Capítulo 33

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— Vai querer café com leite ou chocolate? — Sophia perguntou ao sobrinho enquanto preparava seu café. Micael estava sentado á mesa com o menino, passando requeijão num pão antes de dar a ele.

— Quero refrigerante! — Pediu e arrancou risada da tia.

— Sem chance, eu te dei duas opções.

— Ah, titia. — Suplicou com as mãozinhas juntas. — Só um copinho.

— Nada disso, Felipe. — Começou a aprontar o copo de café com leite e então ouviu dela algo que a fez murchar.

— Ai, você nem é minha mãe! — Se virou para Micael numa tentativa de apelar. — Deixa papai?

— Respeita sua tia, rapaz, se ela disse que não, é não. — Ele emburrou e chorou um pouco, mas logo teve diante de si a comida e fechou o berreiro pra comer. — Amor, ainda quer ir na sua mãe hoje? — Sophia tinha avisado sobre aquela visita duas semanas atrás.

— Tem um tempão que não vamos lá, estou com saudades. — Ele assentiu se concentrando em adoçar seu café.

— Tudo bem, então nós vamos antes do almoço. — Avisou e Sophia deu risada, sabia que ele amava o tempero de Branca.

— Oba! Eu gosto de ir na casa da vovó! — O menino se meteu feliz.

— Claro, ela deixa você comer um monte de besteiras! — Micael disse pro menino que balançou a cabeça muitas vezes.

— Melhor vovó do mundo! — Ele respondeu arrancando risada dos pais.

**

— Chegamos, crianças! — Micael disse quando parou o carro diante da casa de Branca.

— Acho que só tem uma criança aqui! — Soph respondeu bem humorada e logo tirou o cinto. Micael soltou o filho e o observou sair correndo pra casa de Branca que estava com a porta destrancada.

— Casa de vó é realmente a melhor coisa, né? — Micael comentou enquanto entravam de mãos dadas e a mulher fez careta, não concordava nem um pouco com aquilo. — Que foi?

— Eu odiava a minha, parecia um quartel. — Micael deu risada daquilo.

— Na casa da minha era só bagunça e várias comidas gostosas. Felipe deu sorte também. — Entraram a tempo de ver o menino se jogando no colo da avó para um abraço apertado.

— Vocês deveriam perder essa mania de deixar a porta destrancada, um maluco pode entrar. — Micael avisou aos sogros quando chegaram perto. — Ficam só vocês aqui, pode ser perigoso.

— Não se preocupe, esse bairro é muito tranquilo. — Ela olhou pra filha e foi abraçar. — Que bom que vieram. — Cumprimentou Micael com um beijo no rosto. — Estava começando a acreditar que tinham esquecido o caminho.

— Ainda não. — Sophia respondeu bem humorada e se sentou ao lado dos pais. — Quem sabe um dia.

— Se esquecerem eu vou lá puxar a orelha de vocês. — Brincou abraçando a filha de novo.

— Vovó, tem bolo? — Felipe chegou perto da avó para mais um abraço.

— Tá na hora do almoço, mocinho. — Respondeu e ele fez uma careta de decepção. — Inclusive devemos ir pra mesa, vocês chegaram na hora certinha, acabei de desligar o fogo!

— Foi tudo premeditado. — Micael brincou e recebeu um beliscão de Sophia. — Ai, linda!

O almoço passou descontraído e com brincadeiras com o pequeno Felipe que sempre arrancava risada de todos eles. Terminaram de comer e Sophia ajudou a mãe a tirar a mesa, logo todos foram para sala onde o papo continuou sem perder o bom humor.

As quatro da tarde e Felipe tinha conseguido o que tanto queria, bolo com refrigerante para o lanche, estava na cozinha comendo feliz enquanto os adultos tomavam um cafezinho na sala mesmo.

— Quando vocês vão nos dar uma neta? — Branca sorriu e Micael sentiu Sophia enrijecer ao seu lado.

— Logo, logo. Estamos esperando o Felipe ficar um pouco mais velho! — Micael respondeu os sogros com bom humor. — Pode não aceitar bem um irmãozinho agora.

— Mas já acho uma idade boa, daqui a pouco vocês ficam velhos! — Branca insistiu naquilo, dando risada. Era claramente uma brincadeira.

— Não achei graça, mãe. — Sophia respondeu a mãe com grosseria.

— Ei, Soph. — Micael chamou sua atenção. — Sua mãe está brincando, relaxa, não precisa disso tudo.

— Desculpem. — Ela disse após um tempo. — Falei sem pensar! — Não tiveram tempo de falar mais nada, o barulho da porta se abrindo chamou atenção de todos. — Estão esperando alguém? — Sophia perguntou aos pais, apreensiva.

— Não, mesmo se estivéssemos, a porta tem campainha, não tem porque entrar direto. — Branca respondeu segurando na mão do marido.

— Eu disse para trancarmos a porta.— Micael disse num tom firme e puxou Sophia pra trás dele. Assumiu a dianteira e então a porta finalmente se abriu, revelando alguém que ele nunca mais esperava ver na vida.

Todos estavam paralisados, em choque. Ninguém sabia o que fazer ou falar ao ver Luiza entrando em casa com as próprias pernas.

Micael teve vontade de pular á frente e ampara-la, de abraça-la e dizer que tudo ia ficar bem, mas parecia impossível, estava paralisado, confuso com aquela aparição repentina.

Muitas perguntas surgiram em sua mente ao se perguntar como aquilo era possível. Queria saber onde ela esteve todos aqueles anos e porque tinha ido embora e o deixado sozinho com Felipe, como teve coragem de fazer aquilo, mas ainda, nada saia de sua boca.

A certo momento sentiu o olhar de Sophia em cima de si, mas não conseguia virar o rosto, sentia que se desviasse o olhar de Luiza, era sumiria pra sempre outra vez. Quando voltou a pensar em seu filho, agradeceu mentalmente pelo mesmo estar na cozinha.

Quando Micael realmente reparou na mulher á sua frente, conseguiu perceber o quão mal estava. Luiza estava suja e tinha os cabelos, que outrora haviam sido macios e sedosos, completamente embaraçados e quebrados. Suas roupas estavam em farrapos e estava descalça. A mulher estava magra demais, parecia bem desnutrida e desidratada, estava fraca e isso se via de longe.

Luiza estava longe de ser a mulher que sempre foi, mas ainda assim, era com certeza ela ali de pé, alternando olhares entre os familiares, até que caiu de joelhos e Branca correu para amparar.

— Luiza! — A mulher não tinha mais forças pra se levantar e as duas ficaram abraçadas no chão, Branca chorava tanto que parecia a ponto de passar mal. Renato também se aproximou da filha e em seguida Sophia entrou no campo de visão de Micael ao ir abraçar a irmã. Micael permaneceu parado, sem sequer se mexer, talvez ele também estivesse perto de passar mal. — Filha, o que aconteceu? — Branca questionou e Micael não ouviu resposta, não conseguia se concentrar em nada, era real, Luiza estava de volta. 

InevitávelWhere stories live. Discover now