CXLVI

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Oceano que não cabe em copo.

Minha insônia grita teu nome e cria conversas imaginárias que nunca vão passar disso, imaginação. Meus pesadelos tem teu sorriso e tuas palavras da boca pra fora que insistiam em sair quando meu coração tava te ouvindo, sem proteção. Minha colcha de cama nova, sem teu cheiro e lembranças imploram pelo macio do teu corpo aquecendo a minha pele. De forma tão magnífica e plena quanto estávamos aquele dia em que ficamos pra ver a lua na madrugada, em frente à cidade, com duas garrafas e as mãos entrelaçadas–prova física do nosso laço, enquanto gritávamos juras de amor que depois seriam levadas pra longe com ou sem o vento. Meu cartão de visitas almeja pelos lugares que ficamos de conhecer, mas nem sequer saímos do lugar. A zona de conforto deve fazer jus ao nome,mas eu não me sinto bem sem olhar pro lado direito da cama e não ver teu corpo nu esperando o aconchego do meu, depois de um café e um filme que me deixaria chorando por dias. Eu tô ouvindo a nossa música, mas não existe mais nós. Não tem eu e você, tem você lá e eu cá,a uma distância suficientemente segura para que não ouça meu choro abafado no urso verde que você vivia tirando da minha cama. Meu coração tá implorando tua volta com cara de quem sentiu saudades, com abraço apertado, cheiro de banho recém tomado e cabelo bagunçado porque você odiava arrumar. Meu orgulho tá te mandando embora a cada batida do meu coração e o meu maior dilema é: te amar sozinha e sentir por dois ou te odiar e te apagar da minha vida como apaguei os cigarros que estão espalhados pela casa? São 1:42 da manhã e nada que eu faça me permite dormir. Reli nossas conversas antes de apaga-las e fico me perguntando o que aconteceu. Você esqueceu delas, de mim ou os dois? Tudo aquilo era só mais um conto romântico das histórias que eu adoro inventar e você adorava ouvir?De tanto falar e repetir, você chegou a acreditar?Eu preciso de respostas,mas tenho certeza que essa garrafa vazia não vai me dá-las.Ah,não se preocupe,eu só preciso de respostas,não de você. Me deixe bêbada,mas não me deixe amar alguém como você. Afinal,você não merece nem uma dose do que bebo agora. Quem dirá um gole de mim,oceano que não cabe em copo porque transborda.

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now