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Aylena

Estou sentada na cama de Zayn há alguns minutos, sentindo a mão pesada da mãe de Harry tratar meus machucados. A mulher de chama Anne. Eles disseram a ela que eu fui assaltada ao sair de uma boate, e eu tive de concordar.

Meus olhos estão ardendo, minha bochecha está doendo e minha boca está com gosto de pomada. Sinto também uma dor aguda na extensão da nuca, mas Anne disse que eu ficarei bem. Meus joelhos estão roxos. Não sei se fico com raiva de Zayn, xingo ele ou agradeço por ter aparecido bem na hora e ter matado Magnum. Ele soprou um "eu te amo" em meu ouvido seguido de um "nunca ia deixarei você", e isso me tocou muito, embora esteja bem chateada com ele por causa de toda essa situação.

Anne diz que já acabou o que tinha para fazer em mim, me manda ter cuidado nessas boates e sai do quarto. Zayn entra em seguida, agradecendo à mulher e chamando-a de tia. Ele fecha a porta. Evito olhar em seu rosto e abaixo a cabeça, mantendo o olhar fixo em meus pés sujos. Ele não me força a levantar a cabeça, apenas puxa uma cadeira e se senta à minha frente. Sem dizer nenhuma palavra sequer. Eu queria abraçá-lo. Mordo o lábio inferior, me arrazoamento em seguida ao sentir a dor e o gosto da pomada. Sei que Harry foi buscar o meu carro na frente da boate onde tudo começou, e eu começo a mentalizar um monte de desculpas que terei de dar aos meus pais. Odeio mentir desse jeito.

- Me desculpe por tudo isso. - ele finalmente diz, quebrando o silêncio e atrapalhando meus pensamentos.

Olho para ele, observando os hematomas em seu rosto e o enorme curativo em seu ombro. A manga, que devia estar ali, rasgada. Um mancha redonda de sangue está no centro do curativo e meu estômago embrulha.

- Por que? - indago e ele ergue uma sobrancelha - Porque me deixou passar por isso?

- Eu tive medo de perder você. Eu... Eu só... - ele chora e abaixa a cabeça, deixando um soluço escapar - Eu fiquei com tanto medo.

- Você ficou com medo? - indago sem disfarçar a irritação - Eu quase morri com uma bala na cabeça. Eu apanhei de um homem nojento e sem escrúpulos. Tudo isso porquê você não me disse a verdade.

Ele enxuga as lágrimas com as costas da mão tatuada. Olho para o relógio na cabeceira da cama e vejo que são quase três da madrugada, só então percebo os meus olhos pesarem. Harry aparece na porta com a chave do carro, meu celular e umas notas de cem dólares na mão. Agradeço e ele sorri de canto, meio preocupado, voltando a nós deixar à sós.

- Me dê a chance de te contar tudo. Eu sei que pode não adiantar mais, mas, por favor, me deixe te contar. - ele diz.

A oferta é tentadora, e eu realmente quero saber a verdade. A frase de Magnum ecoa pela minha cabeça: "imobiliárias famosas em NY". Eu tenho porcentagens consideráveis de certeza que meu pai está envolvido nessa merda toda.

- Pode começar. - digo.

Ele suspira.

