Capítulo 40

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A certo momento Felipe correu pra ir ao banheiro e então Luiza foi olhar ao redor. Não haviam grandes mudanças na decoração daquela casa, o que mais impactava eram os porta retratos, todos com fotos de Micael e Sophia, alguns até tinha Felipe junto.

Luiza caminhou até o rack e segurou um dos porta retratos que tinha a foto que Sophia mais amava: Era seu primeiro aniversário de namoro com Micael e tinham ido a um passeio romântico, naquele foto se beijavam em uma lancha. Luiza sorriu olhando a foto, mas dava pra ver seus olhos marejados.

— O que ele fez com as fotos do nosso casamento? — Perguntou ainda sem tirar os olhos da foto que tinha nas mãos.

— Guardou em uma caixa no fundo do guarda roupa. — Limpou o esmalte borrado do dedo.

— Então é isso que eu sou: Uma lembrança velha numa caixa? — Sophia então a encarou por um instante.

— Você era isso, agora é uma inconveniente que não enxerga que a vida andou e as coisas mudaram. — Disse sem dó e Luiza deixou a foto no lugar antes de ir se sentar ao lado da irmã.

— Sophia, nós sempre fomos melhores amigas, por que é tão difícil agora? — Ela sabia a resposta daquela pergunta, mas ainda assim Sophia respondeu.

— Porque agora eu amo o Micael. — Ela pareceu prender a respiração, talvez não esperando uma resposta tão direta. — Eu não estou planejando abrir mão desse amor.

— Por que você ficou com ele? — Ela perguntou relutante, não conseguia entender. — Sempre foi uma luta fazer vocês passarem uma tarde juntos sem brigar. Você já o amava? Fala pra mim, pode falar a verdade.

— Depois daquele acidente eu convenci a mamãe e o papai a deixar Micael ficar lá com Felipe durante a recuperação, eu disse que devíamos fazer isso por ser algo que você gostaria. Acontece que eu vi que ele não era o idiota que eu sempre achei que fosse, eu me encantei.

— Vai dizer que foi por mim? — Deu risada um tanto incrédula. — É muita cara de pau dizer que ficou com meu marido porque era o que eu gostaria que acontecesse.

— Nunca na minha vida eu cogitei ficar com o Micael enquanto você estava com ele. Você sempre foi a pessoa que mais me conheceu na vida, Luiza, sabe bem quando estou falando a verdade ou não.

— Espero que um dia nós voltemos a ser aquelas amigas de antes. — Ela suspirou e se afastou um pouco.

— Isso só vai acontecer quando você perceber que o Micael me ama e que você não tem chance. — Respondeu séria e ouviu a risada da irmã.

— Então nunca vai acontecer. — Declarou guerra olhando nos olhos da irmã. — Eu vou reconquistar o meu marido, eu o amo e sinto muito por você, mas eu não vou entrar nessa guerra pra perder.

Ficaram em silêncio se encarando por um tempo e logo depois Felipe apareceu correndo e foi direito para o colo da tia, deixando Luiza surpresa. Sophia sorriu, fez um carinho em sua cabeça e lhe deu um beijo.

— Tia, tô com fome. — Sorriu sapeca e a loira deu risada.

— Mas já? Acabamos de almoçar, fominha.

— Ah, mas eu queria danone. — Pediu com dengo e arrancou mais uma risada da tia. — Só unzinho, titia!

— Ah, agora eu entendi, é fome de besteira? — Vai lá e pega um pra você! — Ele deu risada feliz e um beijo no rosto da tia antes de descer e sair correndo em direção á cozinha.

— Ele te adora. — Luiza comentou com ciúmes.

— Estive junto com ele desde sempre, você gostando ou não, sou a referência de mãe que ele tem. — Ela contou com um dar de ombros e irritou Luiza ainda mais.

— Eu sou a mãe dele, Sophia. Não me rouba isso também. — Disse alto, irritada. — Você não tem direito de dizer que é mãe dele, eu não estava com meu filho porque não podia. Tenho certeza que o Micael já te contou o que aconteceu e mesmo assim, você não teve capacidade de perguntar se estou bem.

— Ele contou o que aconteceu, me desculpe por ser insensível e não perguntar como você está depois de ter passado por tudo isso, mas consegue se pôr no meu lugar? Você não me deixa te perguntar as coisas porque já chega aqui falando do Micael e em como vai tirar ele de mim!

— Um monte de desculpas pra esconder o fato de que você queria que eu tivesse morta ou continuasse sumida pra ficar usurpando a minha família. — Atacou novamente e Sophia respirou fundo. — Felizmente isso não vai mais acontecer, eu tenho certeza que o Micael vai cair em si e sinceramente eu não sei como, mas sinto que você morre de medo é por isso que me ataca tanto: Insegurança.

— Eu nunca quis pegar a sua família pra mim, se você não acredita nisso está transformando toda nossa relação em nada. Éramos amigas, você sabia de cada passo da minha vida, eu sempre fui sincera em relação ao Micael. As coisas mudaram quando você sumiu, mas uma prova de que eu nunca quis tomar o seu lugar é que eu sempre fiz questão de deixar aquela foto sua com Felipe ali. — Apontou pro porta retrato. — Eu sempre conversei com ele e expliquei que não era sua mãe, sempre contei histórias de vocês e reforcei que você o amava. Nunca quis o seu lugar.

— Nunca quis, mas aconteceu e você parece bem feliz ocupando uma lugar que é meu. — As duas ficaram se encarando em silêncio.

A porta da frente se abriu e Micael passou por ela cantarolando uma música baixinho. Sophia saiu de perto da irmã e foi até Micael, lhe dando um beijo de boas vindas e tampando a visão de Luiza que seguia em silêncio ali.

— Estava com saudades, amor. — Disse ao sair do beijo, com um sorriso. — O dia hoje pareceu se arrastar.

— Eu também estava, meu lindo. — Um beijo mais rápido foi iniciado. — Tudo bem no trabalho hoje?

— Meu pai quer que a gente vá jantar na casa dele hoje. — Disse com um tom cansado e impaciente.

— Então vamos, por que essa cara?

— Eu odeio os jantares em família que meu pai inventa! — Desabafou com a esposa. — Ele tem um excesso de brincadeiras e piadas que me tiram do sério! Absurdamente diferente de quando está no escritório, você o conhece bem.

— É bom saber que algumas coisas não mudaram. — Luiza se fez notar e ele ergueu a cabeça, focando na mulher parada no meio da sala com um sorriso convidativo.

— O que está fazendo aqui? — Ele caminhou pra perto, mantendo Sophia ao seu lado, num abraço.

— Estou olhando pra ver no que você transformou a minha casa. — Respondeu com certo tom de deboche.

— A casa está praticamente igual, não tiveram muitas mudanças nesses anos. — Deu de ombros. — Achei que você não viria aqui, Sophia ia levar o Felipe lá.

— Acontece que duas semanas se passaram e ela não apareceu. Já passei anos longe do meu filho, não é justo que eu fique parada esperando a boa vontade de vocês. — Ele ponderou um instante.

— E cadê o Felipe? — Perguntou a Sophia.

— Foi atrás de um danone. — Balançou a cabeça de novo.

— Muito bem, preciso de um banho. — Avisou e deu um selinho em Sophia. — Amo você. — Ela não esperava por aquilo na frente de Luiza e tinha certeza que ele fazia para que ela perdesse ainda mais a insegurança que tinha em relação a eles dois.

— Patético. — Luiza disse com um sorriso no rosto assim que Micael saiu. — Vocês são patéticos.  

InevitávelWhere stories live. Discover now