Charlie. Charlie. Charlie.

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Aylena

São quase sete da noite e ainda estou esperando Charlie vir me buscar com seu maldito Jeep azul. Devo ter ligado umas quatrocentas vezes, mas em todas elas ele diz a mesma coisa: "já estou chegando, Lenna", mas ele nunca chega, e as ruas aqui estão começando a ficar vazias.

Não sei por quê, mas esse lado da cidade me deixa extasiada. É como se algo aqui me atraísse mais que os outros lugares. Talvez porque meu pai tenha esquecido de pôr em andamento os projetos que tinha para esse bairro, deixando todos à mercê do improviso.

Já fiz vários trabalhos na faculdade sobre implementação de recursos extras em quase todos os bairros aqui, mas este foi o que me apaixonei. Tenho alguma ligação com esse lugar, mesmo meu pai odiando o fato.

Desisto de ficar parada feito uma idiota e começou a circular pelas ruas. Os prédios inacabados, as casas de tijolos expostos, os galpões pichados e abandonados, os carros com os vidros quebrados, os Pubs ordinários. Tudo aqui - por mais que "estragado" - me encanta.

Pego a câmera que trouxe para fotografar o evento de caridade mais cedo, e registro dos os prédios, casas, becos sem saída, carros abandonados e as ruas vazias. Ouço passos atrás de mim, coloco a câmera o mais rápido que consigo de volta na bolsa e continuo seguindo em frente. Dessa vez com passos mais largos.

- Ei! - uma voz grossa e incômoda ecoa pela rua.

Continuo andando, rezando para que Charlie apareça o mais rápido possível e me tire daqui. Estou ofegante.

- Ei garota! - a voz está mais alta, e mais próxima. Sei que ele está correndo atrás de mim.

Meus passos aumentam a cada segundo, e quando percebo já estou correndo. Não ouso olhar para trás, muito menos para baixo, o que me faz tropeçar e diminuir o passo, sentindo em seguida mãos ásperas segurando forte meus braços.

O hálito forte de cachaça barata encontra meu rosto e tenho que me forçar a não respirar.

- Hm, vamos ver o que você tem aqui nessa bolsa - o homem alto diz, e eu estremeço.

- Me deixa ir - solto quase sem som.

- Cala a boca! - ele ordena e puxa a bolsa de meu ombro.

Charlie. Charlie. Charlie. Charlie.

É tudo que tenho em mente. Estou rezando para ele aparecer. Implorando pra que os faróis de seu Jeep quase me ceguem e ele possa me ajudar - se bem que ele não consegue nem pisar em uma formiga, quanto mais me ajudar. Mas sou egoísta demais para passar por isso sozinha.

Ouço minha bolsa bater com força no chão, porém a máquina está nas mãos imundas do rapaz.

- Isso é caro - ele diz revirando a máquina como se fosse algo anormal.

- Me devolve, por favor.

- Você viu meu rosto.

Meu coração aperta e o ar começa a faltar. Sinto minhas pernas bambearem. Agora desejo que Charlie não apareça é que este homem não o machuque se ele chegar.

- Não, olha, eu não conto pra ninguém. Você pode ficar com a bolsa inteira. Juro que não conto - digo dando passos curtos para trás.

Sinto minhas costas se chocarem com algo. Merda. Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto balanço a cabeça em negação repetidas vezes.

- É um desperdício apagar você, sem aproveitar, não é mesmo? - ele diz com o rosto muito perto do meu.

Sua língua toca meus lábios e eu mordo o mesmo com força, sentindo o gosto de sangue na minha boca.

Na fração de segundo que ele se afasta, consigo soltar um grito esganiçado.

- SOCORRO!

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Olá, serumaninhos!! Espero que tenham gostado do capítulo, e não se preocupem que vem mais por aí!! Não esqueçam de comentar o que vocês acharam. Aceito criticas construtivas!!

Personagem acima: Aylena

Bjo Bjo.

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