — Ela realmente esteve com aquele cara?

— Como você quer que eu saiba com quem ela transa ou não? Eu te falei o que soube, que passou os dias na casa dele, não tenho como saber se estavam juntos ou não, apenas como deduzir que sim, da mesma forma que você deduziu. — Disse tranquila e Micael levou as mãos a cabeça. — E vê se para de gritar comigo, nós estamos juntos, já se esqueceu?

— Estamos juntos uma ova, nós transamos algumas vezes, mas eu nunca disse que ia namorar com você, eu não quero namorar com você! Eu nem sinto nada por você além de pena.

— Pena? — Arregalou os olhos, agora ele finalmente tinha conseguido abalar a estrutura de mulher. — Eu não sou digna de pena!

— Claro que é, pra chegar ao ponto de mentir pra mim sobre onde a sua irmã estava, só pra eu cair nas suas garras de novo. Isso é deprimente, Luiza.

— Para de ser dramático, nós dois sempre fomos um casal. — Argumentou e ele rolou os olhos, sem saco pra começar com aquilo novamente.

— Eu realmente não te reconheço mais, a minha Luiza jamais faria as coisas que você faz. — Disse com desgosto, um tanto triste com aquilo. — E você tem duas filhas, Branca, eu sei que você esquece disso, mas passa a mão na cabeça da filha errada. — Branca não o encarou e ficou em silêncio, se sentindo culpada.

Micael se sentou, levou as mãos a cabeça pensando no que faria pra conseguir o perdão de Sophia, já que sabia que aquilo ia ser impossível. Levantou sua cabeça ao ouvir passos leves vindo em sua direção e sabia que era Felipe correndo.

— Já conversamos sobre descer escada correndo. — Repreendeu quando o menino parou a sua frente, esbaforido. — Vai acabar se machucando.

— A titia dormiu. — Disse assustado e Micael o encarou sem entender. — Estava acordada falando comigo na cama, ai dormiu do nada. — Micael entendeu na hora que ela havia desmaiado e arregalou os olhos antes de correr em direção ao quarto da ex. Entrou e a viu na cama com olhos fechados e não perdeu tempo, a pegou no colo e foi pro carro. Felipe ficou com a avó e Luiza foi no banco de trás, segurando Sophia para que não caísse.  

InevitávelWhere stories live. Discover now