Capítulo - 24

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      Freen Narrando


– Feliz Natal! – as pessoas gritaram ao meu redor, como se fosse o réveillon, um abraçando o outro, felicitando e desejando coisas boas.

Hipocrisia!

Uma grande e mer/da hipocrisia! As pessoas passam o ano todo com picuinhas, com briguinhas e egoísmo. Chega o final do ano, e todos são convertidos de bondade? Pelo amor de Deus! Como eles conseguem se aturar e se olhar no espelho diante de tanta falsidade?

Assopro, sentindo o cheiro da bebida alcoólica exalar da minha boca. Olho no meu relógio de pulso. Meia-noite. A hora em que as famílias se reuniam para a ceia. Solto uma risada embriagada ao olhar em minha frente, em que a minha taça de vinho branco estava vazia, as amêndoas estavam em uma cesta pequena artesanal e cascas de amêndoas percorria todo o balcão.

Essa era a minha ceia. Fazia muitos anos em que não sei o que é a magia do Natal. Acho que nunca soube. Aquele sentimento em que une á todos e a emoção preenche o coração numa sensibilidade incapaz de fugir... Aquele aperto no coração sadio ao escutar as músicas natalinas e toda a vontade de estar ao lado da pessoa por toda eternidade, não apenas no Natal... Nunca sentir.

E provavelmente, nunca sentirei.

Os meus olhos queimam com as lágrimas. Olho para baixo, olhando para as minhas mãos. Como seria sentir essa sensação? De plenitude e de amor extremo ao ter a sua família ao lado? Como seria?

Como seria passar um Natal ao lado de Rebecca, do Chris e de mais filhos que pudéssemos ter? Uma família grande, com aqueles casacos patéticos ou pijamas iguais que as famílias faziam questão de usar e tirar fotos para o cartão de Natal do próximo ano? Como seria a sensação de ter os filhos lhe chamando de mamãe e lhe abraçando no Natal? Como seria o sentimento de ver um sorriso de seu filho ao abrir um presente? Como seria ter alguém que verdadeiramente se importa contigo?

Já tive essa sensação de importar, de querer, de amar com a Rebecca. Mas, abrir mão de tudo por dinheiro. Sabe aquela frase tão engraçado que sempre roda pelo Facebook: "Dinheiro não compra felicidade, mas bem que eu queria ser triste e rica em Paris". Isso não existe. Até porque você pode estar no lugar mais lindo, mais romântico do mundo, esbaldando dinheiro, comprando a champanhe mais cara... Mas se você não estiver feliz, tudo aquilo ao seu redor se torna cinza. Tão cinza como a sua alma. É melhor não ter dinheiro, e ter felicidade e amor, do que ter dinheiro e não ter nada.

Demorei muito para entender isso, mas depois que entendemos, a miséria da nossa ganância cai sobre nós e é tarde demais. Dizem que "Nunca é tarde demais para recomeçar", mas como podemos recomeçar se a pessoa que queremos mais do que nossa própria alma não pode estar conosco nessa jornada?

Qual é o significado da vida se você não pode ter o amor?

– Vai querer mais uma taça? – o garçom perguntou.

Olho para a taça em minha frente, vazia. O meu reflexo cintilando nela... Revelando uma expressão de tristeza que faz meu coração se apertar mais. O que estou fazendo comigo? Quem é essa Freen que me transformei? Tão seca, tão vazia, assim como essa taça.

Balanço a cabeça em negativo para o garçom, e me levanto um tanto zonza. Ele me dispensa com um olhar e vai atender outras pessoas. Olho ao redor, sorrisos falsos, e corações vazios. Todos que estavam presentes, mesmo que tentasse mostrar felicidade não passava de uma ilusão.

Saio para as ruas frias, enervadas e repleta de neblinas de Seattle. Os meus pés afundam na neve que alcançam os meus joelhos. Felizmente estou com botas de cano alto, meias-calças, e vestido de lã com gola alto. Cruzo os meus braços, protegendo as minhas mãos do vento frio que parece cortar a minha face. Meus cabelos ficam molhados com as gotículas que caem, deixando flocos de neve em meus cabelos.

