Capítulo 64

22 7 1
                                    

Sentados um de frente para o outro, os dois finalmente se encararam de perto, alguns instantes. Luiza sorriu com certo deboche e esse simples gesto irritou Micael.

— Vamos dar início a sessão. — O juiz começou. — Alguma das partes já tem um acordo? — Os dois se encararam mais uma vez e Micael se surpreendeu e ergueu uma sobrancelha quando viu o advogado dela lhe estender uma folha impressa.

Assim que bateu o olho nas primeiras linhas deu risada do absurdo que estava escrito ali. Negou com a cabeça inúmeras vezes antes de voltar a olhar para a ainda esposa.

— Você terminou de ficar maluca. — Botou a folha de volta na mesa. — Isso aqui não vai acontecer nunca.

— Micael, será que pode se acalmar? — Marlon sussurrou em seu ouvido.

— Ela quer pensão, Marlon. — Contou e logo passou o papel ao irmão. — Ela é jovem, saudável e perfeitamente capaz de trabalhar. Eu não vou dar dez mil de pensão pra você. — Terminou de falar olhando para Luiza. — Você não vai levar o meu filho. A respeito da nossa casa, podemos vender e repartir o dinheiro.

— Sem chance, eu quero a pensão. — Colocou as mãos espalmadas sobre a mesa.

— Eu não sou rico para pagar dez mil de pensão para você. — Entrelaçou os dedos enquanto explicava o óbvio. — Sem falar que eu vou ficar sem casa, preciso ter dinheiro para comprar outra, ou está se esquecendo que minha filha já já nasce. Você é jovem, vai trabalhar.

— Vocês precisam chegar a um acordo, senão esse divórcio vai se estender até Deus sabe onde. — Luiza suspirou se dando por vencida.

— Ok, mas você precisa pagar pelo menos a pensão do garoto.

— Eu já falei que o meu filho não vai ficar com você. — Disse bem sério e viu a mulher rolar os olhos.

— Não vou abrir mão do garoto! — Luiza insitiu.

— Nós temos outra audiência marcada pra decidir a guarda do Felipe, o que está em questão aqui é apenas o divórcio. — Marlon pediu pelo que parecia ser a décima vez.

— Ok, você vende a casa mobiliada e tudo o que nós tínhamos juntos na época.

— Pode deixar, querida, eu não roubar um real, te faço até um relatório. — Respondeu com certo deboche. — Será que agora você pode finalmente assinar esse maldito papel?

Luiza concordou e o documento não demorou a sair. Micael assinou o documento com um sorriso e sensação de liberdade. Na vez de Luiza, ela olhou a linha pontilhada e suspirou, hesitou um pouco causando expectativa.

— Parece que você finalmente conseguiu o que queria. — Ela olhou antes de assinar. — Está feliz?

— Vou ficar quando você finalmente assinar isso. — Cruzou os braços e se recostou na cadeira. — Não dá para trás agora, assina de uma vez! — A mulher suspirou mais uma vez e então assinou o papel. — Já não era sem tempo, se você tivesse facilidado, não teria demorado tantos meses.

— Não ia ter graça. — Sorriu e viu o ex-marido virar os olhos.

— Você é nojenta. — Finalmente a sessão foi encerrada e os dois saíram com os papéis. — Fica longe de mim, Luiza. — Ela deu de ombros e então encarou Marlon, que sorriu. Micael percebeu a interação estranha e silenciosa que acontecia entre os dois. — O que diabos está acontecendo entre você e a Luiza?

— Não inventa, Micael. — Desconversou e saiu andando sendo seguido por Micael que deixaria aquilo quieto apenas nesse instante.

Micael foi direto para casa, precisava contar as boas novas pra Sophia. Chegou e a encontrou com Branca, as duas tinham melhorado bastante a relação nas últimas semanas.

— Oi, amor. — Se aproximou com um sorriso. — Oi, minha princesa. — Passou as mãos na barriga de sua esposa e por último olhou a sogra. — Oi, Branca.

— Me conta como foi. — Pediu empolgada, esperando boas notícias.

— Bem, agora eu finalmente sou um homem divorciado. — Deu risada e mostrou o documento. Sophia sorriu feliz e a expressão de Branca foi de surpresa.

