Capítulo 20

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— Você não pode fazer isso. — Repreendeu, mesmo dizendo semanas atrás que ela devia falar.

— E por que não? Você me disse que eu devia contar. Pensei muito a respeito disso tudo e não é justo eu manter essa relação sendo que nem dele eu gosto mais.

— Já é praticamente impossível resistir a você namorando, se você estiver solteira então... — Disse olhando em seus olhos e ela sorriu, convidativa.

— Não devia resistir. — Mordeu o lábio inferior, sabia que aquilo o cativava.

— Sophia, isso é um amor impossível. — Estava tentando manter a lucidez.

— Impossível, por quê? Por causa que nossos pais vão achar ruim? É sério que vamos viver a vida deixando essa paixão escapar por causa que as pessoas vão achar estranho você ficar com a sua ex-cunhada? Ninguém tem nada a ver com a nossa vida! Esses dias que a gente decidiu se afastar foram horríveis.

— Eu também achei, mas... — Não conseguia completar.

— Quem complica a sua vida é você. — A loira acusou e deixou o moreno sem palavras. — Eu tenho um sentimento muito especial por você...

— Sophia, eu... — Ela colocou dois dedos em sua boca, o interrompendo.

— Não precisa me dizer nada, entendo como você pensa. — Sorriu, compreensiva. — Ainda tem fotos da Luiza por toda a casa, você ainda a ama, mesmo que goste de mim e é por isso que não aceita essa possível relação. Tudo bem Micael, não fico chateada, mas também não vou te aguardar pra sempre. Agora me dê licença, preciso terminar de me arrumar.

Ela fechou a porta e Micael voltou pra sala um tanto atordoado. Marco estava sentado no tapete, brincando com o bebê.

— E então, ela vai demorar muito? — Perguntou quando Micael se sentou no sofá.

— Está terminando de se vestir, já já ela desce.

— Você parece diferente. — O rapaz o analisou e Micael soltou um suspiro. — O que a Sophia te disse?

— Algo sobre a Luiza que me deixou pensativo. — Não podia dizer tudo, uma meia verdade seria suficiente naquele caso.

**

Ver Sophia sair de casa com o namorado doeu muito mais do que Micael achou que doeria. Marco sorriu quando a viu arrumada, disse que estava linda, passou as mãos por seu pescoço e a puxou para um beijo. Micael olhava os dois sem piscar, impotente diante daquela situação. Sophia finalizou o beijo com selinhos e sorriu ao vê-lo dizer que a amava.

Os dois deram as mãos e caminharam juntos para a porta, olharam pra trás, para dizer "tchau" e então logo saíram, deixando Micael ali, parado como um idiota complicando sua própria vida, como Sophia lhe disse.

Micael aproveitou o restante do domingo com o filho sem conseguir tirar Sophia da cabeça. Queria muito saber o que os dois estavam fazendo, sua imaginava estava a mil e ele ficou triste de sequer pensar que os dois estivessem num motel. Se perguntou se quando saia ou estava falando ao telefone ela também se sentia daquele jeito, com aquele ciume ridículo, um sentimento de posse de quem nem era seu de fato. Balançou a cabeça e tentou expulsar Sophia por algum momento, olhou pra Felipe e focou no filho, era o melhor a se fazer.

Perto das dez, Micael foi colocar o filho pra dormir, realizou toda rotina norturna e sorriu ao ver seu filho no berço, tinha certeza que Luiza ficaria orgulhosa dele se visse como agora conseguia fazer com que dormisse rápido. Apagou a luz e deixou o abajur ligado, indo em direção ao seu quarto para tomar um banho.

Tentou não se apegar ao fato de que Sophia ainda não tinha chegado e ficou se sentindo pior ainda ao pensar que ela só voltaria de manhã. Vestindo uma bermuda e uma camiseta, ainda com os cabelos úmidos e desgrenhados, ele voltou a sala, dizendo a si mesmo que era pra ver televisão, mas sabendo que era pra esperar a loira chegar.

E ela chegou perto da meia noite, ele já cochilava no sofá. Acordou com o barulho da porta se abrindo e sentou, coçando os olhos. Sophia não disse nada além de "boa noite" e passou direito, indo em direção á escada.

— Ei! — Ele chamou e a mulher parou de andar e se virou, esperando que falasse alguma coisa. — Não vai falar comigo direito?

— Não decidimos que era melhor não falar? Estamos com esse tratamento há três semanas e eu não te vi reclamar. — Ela deu de ombros, fria, distante. — Está tarde, amanhã ambos acordamos cedo, vamos pra cama.

— Espera aí, quero conversar com você. — Chamou e ela se virou novamente, dessa vez caminhando pra perto dele. — Achei que não voltaria pra casa hoje.

— Eu não queria, mas tenho que voltar, afinal você tem que trabalhar amanhã e eu preciso tomar conta do Felipe. — Respondeu no mesmo tom de antes e aquilo estava abalando Micael. — Mais alguma pergunta?

— Por que está me tratando tão mal? O que aconteceu nessa sua saída hein? Onde foram?

— Não é da sua conta. — Foi grossa e o viu franzir a testa, não estava esperando por aquilo. — Meu bem, estou te tratando como você quer ser tratado, você pediu por isso, você impôs essa distancia entre nós, não pode reclamar agora.

— Eu? Se eu me lembro bem você concordou que era melhor assim pra gente parar de se agarrar por aí, você também sabe que é uma maluquice isso que a gente sente.

— Só que eu cansei de lutar contra isso, Micael. Te falei mais cedo, é forte demais e eu já botei na minha cabeça que não é tão errado assim. A Luiza está morta, ela não foi viajar, ela não está doente, ela não te largou. Está morta!!

— Não fala assim! — Viu a tristeza em seus olhos se intensificar.

— É a verdade e eu sinto muito por isso, mas já se passaram seis meses e se você não tivesse de alguma forma superado isso, não sentiria o que sente por mim. Não dá pra viver a vida pensando em como uma pessoa que já morreu se sente.

— Você está sendo cruel, é errado, todo mundo vai dizer que a gente já tinha algo antes da Luiza morrer. — Respondeu e viu a mulher bufar bem alto.

— A gente tinha algo antes da Luiza morrer? — Perguntou com um tom de deboche e esperou que ele respondesse, Micael apenas balançou a cabeça negativamente. — Então foda-se o que vão dizer, ninguém tem nada a ver com a nossa vida.

— Não é assim que funciona não. — Disse ainda indeciso. — É muito mais complicado do que isso.

— Tá bom, eu tentei! — Jogou as mãos em rendição. — Vou fazer as minhas malas. — Se virou pra ir em direção ao quarto e sentiu a mão de Micael a segurar.

— As malas? Você vai embora? — Tinha os olhos arregalados, não esperava por aquilo.

— Eu e o Marco fomos á um restaurante, conversamos bastante sobre a nossa relação e como andamos distante um do outro. Eu acabei contando pra ele que fiquei com outra pessoa. — Micael soltou seu braço ainda mais surpreso. — Pedi desculpas, ele brigou comigo mas no fim se pôs no meu lugar e tentou entender o que me levou aquilo. Ele me pediu em casamento.

— Você diz que chifrou ele e esse corno manso te pede em casamento? — Disse alto, tão alto que fez Sophia se encolher, assustada. — Que absurdo é esse? 

InevitávelWhere stories live. Discover now