Capítulo 36

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— Eu juro que se soubesse que você estava passando por isso tudo teria ido atrás de você de alguma forma, mas era impossível saber, fizeram um enterro pra você. — Tentou se justificar, mas ela ergueu a mão o calando.

— Muito tempo passou e você seguiu sua vida. — Tentou secar as lágrimas. — Você não está errado, me desculpa por pensar que...

— Luiza, mesmo com ela, eu sempre pensei que você. — Ela sorriu um pouco em meio as lágrimas. — Nós nunca nos esquecemos, sempre falamos de você pro Felipe também. Eu não te apaguei da minha vida.

— "Nós"? — Ela virou a cabeça um pouco para o lado. — Eu conheço?

— Não acho que seja a hora de você saber quem é. — Disse um tanto sem graça, sem saber se Sophia ficaria irritada ou não se ele falasse a verdade.

— Se ela cuida bem do Felipe e de você, deve ser uma boa pessoa. — Ela o abraçou novamente e ele sorriu, abraçado a sua Luiza que não era mais sua.

**

— O que vocês vão fazer agora? — Branca perguntou á Sophia assim que chegaram na cozinha, logo após deixarem o casal sozinho na sala.

— Não sei! — Disse com sinceridade, estava muito confusa pra tomar alguma decisão sobre aquele assunto. Puxou uma cadeira e se sentou, estava a ponto de chorar.

— Como não sabe, Sophia? — Branca disse com um tom grosseiro. — Luiza esta de volta, vai querer o marido dela.

— Micael não é um objeto, mãe. — Disse ao olhar nos olhos da mãe que não tinha um pingo de empatia com seu sofrimento.

— Mas é, legalmente, marido dela. — Falou com tanta satisfação que deixou a filha caçula abismada.

— Por que tá fazendo questão de jogar isso na minha cara dessa forma? — Ergueu uma sobrancelha enquanto encarava a mãe que simplesmente deu de ombros.

— Porque sempre disse que era besteira vocês dois ficarem juntos! — Branca parecia vitoriosa ao ter razão sobre aquilo. — Nunca devia ter acontecido, a sua irmã jamais aprovaria, e agora você tem a chance de perguntar a ela se eu estava tão errada assim ao dizer que era loucura.

— Chega, Branca. — Renato interferiu e Sophia respirou aliviada por não ter que continuar aquela conversa com a mãe. — Você está passando dos limites, respeite os sentimentos da Sophia.

— Por que vocês estão discutindo? — Felipe perguntou ganhando atenção de todos e Sophia se aproximou dele e lhe fez um carinho na cabeça.

— Está tudo bem, meu amor. — Falou rápido e logo se levantou, andava nervosa de um lado pro outro roendo as unhas, pensando em como tudo ficaria agora.

— Sossega, Sophia. — Branca disse alto e a mulher parou de andar na hora. — Fazer um buraco no chão da minha cozinha não adianta muita coisa.

— Nossa, você deve ser a mãe mais insensível que existe. — Sophia falou baixo, não esperava que ela ouvisse, mas a surpreendendo, ouviu.

— Para de exagero, eu sempre alertei vocês! Fui imposta a aceitar esse relacionamento de vocês por não querer me afastar de você e do meu neto, mas isso nunca foi certo e você precisa reconhecer que ficar com o marido da sua irmã era errado. — Branca jogou na cara mais uma vez e Renato suspirou, aquela mulher era impossível. — Agora você precisa encarar as consequências dos seus atos.

— Eu o amo, não é um sentimento fácil de esquecer. — Respondeu e lágrimas involuntárias escaparam. — Luiza foi dada como morta, fizemos enterro pra ela e missa de sétimo dia! Como eu ia adivinhar que era tudo mentira?

— Não tá feliz que minha mãe voltou? — Felipe novamente chamou atenção pra si, estava bem atento aquela conversa.