— Ela assinou? Saiu de casa hoje dizendo que não ia assinar nada, inclusive com um acordo absurdo. — Micael bufou ao se lembrar da proposta. — Fico feliz que deu tudo certo.

— Ela chegou a apresentar a proposta, mas eu bati o pé, não tinha nenhum cabimento. Mas o que não pude evitar, foi abrir mão da nossa casa.

— O quê? — Sophia ficou de pé e disse alto. — Aquela maluca vai ficar com a nossa casa?

— Sophia, eu comprei essa casa depois que casei com ela, você sabe disso. Casamos em comunhão total de bens, tudo tem que ser dividido.

— Vamos para onde? — Disse com um biquinho.

— Eu vou dar um jeito, confia em mim. Teremos uma casa ainda maior que essa, com um quarto para o Felipe, outro pra Emily e até um sobrando para quando a gente inventar de ter mais um.

Micael subiu pra tomar um banho e ficou no quarto descansando por mais um tempo. Sophia conversou com a mãe pelo resto da tarde e antes que Felipe chegasse da escola, a mulher foi embora.

Logo Felipe entrou em casa correndo para dar um abraço apertado em sua tia amada. Micael ouviu sua voz gritando empolgado e desceu para ver o filho.

— Papai! — O menino disse empolgado e correu para um abraço.

— Oi, filhão. — Bagunçou o cabelo do menino. — Como foi o dia? Fiquei com saudades. — O menino desandou a falar contanto animado sobre seu dia na escola e Sophia os olhou com bastante atenção.

— Você deve ser o melhor pai do mundo, sabia? — A loira disse ao noivo quando se sentou no sofá para observá-los melhor.

— Devo ser? — Bufou e arqueou uma sobrancelha. — Eu sou, mulher. — A loira deu uma alta gargalhada e se sentou no chão para brincar junto com eles. Felipe chegou perto e fez carinho na barriga.

— Papai, hoje a Emily deu um chute na mamãe! — Denunciou esperando uma bronca na bebê que ainda não tinha nem nascido. — Eu disse a ela pra não fazer, mas ela fez de novo! Parece que não escuta. — Sophia encarou o menino com um sorriso apaixonado, tinha a chamado de mãe e nem percebeu aquilo, não era a primeira vez que fazia, mas era a primeira desde que Luiza tinha voltado.

— Ela só se mexeu, Felipe. — Explicou com paciência. — Ela é bem grandona e a barriga da Soph está apertada pra ela.

— Então é só ela nascer que resolve. — Chegou perto da barriga e então cochichou pra irmã. — Sai daí, Emily. — Tinha as duas mãos espalmadas na barriga da tia e como se realmente quisesse responder o irmão, a bebê se mexeu.

— A Emily está ouvindo você, filho. — Micael colocou a mão por cima pra sentir também. — Que linda.

— Como sabe que é linda? — Sophia perguntou gostando de ter os dois ali.

— Já viu a mãe que ela tem? — Disse de forma óbvia e a loira riu mais uma vez.

— Eu te amo. — Sophia respondeu baixo e recebeu os lábios de Micael num breve beijo que foi interrompido por Felipe.

— Eca, eca, eca. — Protestou e Micael se levantou.

— Tá legal, agora você vai lá no quarto tirar esse uniforme que eu e sua tia precisamos conversar. — Micael disse sério e Sophia prendeu a risada. O menino não respondeu, saiu pisando duro pro quarto pra escolher uma roupa.

— Micael do céu, o menino é um bebê. Não devia ter falado desse jeito.

— Quero conversar mesmo. — Suspirou. — Teremos que vender essa casa, com todos os movéis dentro. O prazo para anunciar é de um mês. Minha cabeça está doendo só de pensar nisso.

— Eu sei que o assunto é sério, mas a gente pode conversar quando tiver a sós, não precisa expulsar o Felipe desse jeito. — Sophia saiu do chão e sentou no sofá, as mãos na barriga faziam carinho em Emily. — Vamos alugar uma casa, não podemos ficar na rua.

— Vamos superar isso. — Micael se sentou ao lado de sua mulher e passou um braço por seus ombros. — Juntos, a gente supera tudo.  

InevitávelWhere stories live. Discover now