— Eu não tenho culpa nenhuma, você abriu a boca e foi contar pra sonsa da Sophia, ela não tinha visto nada. — Gritou pra ele, passando a mão no pulso, onde Micael tinha segurado.
— Nunca na minha vida eu imaginei ouvir você xingando a sua irmã da forma como está fazendo agora. — Disse desapontado. — Eu não sabia que você era essa cobra.
— Eu não sou cobra, você está com a minha irmã! — Ela o olhou nos olhos com ódio. — A irmã que você sempre disse que odiava! E eu amo você!
— Mas eu não amo você! — Repetiu aquilo mais uma vez, parecia que Luiza não fazia questão de ouvir aquelas palavras. — Eu já disse quinze vezes que acabou.
— Você me ama, todos sabem disso, não tinha que ter ficado com a droga da minha irmã!
— Não foi de propósito, já tentamos explicar isso. Luiza, você estava morta.
— Eu nunca estive morta, Micael. Eu estava presa no meio do mato com um abusador enquanto você seguia a sua vida sem nem lembrar de mim. Aí eu tenho que voltar e sorrir como se fosse normal toda essa merda.
— Pra todos nós você estava. — Falou bem baixo e soltou um suspiro. — Eu estava arrasado, ela me ajudou, cuidou de mim, do Felipe e nunca pediu nada em troca.
— Ela se aproveitou da sua tristeza.
— Que droga, a Sophia não é assim! — Voltou a se exaltar, cansado daquela merda de discussão que parecia não levar a lugar nenhum. — Agora ela está por ai, sabe-se lá onde e sozinha. Não é possível que você não se importe. Você sempre a amou.
— Eu amo, ela é minha irmã caçula e tenho certeza que isso vai se resolver, quando nós nos resolvermos.
— Isso não vai acontecer, desiste.
— Micael, a Sophia já te largou.
— A Sophia me ama. Será que é difícil pra você entender? — Perguntou mais uma vez, tinha impressão que já tinha dito aquilo mil vezes.
— Olha o que você está dizendo, nunca me diria isso. — Ela deu um passo pra trás, finalmente abalada de verdade.
— O Micael que você conhecia mudou, Luiza. Eu sofri e fui viúvo por anos, conheci uma pessoa bacana e sinceramente não quero fazer ela sofrer.
— E me fazer sofrer tá tudo bem? Eu sou a mulher que você sempre disse que amava, a mãe do seu filho?
— Não quero fazer ninguém sofrer, você já não estava comigo, me desculpe, mas a Sophia agora ganhou meu coração.
— NÃO ESTAVA COM VOCÊ PORQUE NÃO PODIA ESTAR! — Gritou já descontrolada e Micael não a encarou. — Quer saber, você não quer ficar comigo, vai perder as duas. — Saiu de lá sem esperar resposta de Micael, que apenas bufou e entrou, fechando a porta atrás de si.
Buscou o celular e ligou pra Sophia, se decepcionou ao escutar o toque ali no quarto, nem o telefone a mulher havia levado. Jogou o celular longe e levou as mãos a cabeça, tentando pensar numa forma de convencer Sophia de que queria ficar com ela e só.
**
Sophia havia pegado o ônibus com um trocado que havia deixado no bolso após comprar o pão de manhã e ido até a casa da mãe, por mais que soubesse que não era a melhor opção, não tinha pra onde ir e já estava anoitecendo. Chegou lá mais de duas horas e meia depois e ficou decepcionada ao perceber que Luiza ainda não tinha chegado, já que havia ido com o carro da mãe, deveria chegar antes dela.
— Sophia? O que faz aqui? — Branca perguntou quando viu a filha entrando em casa com um olhar desnorteado e completamente molhada. — Você está encharcada, vai pegar um resfriado! — A loira estava tão desnorteada que nem havia percebido a chuva, como era possível?
— Luiza e Micael eles... — Não conseguiu concluir nenhum pensamento e caiu no choro novamente. Branca se aproximou e abraçou a filha. — Eles...
— Sophia, você sabia que isso ia acontecer em algum momento. — Branca disse com dó da filha, mas ninguém tirava de sua cabeça que aquele relacionamento era errado, mesmo após tantos anos.
— Eu não sei o que aconteceu lá. — Se afastou e secou o rosto, ou apenas tentou. — Aconteceu um beijo e então eu não quis saber mais de nada.
— Do jeito que está abalada, parece que aconteceu muito mais! — Branca puxou a filha pra cozinha, precisava dar a ela um copo de água para que se acalmasse antes de ir tomar um banho quente.
— Se não aconteceu, vai acontecer! — Disse chorosa. — Por que ele ia me escolher? A Luiza tem razão, eu não sou bonita como ela, não sou legal como ela, nem tão inteligente, nem tão engraçada.
— Não é assim, você tem suas qualidades, assim como a Luiza tem as dela.
— Só que a Luiza é melhor em tudo! — Chorou ainda mais. — Ele não tem nenhum motivo pra escolher, até mesmo você quando tem que escolher escolhe a Luiza.
— Ei, eu amo as duas.
— Ama, mas a filha preferida sempre foi ela e tudo bem, eu aceito isso, não da pra mudar. — Fungou. — Eles vão ficar juntos, vão recomeçar tudo de onde nunca devia ter parado e eu vou ser o quê, mãe?
— Toda essa crise existencial por conta de um beijo? — Disse sem empatia e Sophia suspirou, sabia que não podia contar com a mãe naquele momento, não sabia o motivo de insistir e esperar algo que nunca iria acontecer vindo de Branca: Compreensão.
— Olha a fujona. — Luiza chegou na cozinha com um largo sorriso e passos tão leves que nenhum das duas havia percebido. — Não sei porque, mas eu tinha certeza que você estaria aqui.
— Deve ser porque eu não tenho mais pra onde ir. — Respondeu com desprezo e viu a irmã rir um pouco mais.
— Micael ficou te procurando como um louco. — Um leve sorriso surgiu em Sophia, mas logo foi destruído pelo restante da frase. — Depois eu o enlouqueci de uma forma diferente, foi ótimo você ter nos deixado a sos. — Sophia cuspiu toda água que tinha na boca em Luiza e o restante que tinha no copo jogou na mesma.
Luiza ia avançar na irmã, mas Branca foi mais rápida e se enviou entre as duas, com os braços abertos tentando evitar um desastre entre as duas irmãs que sempre se amaram tanto.
— Ninguém vai brigar aqui. — Falou as duas e Luiza pegou um pano para secar seu rosto. — Vamos parar com isso, vocês são irmãs!
— Precisava mesmo me contar isso? Você não tem a menor consideração por mim? — Perguntou com mais lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Foi você que saiu correndo, deixou o caminho livre pra eu fazer o que quiser. — Debochou de novo, decidida a não deixar que Sophia e Micael ficassem juntos.
— Igual a você quando morreu! — Finalizou a conversa e saiu da cozinha pisando forte, indo para seu quarto, precisava de roupas secas, banho quente e uma cama pra deitar.
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...