CLXXXI

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Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele passageiro
que dorme e se contenta
com o destino final?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele espaçoso
que ocupa dois lugares
porque não sabe o seu?
Se a vida fosse o ônibus
você seria aquele que de todos cobra
e nada paga?
Se a vida fosse um ônibus
você seria o senhor sentado a janela
que sorri agradecido a ela?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele que passa o caminho falando
sem calar um instante
pra ouvir os pássaros que cantam?
Se a vida fosse um ônibus
você seria o moço que encena
com quem lhe interessa
mesmo sabendo o fim da peça?
Se a vida fosse um ônibus
você seria o que permanece o caminho sentado
sem um segundo olhar pro lado?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele que fala
sem esperar resposta
que elogia
sem precisar de aposta?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele que fala de tudo
pra todos
sem saber um terço
do que diz?
Se avisa fosse um ônibus
você seria o que reclama do sol
ou o que agradece a luz?
Se a vida fosse um ônibus
você seria quem canta a canção favorita
sem se preocupar com a plateia
ou a falta dela?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele que conta histórias que passaram
a todos que passam?
Se a vida fosse um ônibus
você seria aquele que puxa o sinal
sem estar perto do destino final?
Se a vida fosse um ônibus
você seria quem conversa e sorri pra todos
sabendo que nada tem em si?
Se a vida fosse um ônibus
você seria o motorista
que sabe o caminho e o fim,
mas continua?
Se a vida fosse um ônibus
você dirigia com menos pressa
pela obrigatoriedade da regulação de velocidade
ou tentaria ao máximo, o inviável,
apressar o inevitável?

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now