Bullshit

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Aylena

A faculdade acabou mais cedo por causa de uma palestra que eu preferi não participar e vir para casa. Ainda não falei com meus pais sobre o meu termino com Nicolas, embora eles já devam estar sabendo já que os Haynes são tão indiscretos quando um elefante no meio da Times Square.

Fiquei a aula inteira pensando em todo o falatório de minha mãe assim que contar para ela que terminei com Nicolas, ou melhor, assim que eu por os pés em casa. Ela vai começar a falar um monte de porcarias como sempre, enquanto o mais vai implorar pra que ela vale a boca e me deixe em paz. É sempre assim. Sempre que eu faço alguma "merda" ela me julga, e ele nem me apoia, nem me vira as costas, apenas ameniza a situação e me deixa em paz. Eu adoro isso.

Com certeza ela liga mais para esse namoro do que o meu próprio pai, que é o oficial dono da empresa. Estou dando voltas no quarteirão vizinho ao meu para atrasar a minha chegada em casa, mas quando lembro que tenho estágio mais tarde decido não gastar todo o meu combustível andando em círculos. Estaciono o carro na garagem, mando uma mensagem para Zayn e entro em casa.

Maryl ainda está preparando o almoço, já que cheguei uma hora antes do previsto. Meu pai está no sofá, lendo o jornal - o que é novidade - e assim que me vê, me lança um olhar de "vou tentar ajudar". No medo instante ouço o barulho dos saltos finos de minha mãe, batendo contra a madeira  envernizada do chão. Ela se aproxima de mim, me observa por alguns segundos e finalmente diz:

- Você me deve uma explicação.

- Claro que devo. - digo, sem disfarçar a ironia em minha voz.

- Lenna. - meu pai me repreende.

- Eu entendo que o seu namoro não era lá o esperando, mas terminar? Terminar já é demais! É a gente como fica? A minha parceria! - ela solta a bomba de uma vez.

Respiro fundo, seguro o alto do nariz e tento manter a calma.

- Olha, mãe, eu não tenho culpa se o namoro não deu certo, ok? E eu tenho certeza que a parceria do papai parceria não vai acabar por causa disso. Seria idiotice. - digo, mantendo o tom de voz estável.

- Idiotice foi o que você fez! - ela grita - O Nicolas me disse que você terminou com ele porque estava gostando de outro cara! Que você traiu ele!

Olho para meu pai no mesmo instante, e pela sua cara deduzo que ele não sabia desse ponto da história. Sinto o alto do meu estômago doer. Nicolas foi mesmo capaz de pôr os meus pais contra mim por causa de um término idiota? Ele é muito mais baixo do que eu pensei. Um ódio percorre meu corpo e eu começo a mentalizar um monte de maneiras de matá-lo em minha mente, mesmo sabendo que não cumprirei.

- Foi um deslize!

- Um deslize que prejudicou o seu namoro e a minha parceria com a empresa dos Haynes! - ela aponta o dedo na minha cara - Eu não te criei para ser uma safada traidora!

- Caprice! - meu pai grita, e se aproxima de nós duas. - Olhe só como você fala!

- Deixa, pai. - digo - Escuta aqui, mamãe, primeiro: a parceria é do meu pai, e você não tem absolutamente nada haver com isso. Se eu traí o Nicolas foi porque ele não soube dar conta, e eu aposto que você teria feito o mesmo se tivesse que dormir com alguém que não ama! - agora estou gritando - Safada só se for igual a você, que tratou de engravidar aos dezesseis anos assim que soube o quão rico meu pai era.

No mesmo instante o peso da mão dela faz o meu rosto arder e eu não consigo controlar as lágrimas que caem do meu rosto.

- Sabe o que é pior nisso tudo? - ela diz - É que eu engravidei aos dezesseis anos para ter você!

- Chega! - meu pai berra - Pelo amor de Deus, já chega! Aylena, vá para o seu quarto agora, e Caprice vamos conversar!

Faço o que ele diz, deixando um soluço alto escapar dos meus lábios. Não acredito que cheguei a esse ponto. Eu já tive as minhas brigas com a minha mãe, mas nunca nada como isso. Eu nunca joguei nada na casa dela, assim como ela nunca jogou na minha, e isso dói muito aqui dentro. Dói saber que tudo isso está acontecendo porquê ela nem sequer liga para o que eu sinto. Só liga para o que ela vai ganhar com toda essa merda.

Jogo a mochila no chão do quarto e me jogo na cama. Deslizo as botas UGG pelos meus pés e enfio a cabeça no travesseiro, deixando as lágrimas rolarem. Pego o celular no bolso e vejo que Zayn ainda não me respondeu. Jogo o mesmo do outro lado da cama e fico repassando toda a discussão em minha cabeça.

O que mais me incomoda nisso tudo é o fato de Nicolas ter contado - em detalhes - tudo para minha mãe, como uma criança mimada que acabamos de perder o pirulito. Eu nunca imaginei que ele pudesse fazer isso por um capricho idiota. Eu o traí? Sim. Mas o que ele fez foi mais incômodo do que isso a traição em si. Ele fez isso para meus pais ficarem do lado dele, para que meus pais vissem que eu não sou nenhuma "santa", que eu estraguei tudo o que eles planejaram.

Eu vou matar ele.

Meu pai entra no quarto e eu viro o rosto para o outro lado. Ele se senta na cama e acaricia minhas pernas cobertas com jeans apertado de Safaa que Zayn me emprestou. Ainda estamos em silêncio e isso me incomoda muito. Quando meu fica por muito tempo em silencio, ele geralmente está pensando no que dizer, e quando alguém pensa muito significa que tem muitas coisas para dizer.

- Eu sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. - ele diz baixinho.

Viro-me para ele, o mesmo acaricia meus cabelos.

- Eu sou tão horrível assim? - digo, ainda chorando.

- Não, pequena. - ele diz com um breve sorriso - Você não tem culpa se aquele Nicolas é um chato. E confesso que não gostava muito dele, mesmo.

Dou um breve sorriso e ele coloca meu cabelo atrás da orelha. O silêncio volta, mas por um tempo menos que antes.

- Eu espero que esse novo cara seja legal. - ele diz.

Fico sentada na cama e coloco todo o cabelo sobre o ombro. Ele me puxa para perto e me abraça.

- Não se preocupe com sua mãe, apenas... Apenas viva o seu novo momento, ok? E quando a poeira abaixar eu quero conhecer esse cara.

- E a sua parceria? - indago.

Tudo o que eu me preocupo é em como ficarão as coisas para o meu pai.

- Só eu posso cancelar já que fui eu quem comecei. - ele dá de ombros e eu solto o ar - Mas então, como é o nome do rapaz?

Há uma pausa até que digo:

- Zayn.

Ele arregala os olhos e se afasta um pouco de mim. Franzo cenho.

- Tudo bem, pai?

Ele sacode a cabeça, ainda com aparência de surpreso.

- Sim, sim, sim. - ele diz, e pigarreia no final - Bom, ele tem um nome esquisito, mas mal posso esperar para conhecê-lo.

Ele me abraça logo em seguida e beija minha cabeça.

- Deve ser um porre ter só trinta e três anos e cuidar de uma garota problemática de dezenove.

- Você é o meu porre favorito, amor. - ele diz.

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Personagem acima: Caprice (mãe)
"Mal posso esperar para conhecê-lo." Acho que tu conhece, querido. KKKKKKKKKKK

Code of Honour • Z.MWhere stories live. Discover now