CLVIII

199 30 1
                                    

Game over.

Hoje é um daqueles típicos dias que você apareceria no meu portão com um convite pra café e vários dvds na mão. Você sorriria, elogiaria a bagunça ambulante que eu sou e deixo transparecer nas roupas velhas e grandes demais. Você me contaria como foi seu dia, que estava ansioso pra ver a chuva cair e ver as folhas daquele jambeiro serem levadas, espalhando aquele tom de rosa por aí. Você me mostraria as fotos que tirou de todo e qualquer lugar que passou e eu agradeceria por dividir o teu mundo tão singular comigo. Você pediria pra entrar, sem pedir licença entrar nesse cômodo mais bagunçado que meu cabelo e minhas roupas chamado coração. Você entraria, faria morada e eu ia te servir de abrigo. Você me abraçaria apertado e nossas batidas quase tomariam o mesmo ritmo de descompasso. Você colocaria as comédias românticas pra passar na tv, porque sabe que são as minhas favoritas e discutiria comigo o motivo de ser absurdo o fato do casal se encontrar justamente na hora exata. Nós nunca fomos pontuais – que isso fique ambíguo. Nós éramos quase uma imagem criada, gostávamos da companhia um do outro, mas não gostamos de ser companhia. Nós odiávamos atrasos, mas chegar na hora era tipo pedir pra apagar o sol, impossível e insano. Nós gostávamos do jogo, esse de seduzir além do corpo, de fazer ter vontade de contar o dia inteirinho e ainda assim pedir pra ficar mais. Precisamos conversar, nem que fosse por emojis aleatórios. Nós gostávamos de sermos os jogadores, mas não a plateia, precisavamos ser protagonistas exaltados pelos quatro cantos do mundo ou do bairro. Mas como em um jogo de dominó, a última peça em mãos é que vale. E a nossa última peça foi descobrir que o amor é algo bem maior do que o desejo nos faz crer. Amor é querer deixar de tá perto, mas ainda assim ficar, porque sabe que esses momentos ruins não vão durar. Esse dia nublado, seria um dos típicos dias que encontraria você no meu portão, mas eu confesso, descobri quando te vi sair pela porta e não tive vontade de ir atrás: eu nunca amei você.
Amor não acaba e tampouco tem fim, mas a gente teve, game over.

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now