Capítulo 8

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— Eu sei de tudo o que já fiz e falei pra você ao longo dos anos, a gente se odeia e todo mundo sabe. Mas a situação mudou, eu quero que a minha irmã veja, seja lá de onde, que nós não abandonamos você! Se eu soubesse que íamos perdê-la tão cedo, eu teria sido uma boa menina para deixá-la feliz sempre.

A loira já tinha os olhos marejados de novo no final do discurso. Incrível como sempre teve desprezo por ela e agora estava ali, querendo lhe dar um abraço e lhe proteger do que a fazia mal, se não fosse pelo fato de que o que a fazia mal, o estava matando também.

— Olha, vou pensar eu juro. — Finalmente lhe deu a resposta e a mulher sorriu. — Você sabe quando eu ganho alta?

— Talvez hoje á noite ou amanhã de manhã. — Ele respirou aliviado aquela resposta, não suportava mais aquele hospital. — Pensa com carinho, essa proposta não vem só de mim, foi ideia dos meus pais também.

— Tá, bom. Mas não acho que seja uma boa ideia, afinal na sua casa tem escadas, e eu com certeza não poderei subi-las. — Levantou uma sobrancelha e a loira sorriu.

— Nós daremos um jeito. Agora eu tenho que ir, minha mãe pediu para não demorar, Felipe tem ficado muito comigo. — Contou orgulhosa de si.

— Tá bom, obrigado pela visita, Sophia.

— De nada Mica, fica bem. — Usou o apelido e ele sorriu, não esperava por aquilo.

Sophia foi embora e Micael mais uma vez se sentiu terrivelmente sozinho. Voltou a pensar que era sua realidade agora, dali pra frente seria assim, um homem sozinho com um bebê pra criar. Não se apaixonaria novamente, não seria capaz de passar por tudo isso novamente.

Uma batida ecoou e tirou Micael de seus pensamentos, viu o pai passar pela porta.

— E aí, meu filho, como está? — Cansado de responder essa pergunta. Pensou.

— Mal, como vou sempre estar daqui pra frente. — Disse ao pai que balançou a cabeça negativamente.

— Ah, meu menino, não fala assim, você ainda é jovem tem muito o que viver. — Levantou uma sobrancelha para o pai, ele não podia dizer isso para ele.

— Quando o senhor perdeu minha mãe, sua vida parou, e está parada até hoje, mais de três anos.

— Eu já estava velho, aliás, eu estou muito velho pra fazer minha vida andar. Você tem vinte e cinco anos! — Insistiu. — Mas não precisamos falar disso agora, ainda é muito cedo.

— Até parece, existem tantas pessoas que se apaixonam na terceira idade. — Disse com um tom sacana e observou o pai dar risada.

— Terceira idade já é exagero. — Se defendeu. — Aí parece que eu tenho oitenta anos.

— A Sophia teve aqui... — Começou a contar, mas foi interrompido pelo pai.

— Ih, não inventa de querer ficar justo com ela. — Ele disse rindo, mas sabia que não era brincadeira. Encarou o pai bem sério.

— Não teve graça, eu não ficaria com a Sophia. — Avisou como se fosse óbvio, mas só recebeu mais risada do pai.

— Você estava com um brilho nos olhos um tanto diferente, sabia?

— Minha esposa acabou de falecer e você vem me dizer que estou gostando da irmã dela? — Disse um pouco mais alto e viu o pai erguer as mãos se defendendo.

— Vou tentar não me surpreender quando você aparecer no escritório dizendo que está namorando a sua cunhada. — Brincou mais uma vez e observou raiva no olhar do filho. — Termine de falar! — Pediu na tentativa de mudar o assunto.

— Ela me pediu pra ficar na casa dela no período de recuperação...

— E você vai? — Ergueu uma sobrancelha, prendendo uma risada.

— Estou pensando, ela pediu por causa do Felipe, ela e minha sogra não querem se afastar. Seria muito egoísta pegar o menino e mantê-las longe, não acha?

— Aham, filho, claro. — Concordou não acreditando no filho. — Bom eu vou pegar um cafezinho e já volto pra cá, tá?!

— Tudo bem, pai.

Jorge saiu e Micael começou a pensar naquela conversa estranha, ele não poderia ser tão rápido, não podia gostar de Sophia, aquilo era loucura, sua esposa havia acabado de morrer.

Mesmo sabendo que seu pai e seu irmão falariam besteira a respeito de Sophia, ele resolveu passar a recuperação na casa dos sogros, ficou com dó de afastar Felipe deles naquele momento tão difícil e acabou cedendo.

**

Recebeu alta no dia seguinte pela manhã e Renato havia ido buscá-lo de carro. O silêncio dentro do veículo era confortável, Micael ficava pensando no que seria da sua vida dali pra frente, enfiado dentro da casa de Branca.

— Como está o Felipe? Perguntou quando estavam quase chegando. — O bracinho dele já está melhor?

— Ele ainda está de gesso, mas eu creio que logo, logo tenhamos que tirar, porque ele é muito levado, já está praticamente cem por cento. — Contou com um sorriso e finalmente Micael sorriu sincero pela primeira vez tinha tido uma notícia boa.

Quando o carro estacionou na garagem da casa dos Abrahão, Sophia estava lá de pé, provavelmente tinha ouvido o barulho do portão e correu para ajudar.

Abriu a porta e sorriu para o cunhado.

— Oi, Micael, precisa de ajuda? — A voz simpática estava presente novamente e ele negou com a cabeça, colocando as muletas pra fora.

— Oi, Sophia, não precisa, acho que consigo me virar. Só quero entrar e descansar. — Virou o corpo e colocou a perna engessada pra fora do carro.

— Tudo bem, só vou segurar a porta pra você aqui então! — Continuou ali parada, querendo agradar. Estava sendo tão simpática que Micael já estava sem graça e mal tinha chegado ali.

— Obrigado. — Forçou um sorriso e então saiu do carro, com certa dificuldade, andar de muletas era terrível.

Sophia também segurou a porta da frente enquanto Micael passava por ela. Aquela altura ele já estava se perguntando onde é que tinha ido parar a Sophia que conhecia, porque aquela ali não era ela. 

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