Transbordo, logo escrevo.

LXXXI

Não sei mesmo

Sempre ouvi que janelas nos faziam pensar bastante, nunca levei tão a sério, até hoje. Na janela do carro o trajeto que me era tão comum me trouxe pensamentos que ainda não tinham aparecido, e é estranho sentir isso. É ruim chegar a conclusão de que não pertenço a um grupo, logo eu, que adoro laços. É péssimo saber que não costumo manter as pessoas por perto por muito tempo, porque não quero e porque não mereço. É sério, é difícil mas é a realidade. Eu não sei manter ninguém por perto, não sei dar conselhos e muito menos ajudar na hora que precisam. Eu não sei dizer que tudo vai ficar bem porque eu odeio mentiras e garantir o futuro a alguém é uma das grandes. Eu quero ter por perto,mas não quero manter. Mas eu não sei. Não sei deixar que as pessoas se aproximem o suficiente para saberem que dentro dos meus livros favoritos tem coisas importantes. Não sei deixar chegarem perto a ponto de terem uma foto revelada no meu quadro roxo. Não sei deixar que me descubram porque me sinto segura coberta. Não sei ser amável por muito tempo e não sou fã de muitas mudanças. Não sei deixar que se aproximem para saber o significado das datas e meses grifados em vermelho que eu preguei na parede do meu quarto. Não sei deixar que mexam na minhas coisas porque estariam mexendo em mim. Não sei ser porto porque prefiro ser navio. Não sei ser âncora porque prefiro o movimento. Não sei ser porto seguro porque nem segura eu sou. Não sei ser a menina sorridente das fotos sempre, porque tá tudo bem ficar triste. Mas, o principal é que não sei ser brisa leve, chuvisco, sou sempre avalanche. E, não sei muitas coisas. Inclusive, não sei porque estou editando tudo isso sem querer parar de escrever. Não sei ser eu, não sei ser tão forte quanto aparento, não sei ir dormir sem ter a merda da insônia. Não sei esquecer você(s). Não sei ser importante na vida de alguém. E dizer isso é como arrancar a porra do dente que me doía a semanas. Dói, mas alivia.
É, não sei mesmo não sentir ao extremo, canceriana por excelência, prazer.