Capítulo 24

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— Você tem que voltar pro escritório! — Se rendeu e arriou os ombros, falando num tom bem mais brando. — Não pode se demitir e ir trabalhar pra concorrência, aquilo lá é seu e do seu irmão!

— Você não me deu escolha. — Micael se sentou no sofá e em seguida Jorge sentou-se também. — Brigou comigo porque tive que levar meu filho de volta pra casa dos avós. Não consegue enxergar o quanto isso é ridículo? Mesmo se eu não fosse seu filho, você é muito intransigente! Fiquei viúvo há poucos meses e tive que aprender a me virar com o menino, não é justo levar bronca por ter levado o garoto até a casa da Branca. As vezes parece que a única coisa que te importa é o escritório, somente com ele que se preocupa.

— Claro que me preocupo com vocês também. Eu amo vocês dois. — O tom de Jorge pareceu até um tanto chateado que o filho duvidasse daquilo. — Eu apenas levo meu trabalho á sério.

— Pai, eu não estou a fim de voltar pro escritório. Estou bem onde estou. Tenho um horário bacana e um chefe que compreende as necessidades de ter um filho sem mãe. — Contou com sinceridade e então surpreendeu ainda mais o pai.

— Mas não é sua família, não é sua empresa e nem nunca vai ser. Eu e seu irmão precisamos de você. Eu prometo ser flexível em relação ao meu neto também. — Prometeu e Micael ergueu uma sobrancelha, não acreditava naquilo.

— Tudo bem pai, vou pensar, ok? Não garanto nada, mas vou pensar. — Disse esperando dar um fim aquela conversa e ele então se levantou, parecia minimamente satisfeito.

— Espero que tome a decisão correta. — Micael também se levantou e recebeu um abraço do pai. — Sem querer me meter, mas não devia se envolver com a sua cunhada. — Caminhou até a porta sem nem esperar resposta do filho e foi embora, deixando um Micael pensativo.

— Está tudo bem? — Micael ouviu a voz da loira depois de algum tempo ali sentado sozinho no sofá. Sentiu o abraço quente e em seguida suas mãos passando em seu cabelo, num carinho delicado.

— Está. — Foi só o que respondeu e de um jeito seco, deixando claro que não estava tudo bem.

— Você tem certeza? Não me parece muito bem. — Sua voz estava preocupada, deitou a cabeça em seu colo recebendo ainda mais carinhos na cabelos.

— Meu pai quer que eu volte a trabalhar pra ele. — Contou com um tom triste, não era bem aquilo que o estava deixando pensativo.

— E o que isso tem de tão horrível? É a empresa da sua família. — Se levantou e sentou de frente pra ela.

— Meu pai consegue ser insuportável como chefe. — Ela o encarou desconfiada de que tinha mais e ele não quisesse incomodar.

— Não parece ser só o que te incomoda. — Perguntou o encarando tão profundamente que ele sentiu que pudesse ver sua alma. Micael soltou um suspiro e ergueu os ombros, como sua regra número um era não mentir, não tinha sentido esconder aquilo dela.

— Meu pai disse para eu não me envolver com você. — Confessou e a viu ficar em choque um instante e logo em seguida sua expressão suavizou.

— E você? — Tinha um tom de voz chateado, mas aquilo não era nada fora do que esperava. — O que respondeu?

— Não respondi e ele foi embora. — Se encararam em silêncio por algum tempo, nenhum dos dois sabia o que dizer. — Mas pra ser sincero com você, eu não saberia o que responder pra ele, não teria nem contado se ele não tivesse sacado isso só de olhar pra gente.

— E aí? — A loira deixou a chateação transparecer e Micael franziu a testa com o tom agressivo que ela passou a adotar. — Vai seguir o conselho do pai do ano?

— Eu não disse nada Sophia, se calma. — Se aproximou dela, mas a loira ficou de pé, impedindo que a tocasse. — Eu sei que ele não é o melhor pai, mas é o único que eu tenho!