Respiro fundo, fazendo uma pequena fumaça pairar a minha frente.

Caminho sem destino, minha face fica dormente por conta do frio. Quase não sinto o meu nariz, mas sigo em frente. Não vejo muito á minha frente, a neblina parecia aumentar e o desconforto por conta do frio também. Não tem muitas pessoas na rua, nem me preocupo com a minha segurança... Natal parecia ser a época que em que até mesmo os marginais se dão folga.

Quando dou por mim, estou parada em frente ao portão ostentador do condomínio em que morei antes com a Alison... Em que Rubi morava antes de partir para o retiro e me deixar sozinha, onde a Irin e o Luke também mora. O condomínio dos ricos, em que uns dias atrás também morei.

O porteiro se inclinou para me olhar e ao me reconhecer, abriu o portão. Devia ser o espírito natalino que estava agindo... Caminhei pelo extenso condomínio, vendo pela janela as famílias da alta classe social de Seattle comemorando o Natal, até que parei em frente a mansão dos Dilaurentis.

Surpreendo-me ao ver a mansão tão iluminada. Nunca ficou assim, parecia quase infantil, mas destacava-se das outras, parecia se iluminar de diante de todas, as luzes chegavam longe, chamando atenção... A ornamentação estava linda. Incrível. Sinto-me o coração esquentar de tanta luz.

Bato na porta. Nada. Bato mais forte. Nada. Insisto uns minutos até que uma empregada abre a porta. Não lembro-me do seu nome, mas lembro-me de sua fisionomia.

– Dona Freen... O que faz aqui? – ela pergunta espantada.

– Rebecca. – digo com voz tremula por conta do frio, os meus queixos batem. – Onde ela está?

– Ela não está aqui. – a empregada informa, olhando em volta.

– Não está? Onde ela está? – pergunto de repente nervosa com a idéia de Rebecca ter ido embora e sumido da minha vida, novamente. – Foi embora para Itália?

– Não que eu saiba, Sra. Rebecca não informa para onde vai, apenas a assistente dela que tem todas informações, a Srta. Camila.

– E onde está a Camila?

– Viajou.

– E Rebecca foi com ela? – insisto na pergunta, sentindo o ciúme aflorar.

A empregada demonstra desconfortável com a pergunta, então, suspira:

– Não. Escute, a Sra. Rebecca saiu apenas com uma bolsa pequena, o seu passaporte está no quarto. Eu sei porque arrumei o quarto. Não sei para onde ela foi, mas pelo jeito não parece ter ido muito longe. Eu não sei.

Suspiro longamente, apertando mais os meus braços contra o meu corpo.

– Posso entrar? Por um momento?

Ela morde o lábio inferior e me olha com dó.

– Não, Sra. Freen. Não quero nenhum problema comigo. Se eu deixá-la entrar, meu emprego estará em risco, e dona Rebecca foi muito boa em não despedir ninguém. Não posso brincar com a sorte.

Meneio a cabeça em entendimento.

– A senhora quer que chame um táxi? – a empregada pergunta subitamente preocupada.

– Não, obrigada. – olho para o nada. – De toda via... Feliz Natal.

– Feliz Natal, dona Freen. – ela fecha a porta.

Volto a caminhar, sinto os meus pés desconfortáveis nas botas. Arrisco passar na frente da casa do Luke... Nada... Então, insisto na casa da Irin... Estavam todos lá... A janela panorâmica refletia os movimentos de todos. Todos, menos a Rebecca e o Chris. Um medo absurdo de que por ventura, a Rebecca tivesse ido embora me acometeu. Mesmo com todas os desentendimentos e confusões, não consigo imaginar a minha vida sem ela, novamente não.

Quando percebo, estou soluçando e as lágrimas caem pesadas dos meus olhos. Um misto de sentimentos massacradores pressionam o meu peito. Se a magia de Natal existe, a única coisa que eu queria pedir era um Natal, com Rebecca, com o Chris, com os meus pais...

Eu só queria isso!



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Enquanto o Natal pra alguns é perfeito, para outros nem tanto!

Resolvi trazer um capítulo de boa noite a vcs amores. Espero que gostem. 

Até amanhã 😘


El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Where stories live. Discover now