Capítulo 10

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— Oi, meu amor. — Se aproximou ainda mais, queria abaixar, mas aquele gesso o impedia. — Desculpe ter demorado tanto pra vir me despedir de você. Tem sido difícil. Tem sido muito difícil reaprender a viver sem você. — Já tinha os olhos cheios de lágrimas. — Eu tento ser forte, tem o Felipe que ainda não sabe das coisas e não entende que não vai mais ver você, mas eu te juro que as vezes tenho vontade de desistir. — As lágrimas escorreram e ele fungou, levou as mãos ao rosto, tentando secar, mas parecia impossível. — Sinto sua falta a cada segundo do dia, a todo momento eu fico pensando no que você faria se estivesse aqui. Eu vou seguir tentando deixar você orgulhosa e vou cuidar do nosso filho como você cuidaria, ou pelo menos tentar.

Micael ficou ali conversando com a esposa e perdeu a noção do tempo, tinha deixado o celular e não sabia bem quantos minutos gastou. Sentiu sua perna começar a doer e então resolveu ir embora, precisava tomar seu remédio.

Sophia conversava animadamente com alguém pelo celular, ele pôde ver de longe. Chegou e abriu a porta, entrando no carro com certa dificuldade.

— Amor, depois a gente se fala. — Sophia disse ao ver Micael afivelando o cinto. — Micael chegou aqui, estamos indo pra casa.

— Oi, Marco. — Cumprimentou, o celular estava no viva voz. — Tudo bom?

— Tudo bem sim, e você, já está melhor? — A voz do rapaz era bem simpática, mas isso não foi surpresa, sempre se deram bem. — Sophia está cuidando bem de você?

— Surpreendentemente bem. — Olhou pra loira e sorriu. — Nem parece ela. — Ouviu a risada de Marco e Sophia bufou.

— Eu sabia que vocês tinham potencial para serem amigos. — Brincou mais uma vez. — Vou desligar, dirija com cuidado, Sophia. Amo você.

— Amo você. — A ligação foi encerrada e Micael balançou a cabeça dando risada. — Qual a graça, hein?

— Sempre quis saber como é que um cara legal como o Marco aguentava namorar com você. — Implicou e viu a mulher abrir a boca em revolta, mas não disse nada, desfez a careta e deu risada junto com ele.

— Qual foi, eu sou bem legal! — Se defendeu ainda rindo. — Você sabe disso. — Deu a partida no carro enquanto Micael balançava a cabeça negativamente. — Sabe sim!

— Agora eu sei, três semanas atrás eu não sabia disso não, sinto muito. — Brincou. — Sabe uma coisa que eu gosto em você?

— Ah, então quer dizer que tem alguma coisa que você gosta em mim? — Perguntou com deboche. — Por essa eu com certeza não esperava. Pode me dizer o que é?

— Seu senso de humor. — Respondeu com um dar de ombros. — Você não fica irritada atoa, sua irmã estava brincando e num segundo depois já surtava.

— É, eu lembro. — Sophia deu mais risada. — Igual na última visita que vocês fizeram, que ela se irritou com a gente zoando ela. — Micael balançou a cabeça com a lembrança que parecia distante, mas não tinha nem um mês. — Eu não sou assim.

— Isso é bom. — Ele deu de ombros. — Quero dizer, eu amo a Luiza, mas às vezes tinha que pensar dez vezes no que dizer a ela, senão só Deus podia me proteger.

— A gente devia ter parado de brigar faz tempo sabia? Sinceramente, hoje eu olho pra trás e fico pensando porque a gente se odiava tanto. — Ele deu de ombros, também não sabia o motivo de tantas brigas. — Mas então, antes tarde do que nunca, fico feliz que agora a gente se entende bem, somos amigos, não é?

— Está aí uma coisa que eu nunca pensei que fosse acontecer. — Brincou mais uma vez, tinha um sorriso no rosto. O único momento em que dava sorrisos sinceros, era quando estava com Sophia.

**

Quase um mês após o acidente e a perna de Micael estava quase perfeita, já estava sem o gesso e andava bem, só não podia extrapolar. Assim que tirou o gesso comunicou aos sogros que voltaria pra casa, afinal não via motivo nenhum pra ficar aboletado na casa dos outros se já estava bem e podia voltar a trabalhar.

Estava dentro do carro de aplicativo, enquanto seguia pro trabalho se lembrando do dia em que havia comunicado a família que iria embora.

...

— Vou voltar pra minha casa! — Micael soltou a bomba assim que chegou á mesa de jantar, numa sexta. Sophia quase engasgou com o pedaço de frango que comia.

— Mas por quê? — A loira disse assim que se recuperou do susto. Você não precisa ir.

— Porque eu tenho casa, Sophia, e já estou bem, dá pra me virar com o Felipe. Contou com um dar de ombros que deixou a loira ainda mais desesperada.

— Com quem você vai deixá-lo para ir ao trabalho? — Branca perguntou ao genro que ainda não tinha resposta pra isso.

— Talvez... eu contrate uma babá. Disse rapidamente, já que aquela era a solução mais viável.

— Deixa o Felipe com a gente?! — Sophia pediu lançando á Micael seu melhor sorriso.

— Você quer que eu vá embora e deixe meu filho?Disse alto, no calor do momento sem sequer considerar aquele absurdo.

— Melhor do que você pagar uma babá. A loira argumentou certa de que conseguiria aquilo. Eu cuido dele muito bem, você sabe disso!

— Sophia isso é um absurdo, não posso me desfazer do Felipe! Manteve a negativa e a loira continuou pensando no que o convenceria a lhe deixar cuidar do sobrinho.

— Você não estará se desfazendo Micael, é só enquanto você trabalha. — Ele negou de novo com a cabeça. Aquilo era inviável.

— Mas aqui é muito longe para eu vir buscar todo dia. Insistiu.

— Então você busca ele nos finais de semana... Olha, pelo menos aqui você sabe que seu filho vai ser bem cuidado. Imagina contratar uma babá desconhecida. Seu filho não fala, se ela fizer alguma maldade com ele, você não vai saber. E ele suspirou derrotado, Sophia tinha um fundo de razão. E ele jamais se perdoaria se deixasse que seu filho fosse maltratado por quem quer que fosse.

— Tudo bem Sophia... — Suspirou derrotado e disse á mulher que se levantou da mesa e correu pra lhe dar um abraço inesperado. Branca e Renato os olharam alarmados, mas nada disseram.

— Obrigada, obrigada, obrigada! Repetiu algumas vezes e logo voltou para seu lugar, deixando Micael rindo da sua felicidade. 

InevitávelWhere stories live. Discover now