III

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A minha boca fala o que não deve.
Fala o que não pode.
Não me desespero.
Um batom borrado limpa mais fácil
que uma alma ferida.
Lembra daquela despedida?
Doeu.
Chorei.
Gritei.
Senti.
Mas passou.
A minha boca disse adeus.
O meu coração implorou sua volta.
Tarde demais.
Aquele dia foi raro.
Eu sorri de verdade.
Porém, foi um sorriso caro.
Aquele batom forte me deixou mais bonita.
Ou será que foi só o que eu senti ao usá-lo?
Não interessa.
Não tenho pressa.
Tomei um café na esquina.
O meu batom ficou na xícara.
A minha marca.
O meu registro.
No meu sorriso ele embarca.
Tropeça.
Afunda.
Se afoga.
Eu disse, não sou boa em cultivar pessoas.
"Basta você sorrir", disseram-me.
É uma pena, acho que de boca fechada o delineado do batom é mais bonito.
Cuidado.
Não diga que não avisei.
Não se apaixone por mim.
Será o nosso fim.

Transbordo, logo escrevo.Où les histoires vivent. Découvrez maintenant