XCIII

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Era.

Você me fez sentir semana inteira, quando eu era só domingo. Você me fez acreditar ser entrada e permanência, mas eu era saída. Era teu jogo de bilhar de bolas ímpares de sexta-feira à noite, mas não era teu baralho de sábado no almoço de família. Eu era o funk que tocava à noite no teu carro com cheiro de Malbec, mas não era a MPB que você escuta quando tá sozinho. Era o teu contato menos importante, o que você respondia por último ou deixava no vácuo, mas não era aquele que você vibrava ao receber mensagem. Era sol no teu céu de estrelas. Era vodka barata na galeria de vinhos importados. Era manequim na tua loja de móveis. Era neve no teu jardim descoberto. Era peça no teu quebra-cabeça já completo. Era música alta no dia da tua enxaqueca. Era névoa na estrada que você passava a 120 km por hora. Era livro de química quando você queria romance clássico. Era foto quando você queria um álbum. Era cerveja vazia na tua sede pós-jogo. Era farda no teu dia de folga. Era ligação inesperada quando teu celular estava desligado. Era atraso no dia em que você era pontual. Era abraço apertado no dia em que você torceu o braço. Era risada alta no teu dia de tristeza.
Era tudo o que você não queria até eu deixar de querer.
Então, as cartas mudaram e o jogo virou. Mas tinha um pequeno grande problema: Eu já tinha terminado o jogo.

Transbordo, logo escrevo.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora