LXXXIX

359 45 10
                                    

Mensagem não enviada.

Quantas vezes eu entrei na sua caixa de mensagens e fiquei, por horas, esperando uma mensagem que nunca chegaria? Quantas vezes eu te vi online, digitei e apaguei? Quantas vezes eu enviei, apaguei a conversa e fingi que nada tinha acontecido? Eu sempre soube que tua mensagem não chegaria.
Sabe, seria cômico, se não fosse trágico, dizer a você que recebi e ignorei todas as suas mensagens de quando me viu com outro alguém, e só então se deu conta. Foi quase o que aconteceu comigo. Mas você lembra das vezes em que estávamos juntos, você me tocou e eu não te senti? Lembra das vezes que sua mensagem foi enviada, mas eu não quis ler? Eu lembro.
Anne Frank me disse que "Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão." E, eu digo que a culpa é amiga do orgulho, assim como o amor é amigo da insanidade. Não entendeu? Eu explico.
Sabe todas as vezes que você se sentiu mal por ter me feito promessas e nunca cumprido nenhuma? Teu orgulho foi maior do que a culpa. Você não me mandou mensagem. Sabe todas as vezes que você chorou ao ler o que te escrevi atrás daquela foto? Tua culpa superou o orgulho. Você mandou a mensagem. Agora, o mais importante, lembra de todas as minhas mensagens e ligações às 3:31 da madrugada? Eu não estava sã. As garrafas de vodka vazias corroboram isso. Eu poderia te dizer que sinto falta, que sinto saudades, que te quero. Mas diferente de você, eu não sei mentir.
Essa mensagem não será enviada, porque não sinto culpa, mas tenho orgulho. Orgulho de dizer que a frase de Ana Müller que soa sempre que penso em você se tornou mantra, "Eu desejei viver pra lembrar, o quanto eu fui mulher pra esquecer..." Essa será apenas mais uma mensagem não enviada, do grupo oculto do meu celular, que nem eu ouso tocar.

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now