— Claro que estou, querido! — Lhe deu seu melhor sorriso. — Não poderia estar mais.

— Está chateada porque ela vai pra casa com a gente? — Ele perguntou e o sorriso se fechou no mesmo instante.

— Ela não vai pra casa com a gente. — Sophia respondeu de imediato, esquecendo-se de suavizar a voz pra falar com o menino e o mesmo se assustou. — Me desculpa, Felipe, mas lá em casa somos nós três, eu você e o papai, tá bem? — O menino balançou a cabeça e não falou mais nada.

— Tem certeza, Sophia? — Branca estava espiando por uma fresta na porta e Sophia teve medo do que ela estava vendo. — Espia. — Apontou pro seu lugar e a filha foi até lá, caminhando devagar.

A cozinha era longe, mas tinha visão direta pra sala, ainda mais que os dois estavam sentados no sofá que ficava de frente pra lá. Sophia olhou pela porta entreaberta, mesmo cada terminação de seu corpo pedindo para que recuasse.

Ela viu Micael sentado ao lado de Sophia, os dois estavam abraçados a sabe-se lá quanto tempo. Se afastaram e após algumas palavras trocadas, se abraçaram mais, luiza parecia chorar emocionada. Aquilo doeu, ela nem sabia o que tinha acontecido, mas já podia imaginar.

Havia errado, naquela casa não tinha espaço pra ela, era Micael, Luiza e Felipe. Sophia não conseguiu olhar por muito tempo, logo se afastou com lágrimas no rosto, não queria chorar diante da sua mãe, mas não conseguiu evitar.

Sempre soube que Luiza era o grande amor de Micael, mas era fácil passar por cima disso quando ela apenas uma lembrança. Agora que era real, saber que teria que suportar vê-los felizes por ai, conviver com eles igual antigamente lhe embrulhava o estômago.

O dia havia começado normal e agora estava tudo um caos, se sentia culpada por não conseguir comemorar o retorno não explicado da irmã, mas a ideia de perder seu grande amor era angustiante. Queria ter certeza de que o sentimento que ele nutriu por ela era mais forte do que já teve pela Luiza, acabar com aquele tormento de vez, mas era impossível.

Impossível porque naquele momento, Luiza estava com ele, como sempre a preferida por todos. Sophia num momento de raiva deu um chute na cadeira que estava vazia e assuntou a mãe.

— Precisa disso, Sophia? — Branca arregalou os olhos, surpresa com o ato.

— Me deixa, mãe. — Ela disse e olhou pra porta fechada novamente. Teve vontade de sair dali e avisar a Luiza que agora Micael era dela, mas ao contrário disso, apenas saiu e passou por eles em silêncio e com pressa, foi até seu quarto.

Quando passou pelos dois, estavam abraçados ainda ou se abraçando de novo, não tinha como saber. Não olhou pra eles, não tinha coragem de olhar nos olhos de Micael enquanto podia finalmente abraçar sua Luiza. Chegou ao quarto e trancou a porta, após isso se jogou na cama, só queria um lugar chorar em paz, sem julgamento. Seu quarto era perfeito pra isso.

— O que aconteceu com ela? — Luiza perguntou aos pais que tinham ido até a sala logo após Sophia, os dois balançaram a cabeça negativamente e então Luiza ficou de pé. — Vou falar com ela pra saber, Sophia foi a única pessoa que não conversei direito ainda. — Micael segurou em seu braço e a fez sentar novamente.

— Deixa que eu vou, fica com Felipe porque daqui a pouco temos que ir pra casa. — Luiza ergueu uma sobrancelha e o encarou com um sorriso incrédulo.

— Você quer ir até lá falar com a minha irmã? Com a Sophia, a mesma que você sempre disse que era insuportável, mimada, implicante e tantas outras coisas? — Perguntou com bom humor e ele sorriu, sem encarar os sogros em nenhum instante. 

InevitávelWhere stories live. Discover now