Capítulo 34

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— Você não vai lá falar com ela? — Sophia surgiu ao seu lado e ele finalmente conseguiu esboçar alguma reação, lágrimas escorreram por seu rosto sem o menor controle. — Se acalma. — A loira passou as mãos por suas costas, numa tentativa de consola-lo.

— Não sei o que dizer. — Finalmente algo saiu de sua boca, estava voltando ao normal, passado o choque inicial já sentia como se seu corpo tivesse voltado a responder comandos então ergueu as mãos pra tentar secar seu rosto. — Eu não sei o que dizer. — Repetiu, transtornado.

— Não há nada certo para dizer. — Sophia respondeu com um sorriso reconfortante. Era a única que não chorava.

— Micael, me ajude aqui a levá-la para o sofá. — Micael ouviu a voz do sogro e então virou a cabeça novamente na direção de Luiza. Renato tentava pegar a filha no colo, mas não tinha força e Luiza não conseguia andar. Respirou fundo duas vezes antes de se obrigar a ir até onde estavam, perto da porta. Abaixou e pegou sua ex-esposa no colo, sentiu a cabeça dela em seu peito e soltou um suspiro ao olhar em seus olhos.

— Tem certeza que é pro sofá que vão levá-la? — Perguntou aos sogros que não entenderam. — Ela precisa de um banho, de comida e de paz. Enchê-la de perguntas agora não vai fazer bem a ninguém.

Concordaram com Micael e então ele se pôs a subir as escadas com Luiza no colo. Lembranças de quando fazia isso em casa, dos dois felizes indo se amar encheram sua mente, mas ele não permitiu que ficassem, logo as expulsou e voltou a se concentrar em levar a mulher até o banheiro.

Quando já estavam lá, Renato surgiu com uma cadeira de ferro que Micael não tinha nem percebido que havia pegado e então ele pôde a colocar sentada, no box. Saiu do banheiro junto com o sogro, mas diferente dele, voltou pra sala enquanto o velho homem ficou na porta do banheiro como um segurança de boate.

Ao chegar na sala, ele viu sua mulher sentada no sofá, o rosto em lágrimas. Sophia se permitiu chorar no instante em que ficou sozinha, não sabia bem se era alivio, felicidade ou medo de perder Micael. Era muito cedo pra pensar naquilo, mas sua cabeça não conseguia pensar em outra coisa, era uma loucura e traria muita confusão. Micael se sentou ao seu lado e passou um braço por seus ombros.

— Onde eles estão? — A loira quebrou o silêncio depois de uma falha tentativa de secar o rosto.

— Sua mãe está dando banho na Luiza, seu pai de frente pra porta do banheiro e eu aqui querendo saber como você está.

— Não sei como estou, estou feliz e ao mesmo tempo... — Ela não terminou a frase, não se sentia nada orgulhosa daqueles sentimentos confusos.

— Eu sei, eu sei. — Ela encostou a cabeça no peito de Micael e ele a apertou, deixando que chorasse tudo o que tinha pra chorar.

— Você falou alguma coisa pra ela? — Perguntou apreensiva.

— Nós não trocamos nenhuma palavra.

— Acho que não deveríamos contar sobre nós. — Sophia deu a ideia, não tinha coragem de encarar a irmã e contar aquilo. — Ela parece muito fraca e vai ser um baque muito forte saber que a gente...

— Concordo com você. — Ela lhe deu um selinho, mas se sentiu culpada. Beijar Micael agora parecia extremamente errado.

— Micael, precisamos de ajuda pra tirar ela do box. — Renato chamou do alto da escada, ele olhou pra Sophia e lhe deu um beijo na testa, em seguida se levantou pra ajudar. Quando chegou lá, viu Luiza enrolada na toalha, caminhando apoiada nos pais.

— Pode deixar comigo. — Avisou e se aproximou pra pegar Luiza no colo e a mulher sorriu assim que ele a tocou. Caminhou com ela pra seu antigo quarto de adolescente, que Branca mantinha igual, como um santuário.

Embora Micael tivesse feito doação da maioria das coisas de Luiza, Branca havia guardado coisas que lhe eram importantes, então haviam algumas peças de roupas ali, surpreendentemente, incluía roupas íntimas também.

Micael e Branca a vestiram com um vestido florido de alcinhas e a mãe logo desembaraçou seu cabelo, enquanto Micael estava escorado na cômoda, olhando a mulher muda e ainda se perguntando se era possível aquilo ser real. No fim, ele a pegou de volta no colo e enquanto a levava pra cozinha, ela finalmente falou sua primeira frase.

— Amor? — Ela o chamou enquanto Micael descia as escadas e ele parou na hora, se relembrando o que era ouvir aquilo com sua voz.

— Felipe... — Fez uma pausa, sua expressão era de dor e sua voz bem baixa devido a fraqueza. — Ele sobreviveu ao acidente?

— Sim! — Ele sorriu ao ver sua expressão suavizar, percebeu então que estavam indo pra onde o menino estava e que seria uma surpresa gigante pro pequeno. — Ele ficou bem. — Completou e viu um sorriso em seu rosto ao encostar a cabeça em seu peito novamente e então Micael voltou a andar.

Quando chegaram à cozinha, Felipe que estava terminando seu lanche, olhou com curiosidade para o pai com aquela desconhecida no colo. Examinou com cuidado o rosto da mulher e Micael podia ver que estava reconhecendo a mãe das fotos que sempre lhe fora mostrado.

Micael colocou a mulher sentada na cadeira da ponta e então Branca foi lhe fazer um prato com a comida do almoço e a mulher comeu com muita vontade. Aquela altura o menino tinha ido para o lado de Sophia em silêncio, ninguém falava nada naquela casa, era tão surreal.

— Podemos ir pra sala? — Luiza perguntou quando terminou de comer, todos ainda a olhavam sem saber o que dizer. — Gente?

— Vamos, eu ajudo! — Micael se levantou solícito, mas dessa vez não a pegou no colo, apenas a apoiou de lado, com uma das mãos em sua cintura. A mulher sorriu a Micael e passou uma mão em seu rosto, num leve carinho que fez com que Sophia ficasse incomodada em seu lugar.

Caminharam devagar até a sala e a mulher se deitou no sofá maior, se acomodando com as almofadas. Micael olhou pra trás a tempo de ver Felipe cochichando no ouvido de Sophia e a mesma assentiu. Mais silêncio desconfortável até que a própria Luiza o quebrou.

— Não fiquem ai agindo como se eu tivesse voltado dos mortos. — Fez uma piada mórbida que só ela deu risada. — Ai gente, não precisam agir dessa forma.

— Luiza, o que aconteceu com você? — Branca se aproximou, sentando-se perto da cabeça da filha, ocupando o lugar das almofadas. — Fizemos um enterro pra você. 

InevitávelUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum