Capítulo 30

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— Sophia? — A voz de Branca foi ouvida, Sophia virou os olhos sem paciência e arrancou uma risadinha de Micael. — Precisamos falar com você. Desce.

— Espera lá embaixo que a gente já vai descer. — Ela não respondeu, eles ouviram passos se afastando.

— Acho que perdemos a noção do tempo. — Micael disse rindo.

— Com toda certeza, sim. — Sophia concordou e lhe deu um último beijo antes que se levantasse pra vestir a roupa.

Desceram as escadas de mãos dadas, Sophia se sentia estranhamente confortável com aquilo, nem parece que pouco tempo atrás estava com medo da reação da mãe. Com o barulho dos passos, os pais se viraram para olhar na direção dos dois e o foco foi direto para suas mãos juntas. Micael tentou soltar, mas não conseguiu, sorriu á Sophia por aquela simples atitude, significava muita coisa.

— O que querem? — Sophia falou seca, sabendo que viria reclamação pela frente. Felipe pediu pra descer do colo da vó e caminhou para tia que o pegou no colo sorridente.

— Renato achou melhor apoiar vocês dois. — Branca disse receosa, nada satisfeita com aquela situação e deixando aquilo claro em seu tom de voz.

— Ele acha, pelo visto você não. — A loira manteve o tom de voz grosso e recebeu uma olhada da mãe.

— Não, e não vou esconder que desaprovo. Isso é uma falta de respeito a memória da Luiza, ela não merece a trairagem que vocês estão fazendo!

— Que trairagem, mãe? Ela tá morta, deixa de ser doida. — Sophia disse decidida, não permitiria que nada e nem ninguém atrapalhasse novamente.

— Qual é o problema comigo? — Micael se pronunciou, estranhando a ferocidade com que Branca defendia aquela ideia. — Parece que tudo é bem pior do que realmente é.

— Você era marido da minha outra filha! — Branca cruzou os braços e o encarou. — Vocês não podem achar isso normal, pelo amor de Deus.

— Se trata de algo maior que isso. — Ele a encarava sério. — Pra conseguir ficar com a Luiza também passei por isso, vocês não me aceitavam, eu sempre pensei que era por causa da pouca idade, mas nunca foi apenas isso.

— Micael, calma. — Sophia pediu, já prevendo a briga que ia surgir se continuasse daquela forma. — Vamos manter o nível aqui, mesmo que seja difícil.

— É por que eu sou negro? — Ele não desviava o olhar dos sogros, Sophia ficou em choque ao ouvir aquela frase. — Digam a verdade de uma vez.

— Micael, você está exagerando, meus pais nunca ligaram pra isso. Se trata da Luiza... — Começou a falar, mas foi silenciada com um olhar.

— É esse o problema, né? — Disse com raiva. — Não suportaram que eu consegui conquistar a filha de vocês, e agora não suportam o fato da Sophia também gostar de mim. E eu aqui pensando que vocês tinham aprendido a gostar de mim também, mas com certeza é tudo falsidade por conta do Felipe.

— Micael, não é assim que nós pensamos. — Branca começou a falar. — Você está nos julgando mal e nem está dando chance de defesa. O único problema aqui é que há alguns meses você dizia amar a Luiza, não entra na minha cabeça que agora você quer a Sophia.

— Ah, Branca. — Passou as mãos no rosto num gesto de indignação. — É isso sim, não precisa mais esconder. Vou embora, Sophia. — Avisou sem dar mais trela pros dois. — Enquanto seus pais continuarem assim, acho melhor que a gente continue separado mesmo. — Pegou Felipe do seu colo e caminhou pra porta a passos largos.

— Eu simplesmente não acredito que vocês dois são desse tipo de pessoas. Eu me envergonho de vocês, muito. — Encarou os pais ao dizer e então correu pra fora, a tempo de encontrar Micael manobrando o carro. A loira parou na frente impedindo a saída.

— Sai daí, Sophia. — Ele gritou e buzinou.

— Destrava a porta pra eu entrar. — Gritou de volta e ele negou com a cabeça. — Precisamos conversar.

— Acho que você precisa conversar com seus pais. — Ele deu ré, disposto a sair dali de qualquer jeito.