- Quando eu tinha sete anos, os meus pais começaram a passar dificuldades em casa. Minha mãe estava desempregada, grávida e o salário do meu pai mal dava para pagar as contas. A gente mal tinha o que comer, e minha mãe ficava doente quase sempre. O leite do peito dela começou a escorrer e tinha uma cor horrível. Então quando eu completei oito anos, Safaa já tinha nascido, meu pai recebeu uma proposta de um amigo. Esse cara seria preso e condenado à morte por um monte de crimes horríveis, e a proposta era que meu pai tomasse para ele os negócios. Esses negócios? Bom, acho que você sabe. Produção e tráfico de drogas. Depois de um tempo o dinheiro começou a entrar e as coisas foram melhorando. Eu finalmente estudei numa escola particular e tinha os brinquedos bem caros, daqueles que todas as crianças querem ter. Compramos essa casa, tínhamos um carro superfoda. Estávamos ricos. Os anos passaram mais e eu fiz treze anos, eu acho. Foi nesse dia que nós fomos até Hell's Kitchen, onde tinha uma lanchonete que vendia o meu sanduíche favorito. Era meu aniversário. - ele está se segurando para não chorar, ao contrário de mim - Estávamos tão felizes. Meu Deus. Ouvimos uns barulhos altos e todos na lanchonete começaram a se desesperar, então alguém gritou que era tiro e meu pai nos arrastou para fora da lanchonete. Queríamos chegar até o carro, mas parecia uma chuva de balas. Eu só vi meus pais caírem no chão. Eles morreram na hora... Eu não tive tempo nem de dizer "tchau" ou "eu te amo" ou até mesmo agradecer pelos presentes de aniversário. Eu não pude nem acompanhar o último suspiro deles, se não ia morrer também e... - ele para e um soluço ecoa pelo quarto. - Eu tinha que... Eu tinha que continuar fazendo dinheiro para mim e Safaa. Não tínhamos nenhum parente. Todos os meus avós já tinham morrido, minha mãe não tinha irmãos, meu pai tinha um, mas ele é alcoólatra e já deve estar morto. Então eu...

Levanto da cama e vou em sua direção. Faço o esforço de me ajoelhar e abraçar o garoto.

- Zayn, eu... - ele me interrompe.

- Eu vou continuar. - ele respira fundo - Ok... Os anos passaram, e graças ao meu pai, o dinheiro era o suficiente até eu completar dezoito anos. Foi quando eu construí a boate com a ajuda dos caras. A coisa toda cresceu e o resto você já sabe. Sobre o Magnum, bom, ele era um comprador influente. Ele sempre escolhia as minhas drogas, os meus meios de transporte, tudo. Até que esse último pedido foi roubado por baixo de nossos narizes e ele não aceitou negociar. Então Louis teve a ideia de produzi drogas falsas e mandar para ele, só que ele descobriu e usou você para me atingir. - há uma pausa - Bom, ele conseguiu. Me desculpe.

- Meu pai. - digo - O que ele tem haver com isso?

Ele me olha receoso e eu insisto. Ainda ajoelhada na sua frente.

- Ele precisava de verba para ajudar a terminar os projetos de melhoria nos guetos, e nenhuma empresa ou sistema governamental queria investir, então ele me propôs isso. Mas olha, ele não tem nada a ver com essa merda toda, ele só conta com a minha ajuda em seus projetos que também são de meu interesse. Não brigue com ele.

Levanto do chão e começo a andar de um lado para o outro. Tudo isso é terrível. Toda essa história, essa situação caótica. Para o meu pai precisar buscar verbas em outro lugar, significa que as cosias não estão tão boas na empresa, o que me faz sentir culpada por desistir de Nicolas. Que por sinal, nunca mais vi. Eu não sei o que fazer ou o que pensar a respeito disso tudo. Eu perdoo Zayn por isso, até porque eu sei como eu teria agido se ele tivesse me contado. Mas não sei se posso continuar com isso. Não quero passar por isso de novo.

Ele se levanta da cadeira e parece meio perdido, sem saber como agir. Então eu digo:

- Me leve para casa.

Ele não hesita em concordar e pega minhas chaves do carro. Vamos o caminho inteiro sem dizer uma só palavra. Na verdade eu fiquei de olhos fechados o caminho inteiro, tentando dormir, apesar de não ter tido êxito. Ele estaciona o carro na garagem e eu desço do medo, sentindo uma dor horrível nos meus joelhos. Zayn tranca o carro.

- O que eu digo? - pergunto.

- Seu pai sabe. - ele diz - Eu liguei quando planejava ir até você. - há uma pausa - Na verdade, eu quem tenho que pensar no que dizer.

Balanço a cabeça em concordância e respiro fundo antes de abrir a porta. Meu pai está andando de um lado para o outro, e assim que me vê corre para me abraçar. Retribuo o mesmo e me sinto bem tranquila ao sentir o seu cheiro em mim.

- Minha pequena - ele diz com uma voz melancólica - Eu estava com tanto medo.

Permaneço calada. Digo que vou para o quarto, e Zayn permanece de frente para meu pai.

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Com certeza, se fosse comigo eu ainda ficaria com ele, porque eu sou louca e gosto dos garotos perdidos.

Code of Honour • Z.MWhere stories live. Discover now