Capítulo 2

38 5 2
                                    

— Você me diz isso toda vez, né? — perguntou retoricamente com um sorriso de canto.

— Claro, você dirige feito um louco. — O sorriso aumentou e ele prendeu o cinto de segurança enquanto virava a chave.

— Sou pior na moto, você sabe! — disse com certo orgulho, fazendo a mulher revirar os olhos, pois sempre tinha pavor quando ele inventava de andar de moto por aí.

— É por isso que não gosto de andar de moto com você e acabo ficando preocupada toda vez que você sai com ela. — disse com um tom de repúdio. O marido deu risada e não disse mais nada sobre o assunto.

A viagem foi tranquila e Luiza controlou o marido toda vez que via que ele estava rápido demais. Ela tinha pavor de que acontecesse algum acidente por conta de excesso de velocidade e sabia que era bem capaz se Micael continuasse correndo como um louco.

— Podíamos ter chegado meia hora antes se você não tivesse me regulado o tempo todo. — reclamou assim que saiu do carro, observando a esposa ir tirar o menino da cadeirinha. — Eu sou responsável, não ando acima do limite de velocidade; você não precisa ficar vigiando o velocímetro.

— Chegaríamos meia hora antes no céu, Micael. Do jeito que você corre, se bater, vai todo mundo morrer. Meu filho é novo demais para morrer; ele só tem sete meses! — rebateu, caminhando até a porta. — Deixa de reclamar, ninguém liga se a gente chegou aqui às onze e meia ou ao meio-dia, mas ligam se chegamos em segurança.

— Tudo bem, meu amor. — suspirou, dando-se por vencido. — Não está mais aqui quem falou. — Ela sorriu e lhe deu um beijinho, logo após tocou a campainha e não demorou para Sophia surgir do outro lado da porta com um sorriso encantador destinado à irmã.

— Lu, que surpresa! — Sophia disse, feliz ao ver a irmã, já que fazia bastante tempo que não iam lá. — Ah, mas é claro que você tinha que vir junto. — Olhou para o cunhado com uma expressão de nojo que foi recíproca. — Você não pode começar a vir aqui sozinha, mana?

— Sophia, dá para tratar meu marido bem? Ele nem falou nada e você já começou a implicar na porta. — Ela a repreendeu, e a jovem rolou os olhos e ergueu as mãos em rendição.

— Seu desejo é uma ordem, irmã. — Disse com um tom de simpatia tão forçado que foi a vez de Micael rolar os olhos. — Olá, Micael. Tudo bem? — Forçou um sorriso nada simpático.

— Oi, Sophia. — Respondeu com um tom parecido. — Estou ótimo, e você? — Mas ela não teve tempo de responder.

— Agora podemos entrar, muito melhor assim. — Luiza interveio, enquanto os dois ainda se encaravam com evidente antipatia. — Onde estão nossos pais? — Entraram na casa e Sophia pegou Felipe dos braços de Luiza; o menino adorava a tia. Os pais dela logo apareceram para cumprimentar, antes mesmo que Sophia respondesse à pergunta da irmã.

— Olá, Micael. — Branca cumprimentou, extremamente simpática, após abraçar Luiza e beijar a testa do neto. — Como você está?

— Oi, pessoal! Estou bem, e vocês? — Micael cumprimentou os sogros com um sorriso assim que chegaram à sala. Ele gostava de todos, exceto de Sophia, que, na sua opinião, era infantil demais para a idade.

— Trouxeram o Felipe para ver a vovó! — Sophia balançou o sobrinho na direção da mãe, e o menino riu, batendo palminhas em seguida. — Não é, Felipe? — Sua gargalhada era gostosa de ouvir; todos sorriram para o bebê, que sempre era o centro das atenções onde quer que chegasse.

— Se foi para me visitar, por que ele está no seu colo e não no meu? — Branca brincou, fingindo estar chateada, e todos riram novamente.

— Porque eu gosto mais do colo da titia. — Sophia fez voz de bebê, como se fosse Felipe falando, o que fez Micael revirar os olhos.

— O que foi? — Ela perguntou, já irritada, tendo flagrado a reação do cunhado. — Algum problema, cunhado?

— Sério, me deixa em paz. — Micael estava sem paciência para lidar com dramas por bobagens. Sentiu um beliscão de Luiza no braço esquerdo. — Ai, Luiza! — Reclamou, esfregando o local. — Isso doeu!

— Será que vocês dois podem parar de agir como crianças? — Luiza interrompeu, olhando para ambos com desaprovação. — Viemos aqui para passar um tempo agradável em família, não para criar tensão.

— Claro, não estou a fim de briga, só peça à sua irmã para me deixar em paz. — Disse sem olhar para a loira e soltou uma bufada alta.

— Cara, me erra! — Sophia replicou a Micael, fazendo-o revirar os olhos, irritado com aquela infantilidade.

— Então, vamos almoçar? — Renato, o pai das meninas, perguntou na tentativa de aliviar o clima e descontrair o ambiente.

— Só se for agora! — Luiza disse com um tom que arrancou risadas do marido, que a encarou sério.

— Que fome é essa, amor? — Perguntou com um sorriso.

— A fome de quem amamenta, meu lindo. — Deu-lhe um beijo na bochecha e caminhou para a mesa de jantar, seguindo os membros da família.

O almoço transcorreu de forma descontraída. Micael e Sophia estavam sentados frente a frente, mas em nenhum momento se olharam ou conversaram diretamente, e foi assim que conseguiram manter a paz.

— E seu irmão, Micael? — A sogra perguntou, puxando assunto assim que saíram da mesa, indo para a sala. Ele tinha um irmão quatro anos mais velho, Marlon.

— Está bem, cada dia mais chato e mandão, como se tivesse alguma autoridade. — Respondeu com um tom de revolta, arrancando risadas da família.

— É assim que é a vida de quem tem irmão mais velho. — Sophia falou, olhando para Micael pela primeira vez depois de todo o desentendimento da chegada. Os dois riram juntos, o que era um milagre.

— Eu nem mando em você, garota! — Luiza se defendeu, ainda rindo da situação. — Sou uma ótima irmã mais velha!

— Luiza, eu tenho vinte e dois anos e você vinte e três; você sempre tentou mandar em mim, não se faça de desentendida. Faz isso o tempo todo, fez quando chegou aqui hoje, cara de pau. — Ela acusou, e Luiza apenas riu, sabendo que era verdade.

— Vida sofrida essa nossa, né? — Micael respondeu à cunhada, ainda com um tom de brincadeira que não era comum entre os dois.

— Coitado do Felipe, esse que vai sofrer com essa mãe mandona que tem. — Falou, rindo, e Micael concordou com um aceno, antes de completar.

— Ah, com certeza, o Felipe vai ter que aprender a lidar com isso. — Completou, entrando na brincadeira.

— Hey, será que dá pros melhores amigos pararem de falar como se eu fosse um monstro? — Já estava ficando com raiva. Esse era seu maior defeito, embora fosse extremamente simpática e bem humorada, se irritava facilmente e sempre acabava fazendo tempestade em um copo d'agua.

— Se acalma, é só brincadeira. — Ela não respondeu o marido, só revirou os olhos e ele soltou um longo suspiro. 

InevitávelWhere stories live. Discover now