— Preciso é de você. — Lágrimas involuntárias começaram a escorrer. — Você me pediu pra não me afastar de você há pouco, agora sou eu que estou pedindo: Não se afasta de mim. — Ele abaixou a cabeça no volante e então depois de longos segundos, destrancou a porta.

— Me desculpa. — Ele disse quando a loira entrou e se sentou ao seu lado.

— Eu não sabia que meus pais eram assim! — Sophia disse rápido, tentando ficar bem com ele que se sentiu culpado por não ter dado á ela a menor chance de escolha.

— Eu sei que não, nem eu de certa forma. Só que eles sempre foram contra sua irmã se envolver comigo, e agora parece que estou vivendo tudo de novo. — Encostou a cabeça de novo no volante. — É uma situação de merda.

— Amor, eu sempre achei que eles te tratavam tão bem. — Ela deu de ombros e em seguida ergueu a mão pra fazer carinho nos cabelos de Micael. — Depois que vocês tiveram o Felipe principalmente.

— Depois do casamento eles já pararam de pegar no meu pé e quando o Felipe nasceu melhorou ainda mais. — Ergueu a cabeça. — Eu, sinceramente, não sei, é muita coisa pra minha cabeça.

— A gente podia ir embora? — Ele sorriu com o pedido e a voz meiga. — Queria só ficar deitadinha na sala com você assistindo Game of Thrones!

— Aiai, lá volta você com isso. — Ela riu. — Tudo bem, vamos ver essas suas séries doidas.

— Meu querido, quando começar, não vai querer parar.

Ele balançou a cabeça negativamente e então sorriu, finalmente dando partida no carro e seguindo para casa. O caminho foi de conversas aleatórias e com um tom alegre, aos poucos o breve impasse foi esquecido.

Sophia tirou o menino do carro adormecido e passou pela porta que havia sido aberta por Micael. Subiram as escadas e Sophia colocou o menino no berço enquanto Micael foi tomar um banho pra esfriar a cabeça de tudo que havia acontecido.

Enquanto estava pensativo, sentiu as mãos de Sophia lhe abraçando por trás e sorriu.

— Que pouca vergonha, senhorita Abrahão. — Ele disse com um tom brincalhão, pegou uma mão e lhe deu um beijo, logo depois se virou.

— Você demorou, tive que me certificar que estava tudo bem. — Soltou uma risadinha, alisou o corpo nu da mulher á sua frente com um sorriso malicioso. Sophia viu sua ereção e o encarou em seguida. — Eita, nós já fizemos isso hoje, senhor Borges. É só um banho inocente.

— Ah, se a senhorita queria só um banho inocente, deveria ter feito isso quando eu não estivesse aqui dentro. — A puxou pela cintura e a prendeu contra a parede num movimento rápido. Sophia não demostrou qualquer tipo de resistência e os dois se amaram.

**

— Já pensou o que vai fazer em relação aos meus pais? — Sophia estava sentada na cama de roupão, secando os cabelos na toalha enquanto Micael vestia sua cueca.

— São seus pais, eu não tenho nada a fazer. — Deu de ombros e ela o olhou receosa.

— Não?

— Sophia, se eles não gostam de mim, não precisam conviver comigo, nem com meu filho. — Ele observou a namorada ficar com olhos arregalados por surpresa aquilo. — É uma escolha deles.

— Não pode afastar o Felipe deles. — Se levantou parando a sua frente com as mãos na cintura.

— Posso sim, é meu filho. — Vestiu a bermuda e saiu do quarto, caminhando pra sala, Sophia foi atrás.

— É neto deles, já perderam a filha, eu escolhi viver com você, não afasta o neto também. — Sophia pediu em tom de súplica. — Eu sei que podem ser horríveis, mas não quero que sofram, sabemos que Luiza era a filha preferida e o Felipe é o que restou dela aqui.

— Tudo bem, Sophia. — Disse derrotado, ela sorriu. — Mas só volto lá quando estiver preparado pra isso, não me force. — Ela assentiu e lhe deu um selinho.

— Tudo bem, gatinho. — Me deu um selinho. — Agora vou vestir uma roupa e já volto.

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora