Transbordo, logo escrevo.

LXI

Carta para quem nunca lerá.

(Foi por mim).

Oi, amor. Tudo bem? Depois de tantos anos, resolvi falar da única coisa que me nego a fazer. Falar de mim. Meu medo sempre foi falar mais de você do que de mim, porque era isso que eu sentia. Sentia que você estava aqui pra me dar uma identidade. Uma essência. Errei. Erro. Meu maior erro. Então, quero que saiba que não. Você nunca me deu essência, eu não mudei por você. Foi por mim. Foi por mim que parei de te mandar mensagens desesperadas. Foi por mim que parei de ouvir a "nossa música". Foi por mim que mudei a cor do cabelo. Foi por mim que mudei de rota, e não, eu não falo só da rua 4. Foi por mim que deixei ficar quem merecia. Foi por mim que passei a sorrir como se não houvesse amanhã. Foi por mim que o sofá da sala voltou pro lugar. Nunca devia ter deixado você tirar. Nunca devia ter deixado você entrar. Foi por mim que parei de me dedicar inteiramente a quem nem é inteiro. Foi por mim que parei de olhar teu perfil das redes sociais. Foi por mim que desativei a opção de visto por último. Foi por mim que parei de me achar insuficiente pra alguém. Foi por mim que tirei a saia empoeirada do guarda-roupa. Foi por mim que mudei a cor do batom. Convenhamos, vermelho sempre caiu bem em mim. Foi por mim que comecei a escrever está carta, e é por mim que vou continuar. Foi por mim que contei a verdade pra todo mundo. Você não me traiu, mas traiu o "nosso amor". Hoje eu sei que dentre 7 dias da semana, "ser amada" apenas na quinta não é amor. É, foi por mim. E sempre será por mim que vou querer mudar e melhorar. Porque se você não foi capaz de continuar do meu lado porque eu era demais e você não conseguiu me fazer de menos, eu dou graças. Porque nem sentir algo por isso eu sinto.
Foi por mim que aprendi a ser intensa com quem sabe ser pote sem fundo.
Foi e é por mim, que nunca mais te escreverei.
Sempre será por mim, ex amor.