— Você nunca diz nada, deixa sempre as pessoas darem opinião sobre o que não devem. — Não ficou pra ouvir a resposta de Micael e subiu as escadas apressada. O moreno colocou as mãos no rosto e bufou, sem entender muito quando tinha deixado alguém dar opinião em sua vida dessa forma.

Ficou ali sentado por alguns minutos antes de caminhar escada acima pra conversar com sua namorada, afinal precisavam se resolver antes que tudo piorasse.

Bateu três vezes na porta e logo ouviu um entra, baixinho com um tom choroso. A loira estava deitada na cama, de bruços e abraçada a um travesseiro, realmente chorando. Ele respirou fundo e então caminhou pra se sentar perto dela, passando uma mão em suas costas num carinho aconchegante.

— Onde está Felipe? — Escolheu começar aquela conversa de uma forma mais amena.

— Dormindo no berço. — A loira fungou e respondeu em seguida.

— Sophia, por que está chorando? — Ela deu de ombros e não respondeu. — Essa conversa não vai funcionar se você não falar também, Soph.

— O que eu tenho pra falar? — Ela então se sentou e o encarou. Os olhos e o nariz estavam vermelhos por conta do choro recente. Micael ergueu uma mão e secou suas bochechas.

— O que você está pensando? — Ela deu de ombros de novo e soltou um suspiro pesado. O moreno se manteve em silêncio aguardando que ela falasse alguma coisa.

— Que isso nunca vai dar certo! — Ele arregalou os olhos surpreso, por mais que as palavras do pai o deixaram pensativo, ele não tinha sequer cogitado terminar com ela. — Você se importa muito com a opinião e a aceitação das pessoas a sua volta.

— Eu me importo com a opinião da minha família e isso é óbvio. Mas eu não pensei em terminar com você por conta do que o meu pai falou, eu só fiquei pensativo, tá legal? Foi só a primeira pessoa a dizer que isso é uma loucura, ainda tem uma dezena. — Levou as mãos a cabeça, era tão complicado se expressar. — Eu só acho que... — Não conseguiu terminar aquela frase.

— O que Micael, você acredita que a Luiza vai voltar do mundo dos mortos e ficar chateada se descobrir que a gente transou? — Suas palavras sempre duras em relação a irmã o deixou frustrado.

— Você é cruel demais, sabia? Não precisa falar desse jeito. — Se levantou da cama e cruzou os braços, olhando nos olhos de Sophia. — Precisa começar a ter mais empatia, está falando da sua irmã!

— Você voltaria com ela? — Ela buscou seu olhar, não querendo perder nenhum detalhe de sua reação, Micael ficou em silêncio, não fazia ideia da resposta daquela pergunta. — Responde, Micael!

— Não tem como responder uma coisa dessa! Isso é uma pergunta ridícula que adolescente faz "você me amaria se eu fosse uma minhoca?" — Deu o exemplo, estava atordoado. — Luiza morreu, eu não preciso escolher entre vocês duas! Para de tocar nesse assunto, isso me machuca, você consegue perceber? — Ele falou alto, exaltado. Não tinha costume de gritar com Luiza e pretendia continuar assim com sua relação atual. A loira tinha os olhos arregalados, parecia assustada. — Me desculpa por gritar, esse é um assunto doloroso, mesmo após meses.

— Me desculpa também. — Ela relaxou os ombros. — Não vou mais tocar nesse assunto. — Ele voltou pra cama e a abraçou. — Tenho medo de perder você, tenho medo de que alguém consiga influenciar você e te faça acreditar que é errado.

— Eu não quero ficar longe de você tanto quanto você não quer ficar longe de mim. Confia em mim! Já disse que sou louco por você! — Ela sorriu, contente com aquela breve declaração e então recebeu um beijo casto nos lábios. 

InevitávelWhere stories live. Discover now