Capítulo 15

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Meu pai chegara mais perto de mim, e colocara a mão em minha cabeça. Levantei a cabeça escondida entre os braços, e deixei ele avistar minha tristeza.

— Filha, você não sabe controlar totalmente seus poderes. Já pensou se sem querer, você se revela? A sociedade teria medo de você, e estaria em perigo. - Tentou confortar-me. — Olha, o papai vai brincar com você depois que terminar o projeto.

— Vai demorar? - Falei secando as lágrimas, e com um pouco de medo em meu pai não cumprir a promessa.

— Não. Mas olhe, vá com sua mãe até o mercado, pode ser?

Balancei a cabeça olhando pra minha mãe. Ela sorria enquanto me estendia as mãos.

A antiga eu, saiu de casa em direção ao mercado com a mãe. Mas de repente, tudo, tudo começou a desmontar feito um quebra-cabeça. Metades e metades de partes da lembrança em que eu estava, saíram voando para o nada. E cada vez mais rápido, elas se desmontavam.

Comecei a correr, chegando ao máximo que conseguia. Estava cada vez mais rápido. E em um momento, senti pisando em nada. Cai para um "vazio", parecendo o espaço, "infinito". O-ok. Agora, vou ficar caindo durante anos até morrer naturalmente?

Mas não foi isso que aconteceu. Estava deitada em um chão. Me levantei e olhei para o tal lugar que estaria agora. Ou melhor, a tal lembrança. Tudo se encontra preto e branco, menos a mim. Eu não lembrava disso, sinceramente. Andei um pouco,  sem rumo. Até estar em frente ao hospital que se encontra meus pais, nesse presente. Fiquei um metro, mais ou menos de distância do hospital. Não tendo mais opções de caminhos. Pois, tudo virou aquele "nada", deixando apenas caminho a minha reta. O caminho do hospital.

Fui até a recepcionista, perguntando pelos meus pais. Ela não respondeu. Parecera nem ter me visto. Encostei meus dedos em seu braço, ou pelo menos tentei. De novo aquela frescura de ser um "recém-espírito".

Subi para o andar e o quarto onde estavam. Alguns minutos subindo a escada, e alguns segundos andando até o quarto. Bati na porta, sendo um espírito educado, mesmo não me vendo ou ouvindo. Com dois toques, prestes a dar o terceiro, meu braço amolece. Lá estava... Eu? Sentada em uma cadeira, conversando com meus pais:

— MÃE, EU NÃO TE ENTENDO!

Me assustei quando 'gritei'.

— Filha, se acalme!

— ME ACALMAR?! VOCÊ VENDEU A NOSSA CASA!

Oi?

— FILHA, NÃO GRITE COM SUA MÃE!

— VOCÊ, CALA A BOCA. EU... EU AINDA NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO!

— Filha, eu precisava! Não tínhamos dinheiro suficiente para pagar a conta do hospital.

Provavelmente, eu não sou agente aí.

— MESMO ASSIM, DEVIA TER ME DITO!

Meu pai se levantou, estando bem fraco. Isso deu pra perceber. E foi em direção a mim (não eu bem eu). E a Dayana, o empurra contra a parede.

Mesmo sendo um espírito, fui até meu pai fazendo de tudo para ajudá-lo.

— VOCÊS SÃO PAIS HORRÍVEIS! -Disse tirando um estilete do bolso dá calça.

Fui até o ouvido da outra eu, e cochichei: Não faça isso! Não deixei a raiva te vencer, Dayana.

Mesmo assim, não foi o suficiente. A outra eu, encravou o estilete na barriga da mãe. Logo depois, indo em direção do pai, que implorava por misericórdia. Logo após o ato, deixou o hospital toda ensanguentada. E deixando a mim (verdadeira), em total vontade de chorar. Era horrível ver a imagem dos meus pais, ali, mortos por mim mesma.

Fiquei de joelhos, colocando as mãos na cabeça e chorando. De repente, palavras ofensivas começaram a ser ditas com a voz dos meus pais, e de outros conhecidos. Gritei, e gritei muito!

Mas algo estava acontecendo a mais. Me levantei apesar de todo desespero. Fechei os olhos, e apontei para o "nada" que se encontrava um fundo preto. Respirei tentando ficar tranquila enquanto secava as lágrimas com o braço. Dizendo três únicas palavras:

— Não fui vencida!

IDENTIDADE ZEROWhere stories live. Discover now